Manuel Campos em grande entrevista
 
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Manuel Campos em grande entrevista

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altOntem apresentamos o homem da semana Manuel Campos. Hoje poderá ler a grande entrevista que este Senhor do Basquetebol Português concedeu ao site Planeta Basket.

Aconselhamos todos os leitores do site, dos 8 aos 88 anos a se sentarem confortavelmente à frente dos seus computadores, para que possam tirar o máximo partido das 20 respostas às 20 perguntas (10 como jogador e 10 como treinador) da entrevista a Manuel Campos.

Enquanto Jogador

Muito Bom Dia Manuel! Obrigado por ter aceite o nosso desafio. Para começar, porque começou a jogar basket em vez de outro desporto? E onde?
Aprendi a gostar de basquetebol e de voleibol no Liceu Camões (Lisboa), onde praticava estas modalidades apenas duas vezes por semana graças à dedicação e saber de um homem, de quem tenho a imagem correcta de um óptimo formador de jovens. Foi ele o Eng.º. André Mendes jogador internacional de voleibol do Instituto Superior Técnico onde também praticou basquetebol, para poder ensinar com interesse jovens candidatos a jogadores.

Após dois anos de prática foi para o SL Benfica. Porquê esta mudança?
Exactamente após 2 anos de prática no liceu, não se pode dizer que rumei ao Benfica, pois já desde os 6 anos vivia intensamente as actividades do clube, onde com essa idade começara com aulas de ginástica. No entanto, convém confessar que gostaria de representar o meu clube em qualquer modalidade, o que veio a acontecer.

Um dia numa roda de amigos de meu pai, João Morgado, um extraordinário praticante de então, desafiou-me a experimentar treinar na equipa de juniores e experiência consumada, concretizei o meu primeiro sonho. Representar o meu clube do coração.

Depois seguiram-se outras experiências, outras modalidades desportivas, também no S. L. Benfica: Voleibol, Andebol, Futebol e Atletismo. Venceu o Basquetebol que me pareceu mais interessante.

Aos 18 anos ainda Júnior, fui chamado à equipa Sénior para substituir o poste da equipa, o americano Burl Kreps, que inesperadamente teve de rumar a outras terras. Foi o início de uma carreira de poste, que com apenas 1,82m tinha de defrontar os monstros de 2,00m, o que dava muito gozo.


Qual era a sua posição em campo e quais eram as suas principais características enquanto jogador?
Conseguida a autorização para representar a equipa de juniores do S. L. B., com apenas 15 anos (a idade mínima era 16 anos), lá me fui adaptando ao jogo que então se praticava. Não tinha posição definida pelo treinador, mas como tinha uma boa impulsão vertical, o meu contributo para a equipa era mais eficaz junto às tabelas defensiva e ofensiva.

Talvez por essa razão, os treinadores me começassem a utilizar numa posição de poste-extremo, até à minha subida à equipa sénior.

As minhas principais características eram, penso eu, preocupar-me em defender e ganhar ressaltos ofensivos e defensivos, que conseguia com alguma facilidade pois era um autentico “saltitão”. Aos 16 anos já ultrapassava o aro do cesto.


Quanto tempo ficou no SL Benfica? Que recordações guarda desses tempos?
Representei o S. L. Benfica durante 12 anos e hoje sou sócio de Mérito da Instituição.

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Quais foram os colegas no SL Benfica, que mais o marcaram?
Entre os colegas que mais me marcaram (todos sem excepção me marcaram), destaco Bernardo Leite e Joaquim Carlos que considero os melhores jogadores Portugueses de gerações diferentes.

Bernardo Leite que me recebeu carinhosamente, quando da minha subida à equipa Sénior e nas minhas primeiras internacionalizações. Bernardo deixou a equipa dois ou três anos após a minha entrada na equipa principal do S. L. Benfica. Joaquim Carlos o grande jogador base do S. L. B. e da Selecção Nacional que me acompanhou nos meus últimos anos ao serviço destas equipas.

Qual foi o adversário mais difícil de defrontar enquanto jogador? Porquê?
Sem dúvida Ubiratã, poste da equipa brasileira campeã do mundo. Tinha 2.05 e uma mobilidade impressionante.
A equipa do Brasil, campeã do Mundo de então que mimoseou a Selecção Portuguesa com um contundente “centenário” Foi em Belém do Pará (Brasil) e a temperatura ultrapassava os 40º centígrados (o jogo foi à noite).

