Aproximando-se o final do ano escolar e da época desportiva de muitas das modalidades desportivas dinamizadas no nosso país, inevitavelmente emergem as decisões

e os momentos mais esperados: alunos que se preparam para as suas provas finais de exame, atletas e equipas que decidem títulos nacionais, grupos equipa do desporto escolar que disputam campeonatos regionais e nacionais. Tudo converge para um suposto conjunto de pontos altos do ano.

Na minha modesta, mas sentida opinião, parece-me muito ponto alto ao mesmo tempo, tendo em consideração a importância relevante de cada um deles na formação de um jovem praticante desportivo. Podemos imaginar o que seria colocarmo-nos no lugar de um estudante do 12º ano, que durante o mês de Maio integra um grupo equipa de uma modalidade coletiva do Desporto Escolar e com ele disputa o Campeonato Nacional. Até aqui tudo bem. Mas se pensarmos que durante o mês de Maio o mesmo estudante realizará as últimas provas de avaliação escolar (podendo estas determinar alterações na classificação interna final do aluno) e ainda tem o privilégio de pertencer a uma equipa federada que disputará a Fase Final do Campeonato Nacional da mesma modalidade coletiva, problemas acrescidos surgirão certamente. Estamos de facto perante um aluno de sucesso, ao qual lhe exigimos num espaço tão curto de tempo que se foque em três aspetos decisivos para o caminho que decidiu traçar.

À semelhança de grandes equipas, em que o envolvimento em várias frentes competitivas leva o treinador a gerir equilibradamente o plantel para tentar ganhar o máximo possível, também este jovem terá uma gestão difícil de pontos altos. Porém, poderá não ter essa capacidade, assim como muitos jovens, que por este Portugal lidam com a necessidade de se gerirem a si próprios. O tempo escasseia perante tremenda exigência.

Para ilustrar este exemplo, recordo um episódio de uma equipa de Basquetebol de formação, que disputava uma jornada da fase zonal do campeonato nacional – zona sul e, simultaneamente, disputava a norte a possibilidade de ser campeã nacional do desporto escolar. Tudo isto em pleno mês de avaliações escolares importantes.

A felicidade de poder dispor de capacidade logistica para gerir a situação conduziu a que 5 jogadores partissem para sul com o seu treinador para cumprir a calendarização da prova federada, enquanto, ao cronómetro, outro treinador aguardava numa área de serviço da auto estrada que nada falhasse temporalmente na chegada dos restantes 7 jogadores, vindos do campeonato nacional do desporto, realizado bem a norte do país. Também eles com outro treinador. De facto, podemos dizer que a jornada até nem correu tão mal como se poderia imaginar. Os 5 heróis bateram-se 20 minutos com uma das melhores equipas nacionais a sul; e a norte, os outros  7 quase traziam ainda a sensação de terem estado a um cesto de serem campeões. Pelo meio, combustível, treinadores/professores disponíveis e a sensação de que se vivia uma situação privilegiada.

Triste será pensar que em muitos outros contextos desportivos escolares e federados muitos atletas conjugam de forma herculeana participações desportivas escolares de relevo, desempenhos académicos e participações desportivas federadas, sem os recursos que possibilitaram resolver o exemplo real acima referido. Tudo isto sem que os que decidem e lideram se sentem e pensem numa lógica coordenada para a formação desportiva dos jovens portugueses. Não há desporto mais importante ou menos importante, não há atividade escolar mais ou menos importante. Há sim uma necessidade imperiosa das pessoas que podem contribuir para se tomarem decisões se sentem e possam “partir pedra” no sentido de se entender de uma vez por todas o que é que queremos fomentar na prática desportiva infanto-juvenil. Talvez seja possível inovar-se e encontrar um patamar de entendimento entre o papel dos clubes desportivos e do desporto escolar. Podemos estar todos a trabalhar para o mesmo fim, aniquilando completamente recursos de cada uma das partes.

Em tempos de poupança, estratégia e rentabilização de recursos, vale a pena pensarmos e discutirmos o essencial.