As comparações, normalmente, não são inocentes, elas têm um propósito que é necessário compreender. Se quisermos ser intelectualmente honestos temos que, comparar todas as vertentes da questão e não apenas uma pequena parte processo do minibásquete,
que começa com a atração e captação à modalidade, passa pelo ensino do jogo e dos fundamentos, fidelização dos praticantes e organização do plano de atividades destinada a este escalão. Há comparações que se limitam a comparação profundamente redutora do plano de atividades e resumem este plano à organização das competições.
Para sermos sérios, quando comparamos o minibásquete espanhol com o português, temos de comparar o número de praticantes, os horários escolares, as condições de treino, a qualidade dos treinadores, a forma como a atividade está organizada e a importância que as células principais de todo este processo, os clubes e as escolas, dão ao minibásquete. Essa importância é relativamente fácil de aferir, é saber que condições são dadas aos treinadores de minibásquete e qual é a sua remuneração. Como costumo dizer: “Diz-me onde gastas o dinheiro, diz como geres os recursos ao teu dispor e eu dir-te-ei o que é importante para ti.” O que não podemos é estar todo o tempo a dizer que o minibásquete é fundamental, é decisivo, é onde tudo começa etc, etc… e na hora das decisões pouco ou nada investirmos no minibásquete.
Apesar de tudo, reconheço que a preocupação com o minibásquete tem gradualmente aumentado. A título de exemplo, antes do ressurgimento do CNMB em 2000, nunca se tinham realizado Clinics internacionais destinados ao minibásquete.
Contudo, o meu conhecimento do universo do minibásquete permite-me dizer que em Portugal, ao contrário de Espanha não há projetos de minibásquete consistentes. De vez em quando surgem iniciativas e projetos interessantes e com qualidade, mas apesar dos resultados alcançados, que nunca se veem no imediato, tem-se revelado por norma pouco duradores. Muitos são os exemplos que poderia mencionar. Esses projetos, não são institucionais, são pessoais, e de tal maneira estão ligados à pessoa que os desenvolve, que assim como aparecem também desaparecem.
Mas voltando ao país vizinho. Em termos de atividades para o minibásquete a Federação Espanhola, apenas organiza nas férias escolares da Páscoa em São Fernando o Campeonato de Espanha de Minibásquete para as seleções das Federações Regionais, e após a realização deste evento organiza no verão o Campus de deteção de talentos identificados em São Fernando. Em tempos este campus decorria durante 9 dias em Collel, onde estive com Sérgio Rosmaninho, e que foi para mim uma semana profundamente enriquecedora. Atualmente este campus realiza-se em Guadalajara. Todas as outras atividades para os minis são da responsabilidade das Federações Regionais Autonómicas, e com diferenças significativas mesmo em termos de regulamentos entre estas.
Aqui, em Portugal, mesmo com o baixo número de praticantes e as condições de treino existentes, há quem queira já, a realização de um Campeonato Nacional de Sub-12, como a grande proposta de resolução dos problemas do nosso basquetebol.
Eu continuo a dizer que um dos problemas estruturais do nosso basquetebol é o número de praticantes no escalão de Sub-12 ser inferior ao número de Sub-14. Encontrar uma solução faseada e consistente para inverter esta situação ajudaria seguramente ao crescimento e desenvolvimento do basquetebol.
As comparações não são inocentes, principalmente quando não comparamos todas as vertentes dum processo, e nos limitamos a comparar uma parte do todo. Se por um lado andamos à procura das diferenças, curiosamente há quem afirme que tudo é igual, mas como referi nestes últimos artigos existem condições muito diferentes, e essas diferenças, passe a redundância fazem toda a diferença.