Qual foi o treinador que mais o marcou? Porquê?
Sem dúvida o treinador que mais me marcou foi o Prof. Teotónio Lima. A ele devo ter aprendido a jogar basquete, apesar de ter na altura 20 anos e de já ter sido internacional sénior. Até então, à monotonia de ganhar ressaltos ofensivos e defensivos a defender homens altos, surgiu a verdadeira “chapada no charco” que me fez acordar, me deu orgulho de ser jogador de basquete e a passar a ser basquete-dependente.

Mais tarde quando prossegui na carreira de treinador, tive sempre do meu “velho mestre” um apoio incondicional. É ainda hoje, dele que recebo os maiores incentivos para continuar a ajudar os jovens treinadores.

Qual foi o momento enquanto jogador que nunca mais vai esquecer?
Estávamos por volta de 1957/1958. Arnold (Red) Auerbach e o seu pupilo dos Celtics de Boston, Bob Cousy passaram por Lisboa e promoveram um Clinic prático, com os jogadores da selecção Nacional Portuguesa. Depois de várias exemplificações Bob Cousy, necessitava de um companheiro de equipa para demonstrar as situações de 2 vs 2 (ataque).

Chamou-me e confidenciou-me: Rapaz, tu pareces ser o único que domina as situações de “roll-screen” (actual pick & roll) por isso vais ser o meu companheiro de equipa. E, em todas as situações de 2 vs 2 passei a ser o companheiro de Bob Cousy o mágico jogador norte-americano denominado “Mr. Basketball”.

Um orgulho que não esqueço.

O que motivava os jogadores daquele tempo a praticar desporto e em particular o basquetebol?
No meu tempo e apesar do nosso atraso no Desporto, o Basquetebol era a seguir ao Futebol o desporto que mais praticantes movimentava. Por exemplo, em Lisboa, não havia bairro que não tivesse o seu clube de basquetebol e os jovens tinham sempre lugar no jogo, pois se não conseguissem jogar na equipa principal sénior havia mais dois escalões secundários que movimentavam os amantes do desporto da Bola ao Cesto. Havia no entanto leis completamente obsoletas que condicionavam a formação de jogadores. O “Estado Novo” só permitia a inscrição e prática desportiva oficial, a partir dos 16 anos. Talvez fosse a “fome” de basquetebol que motivava os jogadores do meu tempo.

O Planeta Basket desafia-o a fazer 5 ideal dos jogadores, que praticavam basquetebol na sua época, respeitando os posições:
Posição 1 – Joaquim Carlos (Benfica)
Posição 2 – Júlio Campos (Benfica)
Posição 3 – José Alberto (Benfica)
Posição 4 – Mário Mexia (Académica)
Posição 5 – José Valente (Barreirense)

Enquanto Treinador

Porque avançou para a carreira de treinador de Basquetebol. O que o motivou?
Ainda jogador, frequentava todos os cursos de treinadores que se me deparavam. Em 1964 frequentei um curso diferente, promovido pelo A. B. Lisboa. Desta vez haveria classificação. Obtive com mais dois colegas (José Mário e Mário Machado) a melhor classificação e decidi que era a altura de “virar” treinador.

Como jogador, já sentia não ter a utilidade que a minha equipa necessitava. Já tínhamos um poste com 2,05m (o norte-americano Peter Reimer). Tinha adquirido alguma experiência do jogo e achei que era a altura de partilhar os meus conhecimentos. Contudo foram mais os que recebi do que acabei por fornecer.

“Basquetebol é dar e receber” e eu fui felizardo, pois recebi muito!

Como foi a transição de jogador para treinador? Quais foram os principais problemas e quais as vantagens que retirou da sua experiência enquanto atleta?
A ignorância é sempre audaz e eu cometi a audácia de ser treinador, sem ter a devida preparação (apesar da nota máxima, adquirida no curso que decidiu a minha opção).

Embora o meu entusiasmo ultrapassasse todos os problemas que surgiam, não havia dúvida, é que eles iam aparecendo. Uns foram-se resolvendo, outros não tanto, porque já eram factos consumados. No entanto, tive a grande vantagem de ter sido um atleta conhecido e respeitado pelos jovens que tentava ensinar e que em mim acreditavam.
Tive também como grande vantagem o facto de ter experimentado como jogador, aquilo que ensinava e de poder exigir aos meus atletas o comportamento positivo que sempre me acompanhou (zero castigos – apenas louvores).

