Como se, de uma medição de força se tratasse, a relação ataque-defesa que assisto todos os treinos e jogos é muito interessante. A pergunta será eterna: devemos ter uma excelente defesa para suplantar um bom ataque ou devemos ter um excelente ataque para suplantar uma boa defesa?

Como treinador vou construindo a minha filosofia ao longo dos anos, esta filosofia é fundamentada no constante estudo do jogo, na minha experiência como treinador de campo e nas influências que tenho tido nos diferentes países onde já trabalhei. Tudo isto é levado em consideração e no final não devo seguir os caminhos dos outros treinadores ou sistemas, mas sim, construir o meu próprio e por consequência, a minha filosofia.

Acredito que o jogo de basquetebol desenvolve-se através da defesa (ganhando a posse de bola), para contra-ataque (tentando marcar antes da outra equipa se organizar), para um ataque de 5 x 5 (tentando um lançamento de percentagem elevada usando o talento dos jogadores dentro de um enquadramento de organização táctica).

Não consigo encontrar uma abordagem ao jogo onde o ataque é posto à frente da defesa, derivado do facto que o primeiro objectivo de uma equipa é ganhar a posse de bola (começando logo na bola ao ar).

De um ponto de vista psicológico, esta abordagem tem uma vantagem evidente: uma defesa eficiente que force o ataque a cometer erros reduz a pressão de “ter” que marcar a todo o custo para nos manter no jogo.

Tendo a convicção que temos que proteger o nosso cesto, não permitindo cestos fáceis, dá aos nossos jogadores a hipótese de jogar em contra-ataque/transição mais vezes e em geral com lançamentos de maior percentagem, aumentado a sua auto-estima e confiança.

Deixarmos o nosso defesa para irmos parar a penetração de um outro atacante que acabou de ultrapassar um colega implica, não só, uma vontade enorme de ajudar o outro mas também fazer perceber como equipa que se cometermos um erro, algum colega irá lá estar para proteger o nosso cesto.

O verdadeiro e profundo significado de “trabalho de equipa” é a capacidade que temos em ajudar os nossos colegas e a confiança de que vamos ser ajudados por outros sempre que a precisamos.

O ritmo de jogo em termos atacantes pode ser tão elevado que as defesas têm que estar um nível acima em termos de intensidade, logo, a sua intensidade é por vezes sufocante. Os nossos jogadores estão constantemente a ouvir a seguinte frase “There is no time to relax on defense” (não podes relaxar um segundo na defesa) o que é uma informação muito precisa e objectiva, fazendo constantemente recordar os jogadores que a sua concentração deverá ser sempre elevada.

Devemos ser o mais exigentes com os nossos atletas, mas existem muitos treinadores que confundem exigência com desrespeito, “gritaria” e confrontação... esses caminhos são errados até porque a minha primeira responsabilidade como treinador é ter um papel de formador  pois não consigo ver um grande atleta que não seja uma pessoa de valores alicerçados em honestidade, fair-play, justiça, humildade, entre outros.

Um treinador deve ser exigente porque acredito que os valores que ela trás vão para além de uma falta atacante, um ressalto, um desarme ou uma violação do tempo de ataque.

O ataque ganha jogos, a defesa ganha campeonatos... eu mudaria para: “O ataque ganha jogos mas a defesa constrói equipas e sobretudo forma pessoas”

Nuno Tavares
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