A qualidade do jogador está directamente relacionada com o que ele produz dentro do campo mas também com a sua vida fora do campo.

Já falei num artigo passado sobre a importância dos horários na vida de um jovem atleta, tanto horários escolares como os horários dos treinos. Agora irei falar sobre os horários dos jogos.

Todos os atletas, treinadores, árbitros e outros agentes do jogo sabem que os treinos são importantes, mas nada supera a adrenalina do jogo. No fundo é para isso que todos treinam, mas no caso de Portugal os horários são sempre um problema por falta de pavilhão, por falta de horários das equipas ou por falta de consenso de ambas as partes.

Embora existam datas pré definidas para os diferentes escalões, estas datas muito dificilmente são cumpridas, fazendo com que exista um autêntico “engarrafamento” de jogos entre as 14:30 de Sábado e as 18:00 de domingo, até porque os pavilhões à disposição não servem exclusivamente à nossa modalidade.

Uma coisa que sempre me fez alguma confusão é a proibição de jogos ao Sábado de manhã (com a excepção de minis e sub13) pois penso que podia ser um bom horário para realizar jogos, sem este horário, torna-se mais difícil enquadrar todos os jogos em menos de 24 horas. Para dificultar ainda mais os clubes, os diferentes escalões têm diferentes destinos com uma logística, por vezes complicada quanto a horários.

Embora os pontos focados anteriormente são para mim importantes e relevantes, o mais relevante é o facto que o canalizar estes jogos em tanto pouco tempo faz com que exista um distúrbio na vida familiar de cada atleta. A semana já é de um desgaste grande para pais e jovens com horários escolares/horários de treino, o fim de semana especialmente para os mais novos traz jogos (quase) sempre às 09:00 da manhã ou num período muito cedo, o que implica que os pais e jogadores tenham que continuar ao fim de semana com a sua rotina semanal.

O formato italiano é de veras interessante. Para o basquetebol italiano (e nem todas as regiões são iguais, mas muito parecidas) a formação joga predominantemente durante a semana, com sub20 a jogar à segunda-feira, sub18 à quarta-feira, sub13/14 à sexta-feira e deixando apenas 1 escalão (sub16) para jogar ao fim de semana.

Este horário permite duas coisas acima de tudo: liberdade quase total do fim de semana para passar com a família e liberdade quase total ao fim de semana para acompanhar os  jogos dos seniores das equipas da sua cidade e/ou arredores.

Claro que estes horários só são possíveis quando se praticam os horários escolares falados num artigo anterior.

Se é por causa dos horários dos jogos que o basquetebol português ainda não atingiu outro patamar? Não só, mas também.

No geral, temos uma grande capacidade de não conseguir fazer projectos a médio longo prazo e acima de tudo temos o dom de não perceber que sem uma base sólida e muito, muito numerosa, o caminho nunca será o mais correcto, até porque se os países mais evoluídos na modalidade têm em comum o facto de ter um número enorme de praticantes na sua base, não será o caminho que estamos a fazer que irá mudar o paradigma.

Precisamos urgentemente de colocar o principal interveniente do jogo, O ATLETA, à frente de tudo o resto, ele é o principal, tudo tem que girar à sua volta e só assim tudo o resto seguirá.
 
Nuno Tavares
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