A outra grande vantagem: ter sido jogador do Prof. Teotónio Lima.

Treinar em Angola foi um desafio? Como surgiu o convite e porque o aceitou?
Tudo surgiu muito repentinamente. Quando fui destacado, pela minha companhia para fazer parte de uma equipa de trabalho com a missão de reestruturar a sua Delegação em Angola. A notícia espalhou-se e foi então que o Prof. Jorge Araújo me convenceu a aceitar um convite que lhe havia sido dirigido pelo Centro desportivo Universitário de Angola (C. D. U. A.).

Por não ter chegado a Luanda a tempo de iniciar os meus trabalhos no basquete do C. D. U. A. e o meu lugar já ter sido logicamente preenchido, comecei por treinar as equipas masculinas e femininas do escalão sénior dos Belenenses de Luanda, a convite de antigos adversários belenenses de Lisboa.

Fui bem sucedido pois ambas as equipas chegaram às “final four” nacionais.

Depois seguiu-se C. D. U. A., Benfica de Luanda e Vila Clotilde. Aceitei os vários convites porque sou um “basquete-dependente”.

Havia certamente na altura, diferenças entre o basquetebol praticado em Portugal e em Angola? Quis eram as principais?
As grandes diferenças situavam-se e situam-se na disponibilidade dos jovens. Os jovens Angolanos (rapazes ou raparigas), sempre tiveram vantagem sobre os jovens Portugueses devido às condições naturais que o meio ambiente lhes proporcionava e proporciona. Os jovens Angolanos, saltavam mais alto, corriam mais rápido e trabalhavam a resistência física de uma maneira natural desde a infância à idade adulta.

As grandes vantagens que os jogadores de Portugal tinham na altura, estavam apenas relacionadas com os conhecimentos técnicos e tácticos do jogo e com algum contacto Internacional.

Hoje já está tudo ultrapassado no que diz respeito ao equipamento técnico-táctico e à experiência internacional que Angola possui e agora demonstrada no Campeonato do Mundo.

As equipas nacionais angolanas estão presentes nas principais competições internacionais e dão-se ao luxo de conseguir resultados invejáveis nos vários campeonatos africanos em que participam.

Que equipas que treinou em Angola?
Belenenses de Luanda - Coordenador Técnico e Treinador das equipas:
 Seniores Masculinos
 Seniores Femininos

C. D. U. A. - Coordenador Técnico e Treinador das equipas:
 Seniores Masculinos
 Juniores Masculinos
 Seniores Femininos
 Juniores Femininos
 Juvenis Femininos

Benfica de Luanda - Coordenador Técnico e Treinador das equipas:
 Seniores Masculinos
 Seniores Femininos
 Juniores Femininos

Vila Clotilde - Coordenador Técnico e Treinador das equipas:
 Seniores Masculinos
 Juniores Masculinos
 Juvenis Masculinos

Selecção Universitária de Angola - Treinador de Sénior Masculino

Selecção de Angola - Treinador das equipas:
 Seniores Masculinos
 Esperanças Masculinas
 Juniores Masculinos

Na sua longa carreira enquanto treinador, trabalhou com vários jogadores. Pode-nos dizer alguns dos nomes que na sua opinião, maior impacto tiveram na evolução do basquetebol em Portugal?
Tive durante estes 47 anos de treinador, o prazer de trabalhar com inúmeros jogadores e jogadoras, alguns que chegaram a internacionais, outros que seguiram a carreira de treinador e muitos ainda que continuam ligados ao basquetebol.

Sobre se tiveram impacto na evolução do basquete Português, tenho as minhas dúvidas porque me considero ser um dos culpados pela pouca evolução do desporto da Bola ao Cesto nos últimos 47 anos. Há Menos clubes de basquete, menos praticantes, menos interesse do público pelo basquete de Alta Competição e eu sem nunca conseguir ajudar remar contra a maré!

Trabalhou no feminino assim como no masculino. Existem diferenças entre trabalhar com rapazes ou raparigas? E gostou de trabalhar mais com quem?
Como treinador de basquete, nunca abordei, o trabalho realizado com rapazes ou raparigas de maneira diferente. A metodologia do ensino e do treino, apenas se alterou tendo em conta os diferentes escalões etários. Como toda a gente sabe existem grandes diferenças e que sobressaem com notoriedade a nível morfológico nos aspectos biológico, fisiológico e anatómico. Por estas razões as respostas que me foram dadas ao trabalho solicitado, foram necessariamente diferentes, tendo de uma maneira geral, os rapazes demonstrado superioridade na força, resistência e destrezas técnicas, enquanto as raparigas demonstraram ser melhores na flexibilidade, concepção táctica e espírito de grupo.

