Rui Valente: "Ser árbitro é uma espécie de missão"
 
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Rui Valente: "Ser árbitro é uma espécie de missão"

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altRui Valente, 55 anos de idade, dos quais 16 como árbitro internacional. Comissário e instrutor FIBA nacional. Foi durante 13 anos Presidente da Comissão de Arbitragem da extinta LCB.

Foi recentemente empossado Presidente do Conselho de Arbitragem da FPB.
 
Em duas palavras, como classifica o estado actual da arbitragem do Basquetebol em Portugal?
Trabalho e Evolução.
 
Em comparação com o passado, o que mudou na arbitragem portuguesa?
Muita coisa mudou nos últimos 30 anos, aqueles que conheço da arbitragem nacional. Os meios de formação e de informação são totalmente distintos, os árbitros de hoje têm portanto obrigação de se sentirem muito mais apoiados tecnicamente e com possibilidade de evoluírem, assim haja verdadeiro empenho no desenvolvimento das suas carreiras. Nos tempos que correm há muito mais competitividade, o que é um sinal positivo se for encarado de uma forma salutar, é exercida muito mais pressão sobre os juízes, a responsabilidade teoricamente é maior, mas isso é afinal um reflexo das características globais dos dias de hoje e não apenas circunstâncias da modalidade em si. 
 
Recentemente foi eleito Presidente do Conselho de Arbitragem da FPB. Que conselhos poderia dar aos jovens juízes que ambicionem fazer carreira na arbitragem?
Não se pode ambicionar uma carreira na arbitragem se não se gostar da função e se não houver espírito de sacrifício. Ser árbitro é, de alguma forma, uma espécie de missão, uma forma diferente de estar por dentro e de colaborar com a modalidade de que se gosta. Aos jovens que estejam dispostos a isto, e acreditem que arbitrar dá muito prazer a quem tenha aptidões de liderança e de gestão de grupos, eu diria que venham até nós, que trabalhem com empenho e abnegação, porque se revelarem qualidades técnicas e características interpessoais acima da média, por certo terão uma carreira interessante e que lhes dará muito prazer. 
 
O número dos árbitros é insuficiente para cobrir todos os jogos em Portugal. Como Presidente do Conselho de Arbitragem, o que vai fazer para lidar com este problema?
Esse é talvez o maior problema com que se debate a nossa arbitragem e, consequentemente, a própria modalidade ao nível dos escalões de formação. Agora, a resolução deste problema não pode ser assacada em exclusivo aos Conselhos de Arbitragem, Nacional e Distritais, que não têm uma “varinha mágica” para ultrapassar a situação. Tem de haver um empenho efectivo por parte de todos, Federação, Associações Distritais e Clubes, nomeadamente em termos de ajuda no recrutamento e no apoio a dar aos juízes após a realização do respectivo curso de formação. Nos tempos que correm, com tantas e diversificadas solicitações postas à disposição dos jovens, sem um plano integrado que envolva alguma profissionalização de meios humanos dedicados à formação de novos árbitros e sem a constituição de incentivos para a função, pouco ou nada se conseguirá melhorar o estado actual, que definiria de “sobrevivência”… 
 
Quais são as principais qualidades que um árbitro deve ter para chegar ao mais alto nível?
Antes de mais ser boa pessoa, com bom fundo intrínseco perante o jogo e os seus participantes, mas também muito trabalhador, colaborante, comunicativo, inteligente, sensato, sério, corajoso e equilibrado. 
 
O que é que o Basquetebol pode esperar do trabalho do seu Conselho de Arbitragem?
Espero que muito… Agora, o rescaldo final deverá ser feito após os 4 anos de mandato, não após 3 meses e meio, que são os que temos de laboração. Essencialmente pretendemos reformar processos e mentalidades e isso é sempre uma tarefa muito complicada e morosa porque “mexe” com valores instalados, com os quais não concordamos e pretendemos mudar. Este Conselho de Arbitragem tentará ser justo e pragmático na sua postura e nas atitudes, em tempo de dificuldades, aproveitar tudo o que de bom exista, tentando todavia sempre melhorar, mas rejeitar todos os vícios que ponham em causa o interesse global da modalidade. Os juízes não são “os donos da verdade” nem os “coitadinhos” do Basquetebol, são parceiros e é dessa forma que devem ser encarados e agirem eles próprios em conformidade com esse espírito. Estamos no século XXI, numa modalidade com verdadeiro espírito desportivo, é tempo de alguns dirigentes, treinadores e jogadores deixarem de olhar para os árbitros como uma espécie de “inimigos” ou um “mal necessário”…
 
