“No nosso país, e sem descurar outras vertentes, na nossa realidade e dadas as condições existentes, o mais importante e mais difícil é captarmos mais praticantes.”

Depois de uma incursão pelo universo dos seniores e ainda a propósito da conferência da ABL realizada no COP sob o tema “Constrangimentos e potencialidades do basquetebol” regresso a um dos meus temas preferidos: minibásquete e a captação de praticantes.

Salvo mais fundamentada opinião, os quatro maiores constrangimentos da captação e aumento de praticantes no minibásquete são:

• Os horários escolares;
• A organização administrativa e geográfica do basquetebol;
• A organização desportiva do país;
• Para muitas crianças o custo financeiro no acesso à modalidade.

Vários são os artigos em que já abordei os horários escolares e a organização administrativa e geográfica do basquetebol, hoje sugestionado pelo documento “Um só Basquetebol – Estratégias e Convergências” vou- me centrar sobre o acesso à modalidade e a organização desportiva do país. Estamos ainda muito longe, muitas são ainda as barreiras, mas felizmente, cada vez há mais vozes a defender a convergência dos sistemas desportivos, porque na realidade o estado financia ou ajuda a financiar dois sistemas desportivos, o federado e o escolar e verdadeiramente nenhum deles funciona. Num país, que não é rico, maior é este desperdício financeiro.

Há quem goste muito de comparar o que a nível de topo se passa em Espanha e em Portugal , mas como diz o meu amigo Fernando Lemos,  se querem comparar então comparem tudo. Desde, a que horas treinam os minis, como está organizado nas diversas regiões o minibásquete, quantos treinos por semana tem, quantos minis tem cada treinador por treino, quem são os treinadores de minibásquete, em que campos treinam, quanto custa jogar minibásquete em Espanha, como é feita a detecção e recrutamento dos mais talentosos, quantos minis tem o basquetebol espanhol, que visibilidade e impacto social tem a modalidade, que diferenças culturais existem, ao ponto de haver pais que escolhem a escola dos seus filhos em função da qualidade do ensino do basquete etc, etc, etc…

Pegar apenas no resultado do que é mais visível, sem levar em consideração todos os factores  e condições de um longo processo, para fazer comparações, é no mínimo se não absurdo, intelectualmente desonesto.

Para compreensão do que se passa, por exemplo na Catalunha, transcrevo as palavras de um comentário ao artigo “Minibásquete na ordem do dia” escrito por Fernando Barão:  “Gosto muito de ler/ouvir e saber sobre o minibásquete, porque fui atleta e tenho um filho com 9 anos, que joga há 3 e mostrando sempre muito interesse pela modalidade. Não conheço a realidade portuguesa actual, mas sim a da Catalunha (onde vivo); num local com pouco mais de 20 mil habitantes, um só clube tem quase duas centenas de atletas entre os 7 e 10 anos. O basquetebol escolar é representado pelos clubes como sendo uma actividade extra curricular e tem uma aceitação tremenda. Creio que esse é o caminho certo, tanto para o basquetebol, assim como para a vida em geral. Assim se ensinam, criam e desenvolvem bons atletas e valores.”

Agora imaginem todas as localidades de Portugal com cerca de 20.000 habitantes terem pelo menos um só clube, com duas centenas de atletas entre os 7 e 10 anos, que condições é necessário para que isso aconteça?

Só teremos a capacidade de fazer crescer e desenvolverá o basquetebol se tivermos a perspectiva do quadro global do seu desenvolvimento, e não apenas aspectos parcelares, por mais importantes que estes sejam.