Ser-se atleta, de qualquer desporto, requer dedicação, talento, trabalho, e estruturas que o desenvolvam, sejam elas clubes, federações ou até a prática informal da modalidade.

Os tempos de hoje, já não são os tempos de antes, as tecnologias, o sedentarismo, e a sociedade em si mudou. Os jovens enfrentam outros desafios, que não enfrentavam os seus pais e, como tudo na vida, traz as suas coisas positivas e negativas.

O desporto também sofre com os tempos modernos, e os treinadores bem o sabem. Antigamente, quando um atleta jovem começava a praticar um desporto, as suas capacidades físicas, cognitivas e coordenativas vinham com outro desenvolvimento adquirido. A “culpa” é das “brincadeiras de rua”, as tais que faziam com que os jovens jogassem à bola na rua, corressem atrás uns dos outros, saltassem muros e caíssem para de seguida se levantarem. Claramente, que o sedentarismo tinha um menor peso na vida dos jovens, pois o ficar em casa era encarado de uma maneira diferente, não havia o computador, a consola, o telemóvel ou o tablete.

Os dias de hoje, trazem esse sedentarismo, e o desporto jovem sofre com o mesmo. Como combate-lo?

A resposta, embora muito complexa e extensa, irá ser dada com exemplos que vou vendo em Itália, especialmente 2, um por parte do estado, outro por parte do clube.

Já percorri praticamente toda a região de Marche, jogando em mais de 20 cidades, outros tantos pavilhões, e o que todos têm em comum? É o simples facto que, na rua colado ao pavilhão, existe campo de basquetebol, com iluminação, aberto para ser usado 24 horas.

Esta medida, de responsabilidade do estado, pois 95% dos pavilhões são das autarquias, faz com que o basquetebol informal crie uma dinâmica muito interessante, fazendo com que centenas de jovens em todas as cidades, possam jogar livremente.

Olhando para Portugal, o quadro é diferente, existe (embora com melhorias) pouco cuidado em dotar as nossas cidades com parques desportivos abertos ao público, parques que possam dar aos jovens a oportunidade de, a qualquer hora dia, praticar a modalidade. Perguntando a pessoas, que estejam na casa dos 40, e que tenham jogado basquetebol, como era 20 anos atrás, as resposta são iguais, “...no meu tempo passávamos muito mais horas a jogar na rua, do que no pavilhão”.

O segundo exemplo, que está directamente ligado com os clubes, é o facto de (e fazendo a mesma pergunta a muitos treinadores e directores desportivos que vou conhecendo dos mais diversos clubes em Itália) todos terem nos seus quadros um preparador atlético/físico que, todas as semanas, trabalham juntamente com os jovens desde os 10 anos, o desenvolvimento de capacidade coordenativas, ensinando a correr, a rodar, a saltar, a arrancar e para, etc.

Ter este tipo de profissionais num clube, é de uma utilidade fundamental, se queremos ter atletas de top daqui a 10 anos, não precisando de ter clubes ricos, mas sim clubes organizados que percebam, quais as prioridades para os seus jovens.

Em Itália, também existem redes sociais, consolas, e outro tipo de factores que provocam o sedentarismo, tal como em Portugal. Mas, claramente, existe uma filosofia e uma prática desportiva que, com virtudes e defeitos, cria mecanismos para desenvolver atletas de alta competição, quer nos desportos individuais, quer nos desportos colectivos.

Sempre defendi esta visão, quer nos clubes onde passei, quer no projecto MVP que, nos eventos MVP Skills Lisboa e Porto no natal, tinha uma estação só destinada ao desenvolvimento das capacidades coordenativas dos jovens atletas.

Por vezes somos tão ricos com os outros, simplesmente temos as nossas prioridades desajustadas.

Nuno Tavares
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