O nível de um jogo de Basquetebol reflecte ou não o nível da arbitragem?
Não gostaria de me pôr a comparar o nível da arbitragem nacional e o nosso Basquetebol… São comparações sempre perversas… Antes diria que temos alguns árbitros com excelente reputação internacional e algumas jovens promessas que serão uma realidade num futuro mais ou menos próximo. Mas, como na modalidade, que também ela própria tem os seus pontos altos, nem tudo é um “mar de rosas” na arbitragem… Ainda há uma fornada de árbitros menos experientes para trabalharmos e que, no futuro, poderão destacar-se, mas se olharmos ainda mais para longe temos necessariamente que ficar preocupados, o que significa que hoje já se torna tarde para agir… Agora, o que se pode dizer de forma inequívoca, é que a qualidade da arbitragem portuguesa não põe minimamente em causa a evolução do Basquetebol Português, nomeadamente no seu topo. 
 
O Planeta Basket desafia-o a fazer o cinco ideal da arbitragem portuguesa de todos os tempos?
Com seriedade nunca o poderia fazer, muito menos o deveria… Há coisas que não são comparáveis e esta é uma delas. Um grande árbitro de há 30 anos atrás nada tem a ver com um grande de árbitro dos dias de hoje. As principais características de um árbitro de topo, foram também elas mudando ao longo dos tempos. Para além de tudo o mais, acabaria por ser injusto para alguém, pois felizmente muitas foram e são grandes referências da nossa arbitragem, cujo nome e trabalho é e será reconhecido por várias gerações. 
 
Quais são, para si, os três melhor árbitros na Europa, neste momento? E porquê?
Não direi três, mas apenas um, e não o apelidarei sequer de melhor, mas sim de mais equilibrado e completo ao nível do topo máximo… O italiano Luigi Lamonica… Porquê…? Tecnicamente é um árbitro excelente, conhecedor do jogo, uma óptima pessoa e com uma humildade pouco vista em árbitros da sua craveira, uma grande presença, sensatez, comunicabilidade e inteligência. Naturalmente existem outros de valor similar, mas este árbitro realmente destaca-se pelas suas qualidades técnicas e pessoais… 
 
Qual foi o momento mais marcante da sua longa carreira e que não mais vai esquecer?
A nomeação como árbitro neutro para a Fase Final do Campeonato da Europa de 1981, na então Checoslováquia. Um sonho de qualquer árbitro concretizado aos 25 anos de idade…
 
Pode-nos contar alguma história curiosa que lhe tenha acontecido enquanto árbitro?
Existem sempre histórias curiosas, mas esta penso revelar uma contradição que dá que pensar… Há mais de 15 anos, durante uma determinada época desportiva, arbitrei no início dessa época uma série de jogos de um clube dos apelidados “pequenos” e curiosamente, fora ou em casa, ganharam todos! Esse clube publicava mensalmente um pequeno jornal e alguém me mostrou que no exemplar de Dezembro desse ano, numa rubrica apelidada de “Pedidos ao Pai Natal”, um deles era que eu arbitrasse todos os jogos da equipa até ao fim da época… Pois, lembro-me ainda que arbitrei mais um ou outro jogo depois desse episódio e que a equipa até continuou a ganhar, só que no último jogo, o de apuramento para as meias-finais do Play-Off, perderam em casa e eu fui agredido por um espectador no regresso aos balneários… São marcas que ficam, mas que os árbitros que se prezam de o ser não têm outra alternativa senão ultrapassá-las… 
 
O Planeta Basket disponibiliza as próximas linhas para uma sua mensagem para os nossos leitores:
Gostaria apenas de destacar o facto de que os árbitros são pessoas comuns, não diferentes das outras… Há uns mais competentes do que outros, há uns que seguramente são melhores pessoas do que outros, há de tudo um pouco, como em todas as classes ou profissões…
 
Têm vida própria, sentimentos, responsabilidades familiares e profissionais e, mesmo sendo remunerados, seguramente não estariam na arbitragem se não gostassem, pois trata-se de uma vida de grande sacrifício e de indisponibilidade para toda uma série de outras actividades e prazeres, que o dinheiro ganho não compensa, por isso devem merecer o respeito de todos, até pelo facto de se tratar de uma função extremamente ingrata em que não se pode agradar a “gregos e a troianos”. Não concordar não significa necessariamente desrespeitar…
 
Erram porque são humanos e temos de acreditar que nunca o fazem premeditadamente.
 
Eu acredito nisso, sem hesitar!

 

 


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