A evolução das regras
 
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A evolução das regras

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Henrique Santos Várias são as razões invocadas para modificar as regras de jogo ao longo dos seus 120 anos de existência.

Além daquelas que foram apresentadas no passado ou que se podem descortinar indirectamente, apresentamos aqui algumas propostas de modificações com intuitos formativos nos níveis iniciais da aprendizagem do basquetebol.

“Numa primeira fase, as regras precisam-se e completam-se para formar um todo coerente e relativamente estável.

De seguida, as modificações só intervêm, quando uma evolução técnica ou táctica imprevista arrisca conduzir a um impasse, ou somente, de afastar do caminho desejado, ou mais simplesmente ainda, de diminuir o interesse do jogo… ou do espectáculo” (Gratereau, 1957, p. 90)

Uma característica do basquetebol como jogo de regras, que desde cedo se manifestou e que ainda agora se mantém, é a da constante e regular alteração e adaptação das regras. Grosgeorge referenciava, em 1996, que as leis do jogo tinham sido alteradas 25 vezes em 100 anos da sua história (Grosgeorge, 1996).

A razão geral invocada é a de melhorar o jogo. O próprio Naismith não hesitou, desde o início, em proceder a sucessivas alterações às suas treze regras para, no seu entender, aperfeiçoar o jogo: é exemplo disso a alteração do número de jogadores efectivos que no início era de nove contra nove (decorrente de a turma inicial onde o jogo se praticou ter dezoito alunos) e passou sucessivamente para sete contra sete até se estabilizar no jogo adulto em cinco contra cinco. A título de curiosidade diga-se que se chegou a praticar o “exagero” de jogar basquetebol 50 contra 50, seguindo o exemplo dado por Naismith da separação dos alunos em duas equipas. Outro exemplo foi a modificação do material usado para “alvo”, que evolui dum cesto de pêssegos para um aro de metal com rede, passando por estruturas intermédias. É que ir sistematicamente buscar a bola ao cesto subindo a um escadote não dava muito jeito, principalmente quando se começou a ser mais eficaz no lançamento..

É aqui o lugar certo para invocar o conceito de “espírito do jogo”, o qual define  aquilo que se deveria respeitar e manter sempre, apesar das constantes e regulares alterações à letra das regras. Desde o seu fundador, todas as mudanças das regras são feitas tentando não ferir esse núcleo que dá o carácter ao jogo e que, sem ele, o transformaria noutro jogo completamente diferente.

Como sabemos a mudança frequente e regular das regras continua a ser uma imagem de marca do Basquetebol e tem vindo, aliás, a ser imitada por outros desportos, adoptando o hábito de reformularem as suas regras por ocasião dos eventos mundiais. A este respeito queremos tecer algumas considerações. Por um lado é evidente que algumas das regras e práticas iniciais, por demasiado desadequadas teriam de ser objecto de alteração: veja-se a já mencionada questão do número de jogadores por equipa. Por outro lado, é até de admirar que algumas regras tenham durado tantos anos: a reposição da bola fora, desde o início e durante alguns anos (Herr, 1980; Olivera Betrán, 1984) pertencia à equipa do jogador que tocasse na bola em primeiro lugar depois da bola ter saído do campo. Não é difícil de imaginar o que acontecia na altura, nas condições de ginásios acanhados e cheios de aparelhos e recantos… com os jogadores a lançarem-se ao chão para tocarem a bola primeiro que os adversários. Mesmo a preocupação com a ausência de brutalidade foi durante bastante tempo mais uma intenção do que uma realidade, embora o código de jogo previsse, e as faltas realmente marcadas originassem, punições exemplares (Herr, 1980). Newell (Newel & Nater, 2008) refere como o jogo desde o seu início (primeiras décadas do século XX) se tornou extremamente físico e outro notável do Basquetebol, como o treinador John Wooden, (Wooden & Nater, 2006) menciona a forma “faltosa”, como os jogadores do início do século aplicavam os bloqueios ofensivos, dado que não estavam devidamente definidos os critérios posteriormente adoptados de bloqueio ilegal. Eles sabem do que falam de experiência feita pois jogaram nessas décadas.

Robert Busnel (1963), antigo treinador francês e comissário técnico internacional, dá conta de outros aspectos da temática dos regulamentos e da sua incidência no jogo. Segundo ele, houve, ao longo da história do jogo, uma verdadeira luta entre o legislador e os técnicos, não esquecendo os árbitros de permeio. Continuando com a opinião de Busnel, a obtenção da vitória a qualquer preço levou os treinadores à procura das formas mais “inventivas” e “subtis”, muitas das quais se poderiam considerar fora do espírito de jogo ou mesmo antidesportivas. Dá exemplos, como o da prática da retenção da bola durante longos minutos que tornaram o jogo extremamente aborrecido para os espectadores. Contudo, as contínuas e regulares modificações das regras foram sendo capazes de contrariar estas “tácticas nefastas” dos treinadores. Fizeram-no através das regras definidores do tempo e de espaços do campo: limite de 10 ou posteriormente 8 segundos para passar o meio campo; limite de 30 ou posteriormente 24 segundos para lançar; impossibilidade de retorno ao campo defensivo (Regulamento FIBA).