Apesar dos métodos de ensino e treino, serem muito semelhantes, notei sempre que as raparigas privilegiavam grandemente o trabalho colectivo às iniciativas individuais, contudo trabalhavam arduamente tudo o que era técnica individual com vista a servir com êxito o todo da equipa, enquanto os rapazes se mostravam mais inclinados para as soluções individuais de confronto.

Quanto à assiduidade e entrega ao trabalho, considero-me um treinador feliz, pois tanto rapazes como raparigas que treinei foram sempre exemplares. Uma última curiosidade a assinalar: das equipas masculinas que treinei em Angola e Portugal decidiram-se pelas carreiras de treinador, àrbitro e dirigente muitos jovens alguns ainda hoje no exercício dessas funções, enquanto das equipas femininas foram poucas as jogadoras que enveredaram por este tipo de carreiras, excepção feita às que acompanham da bancada os seus descendentes e praticantes deste maravilhoso desporto.

Qual foi o momento mais inesquecível da sua carreira enquanto treinador?
Elejo não um, mas dois, os momentos mais inesquecíveis como treinador. Ambos foram vividos no Sport Algés e Dafundo.

O primeiro aconteceu em França quando da equipa sénior masculina do Algés acabou por vencer um torneio organizado pelo Cholet Basket e em que participaram as equipas seniores masculinas do Cholet, do ABC de Nantes e do Algés.

No final os festejos de alegria dos emigrantes portugueses que compareceram em massa, foi inesquecível. O segundo teve lugar em Aveiro quando a equipa sénior feminina do Algés, ganhou a final do seu último Campeonato Nacional da I Divisão. A nossa equipa não era a favorita, mas conseguiu ultrapassar as equipas do CIF, Académico do Porto e Estrelas das Avenidas.

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Actualmente está a desenvolver um trabalho magnífico denominado “Trabalho de pés como fundamento para a agressividade ofensiva”. Porque considera este tema importante?
Nós somos animais bípedes, daí a grande importância de saber utilizar os nossos pés. Na vida em geral e no Desporto em particular.

No Basquete o trabalho de pés é fundamental em todas as situações de jogo. O jogador está sempre utilizando os seus pés e este trabalho requer uma maior importância quando o jogador está em posse da bola, pois existem regras rigorosas para não se tirar vantagens anti-regulamentares na utilização dos pés.

A ideia desta campanha, quase uma cruzada, sobre o trabalho de pés do jogador com a bola, surgiu quando acompanhava treinadores estagiários, como coordenador regional de formação na Escola de Treinadores e detectei existirem indícios de alguma confusão sobre este tema.

Daí a minha utópica iniciativa, de junto dos jovens treinadores e jovens árbitros, ao serviço dos nossos jovens jogadores, desenvolver este tema, não teoricamente, mas de uma maneira prática, de modo a que todos sintam a necessidade de executar técnicas correctas no trabalho de pés quando em posse da bola.

Associado ao trabalho de pés vem tudo o resto. Saber como olhar para saber ver ou fintar, roubar tempo de decisão ao adversário, etc.

Enfim, um sem número de execuções que por curiosas, tornam o basquetebol tão interessante. Claro que não poderia abordar estes temas se não fosse a felicidade de ter trabalhado com o Prof. Teotónio Lima, durante muitos anos.

Por fim, deixe aqui a sua mensagem para os leitores do Site Planeta Basket:
Sem querer ser “fundamentalista”, na minha opinião o basquetebol é o desporto mais interessante do mundo, para os praticantes e para todos os que apoiam esses praticantes, sejam eles, treinadores, árbitros ou dirigentes.

É o desporto mais interessante porque é um desporto essencialmente de equipa. Para que o nosso basquetebol chegue ao plano por todos nós desejado é necessário que todos os intervenientes no nosso desporto favorito, saibam trabalhar como uma equipa de basquete deve funcionar.

É com cuidado, muito debate e muito espírito de grupo que devemos trabalhar. Não nos devemos preocupar predominantemente apenas com o Basquetebol de Especialização e de Alto Rendimento.

O desenvolvimento do nosso Basquetebol terá de passar por um grande trabalho na formação de jovens praticantes, um verdadeiro “Trabalho de Pés … e Cabeça

 

 


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