Uma vez ouvi o companheiro Rui Diniz dizer que Portugal estava entre os dois melhores basquetes do mundo, a Espanha e os Estados Unidos.

É uma imagem interessante e que aumenta a nossa curiosidade e vontade de comparar o nosso basquetebol ao dos “nossos” vizinhos, deste e do outro lado do Atlântico. Tudo se pode comparar, mas como já mencionei, salvo melhor opinião, parece-me não ser intelectualmente muito honesto, comparar o produto final sem comparar, quer o número de praticantes, quer as condições, quer todo o processo.

Mas nisto de comparações, e como tenho algum conhecimento, quer da realidade espanhola, quer da realidade dos Estados Unidos, sinceramente fico muito mais intrigado e gostaria, como já o referi no meu artigo “Islândia um study case”, de compreender como é que um país com 320.000 habitantes consegue, o que muitos outros países europeus com muito mais habitantes, não alcança, como por exemplo o apuramento, para as fases finais dos europeus de seniores de futebol, basquetebol e andebol.

Todos sabemos que o basquetebol feminino em Portugal tem melhorado os seus resultados a nível internacional, mas ainda recentemente a nossa selecção de seniores femininos perdeu com a Islândia. Que diferenças e condições existem, e que processos levam a que um país com 320.000 habitantes, vença um país com 10.000.000 de habitantes?

Na Islândia também não existem, por exemplo no futebol, árbitros suficientes para cobrir a totalidade das competições. Este problema sente-se como no basquetebol em Portugal, essencialmente nas camadas jovens.Para ajudar a compreender, que as diferenças entre os dois países começam por ser culturais, transcrevo uma passagem do artigo “Na Islândia os árbitros são os pais! E então?"

Um futebolista espanhol a jogar na Islândia escreveu uma carta em que relata a maneira que os islandeses puseram em prática para suprir a falta de árbitros. Usar os familiares dos jogadores ou mesmo membros dos clubes. O plano da Federação Islandesa de futebol trabalha neste sentido: "No caso de um árbitro federado não poder estar presente, num determinado encontro de futebol de camadas jovens, será um membro do clube local ou um pai ou uma mãe dos jogadores presentes a arbitrar o jogo."

A ideia que parece impensável em qualquer outro país da europa, é uma realidade neste país incrível, que é a Islândia. A sociedade igualitária e a maneira de ver o desporto como um meio de educação e não de competição, que há neste país, torna que esta maneira de actuar seja possível, justificou o jogador espanhol.

A grande diferença começa por ser cultural, começa por ser a capacidade sincera e não hipócrita de olhar para o desporto como um meio de educação. A solução dos pais colaborarem também existe no nosso basquete, o que não existe é a mesma educação e cultura.

Ainda no domingo passado assisti a um pai, apenas para que o jogo se realizasse, colaborar e arbitrar o melhor possível um jogo de Sub-14 femininos, duma prova distrital. Convêm esclarecer que esta competição tem por objectivo proporcionar às equipas, que não foram apuradas para provas nacionais mais jogos, pois jogar é independentemente do tipo de competição, sempre motivador para as crianças e jovens. Apesar da insignificativa importância da prova, estava um casal na bancada, do clube adversário, ao do pai que se prontificou a arbitrar, que desde o princípio até ao final do jogo esteve sempre a contestar a arbitragem e a insultar, numa linguagem inadmissível para quem é responsável por educar, o árbitro. O clube do pai mal-educado venceu o jogo.

Agora imaginemos duas coisas, que a equipa da filha, do casal mal educado perdia o jogo, e que a Islândia, que demonstra um elevado nível cultural e educacional não tinha apenas 320.000, mas tinha como Portugal 10.000.000 de habitantes, quais seriam as reacções finais dos pais mal educados e quais seriam os resultados desportivos da Islândia?