As inovações que os jogadores e/ou os técnicos trazem regularmente para dentro do campo, requerem por vezes uma adaptação das regras de modo a integrarem do modo mais positivo possível essas mesmas novidades. A capacidade dos jogadores, por exemplo, no acto de afundar com grande potência trouxe a necessidade de alterar as instalações e os materiais de jogo, tais como as tabelas e aros. Diga-se, em abono da verdade, que as regras só “limitam”, a montante, marcando certas balizas sobre o que o jogador não pode fazer. A jusante, no entanto, há todo um infinito de liberdade que cabe aos jogadores e treinadores explorar. E isso é tão verdade que, retroactivamente, os legisladores sentem necessidade de voltar a alterar as regras, tais são os caminhos desbravados pelos seus actores principais.

Por vezes é o papel do árbitro e a sua interpretação errada das regras que leva a que o espírito do jogo seja beliscado. Busnel criticava a forma como os árbitros da década de 50 e 60 do século XX protegiam demasiadamente os comportamentos dos gigantes.

A evolução tecnológica é outro factor importante na dinâmica da alteração ou aplicação das regras. Torna possível, e a um preço razoável, dotar os campos com marcadores electrónicos e relógios estrategicamente colocados por cima das tabelas, os quais facilitam a jogadores, árbitros, oficiais de mesa e espectadores, jogar e/ou apreciar melhor as acções de jogo, principalmente as decisivas.

O próprio acaso e as condições da prática tiveram por vezes uma influência conformadora de algumas das características fundamentais deste jogo. Veja-se a criação das tabelas que foram a resposta necessária para evitar a participação indesejada dos espectadores que estavam nas galerias por trás do cesto. A introdução das tabelas permitiu o aparecimento daquilo que é hoje uma característica incontornável do jogo, o ressalto, assim como uma maior facilidade de concretização e um desafio à versatilidade nos recursos técnicos de lançamento.

Por fim, diga-se que a continuação das sucessivas alterações às regras, que, lembre-se, não foram e não são iguais em todos os locais (e entidades reguladoras) onde se pratica este desporto, mesmo dentro do seu país de origem, tem ainda outras motivações muito variadas. Para além de Naismith e do Y.M.C.A., várias foram as instituições (a N.C.A.A., por exemplo) e interesses que se apropriaram e deram impulsos ao desenvolvimento do Basquetebol. Era de imaginar que um país e um povo tão múltiplo e dinâmico como o dos EUA, impusesse também ao Basquetebol, amplas modificações, nem sempre consonantes com os ideais originais do seu criador. No basquetebol feminino, refira-se que houve até muito tarde, já dentro do século XX (até aos anos sessenta) um enclausuramento em regras especiais que em nada contribuiram para a evolução do jogo das suas praticantes. Só os confrontos internacionais das equipas femininas vieram trazer a benéfica uniformização das regras sem olhar ao sexo dos jogadores.

Sistematização de causas de alteração às regras

Assim, quanto a modificações às regras, poderíamos classificá-las segundo a sua decorrência ou não de estudos prévios: assim, existem aquelas que se fundamentam em estudos ou em evidências que apontam para um maior dinamismo, velocidade ou espectacularidade ao jogo ou para um maior equilíbrio entre a defesa e o ataque. Outras, por sua vez, baseiam-se em motivações de natureza meramente comercial, num desporto que desde há várias décadas é, reconheça-se, um desporto-espectáculo à escala global, na sua faceta de alta competição. Existe até uma realidade original no mundo desportivo: um campeonato, a NBA, que é  um mundo simultaneamente fechado e aberto onde se acumulam os maiores talentos de todo o mundo e que é um espectáculo global e um negócio de valores milionários. E tem algumas regras tão “próprias” que não são aceites pela totalidade das federações desportivas do universo desportivo mundial.

Dentro do “espírito do jogo” atrás já mencionado - e que deveria ser uma referência incontornável sempre que se proceda a qualquer tipo de alterações - e sem estar aqui a reproduzir os já bem conhecidos cinco princípios fundacionais do jogo e as treze primeiras regras, faremos duas citações do inventor do Basquetebol que consideramos extremamente interessantes e que servem para balizar de uma forma precisa esse mesmo espírito do jogo: “pôr todo o coração e todas as suas forças na procura da vitória, mas manter constantemente o controle das suas reacções” (Herr, 1980, p. 9) e, novamente citado em Herr, “a vitória deveria ser apanágio, não da equipa mais possante e mais violenta mas da equipa mais hábil, mais organizada e mais educada”. Mais uma vez aparece o discurso moralizante, de que não duvidamos, diga-se, da sinceridade do seu autor. Está até documentada a forma desprendida e desinteressada como James Naismith lidou com a sua invenção – e não só – durante décadas, não ganhando dinheiro com ela, num tempo em que competições profissionais, envolvendo altos montantes, existiram quase desde a sua invenção (Cantwell, 2004).

(Continua na próxima semana)

 

 


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