O desporto é pródigo em pegar em individualidades e a pô-las em destaque na montra mundial, aos olhos de milhões de espetadores.

Desde os primórdios que a humanidade evidencia quem, por uma razão ou outra, se destaca. O desporto não foge a esse princípio e, com o passar dos tempos, a introdução de uma economia que gera milhões acaba por sobrepor a individualização ao conceito de equipa.

Nas últimas 3 décadas as marcas desportivas (e não só) tomaram conta de pegar em atletas e fazerem deles autênticos produtos de mercado, explorando todos os aspetos das suas vidas, ao ponto de muitas das vezes intrometerem-se na vida dos clubes, fazendo com que estes moldem os seus horários de treinos com os compromissos publicitários dos jogadores.

Em Espanha o conceito de ídolo, na modalidade de basquetebol, tem um significado enorme, significado este que começa logo a ser construído de baixo para cima, ou seja, o excelente trabalho realizado na formação vai a médio/longo prazo criar jogadores de top, procurados pelos melhores clubes do mundo, que irão ter um grande impacto nas gerações mais novas.

Quem acompanha o basquetebol espanhol recorda-se certamente de Fernan Martinez, talvez o primeiro grande ídolo da modalidade no pais vizinho, que jogou nos Portland Trail Blazers, Real Madrid e Estudiantes . Viria a falecer num acidente de carro, o que seria um grande choque para toda a Espanha. Mas claramente a última década trouxe o maior conjunto de ídolos dos jovens em Espanha, nomes como Pau Gasol, Marco Gasol, Rudy Fernández, Sergei Lloll, José Calderon, Jorge Garbajosa entre outros.

Em Portugal o conceito do ídolo tem vindo a perder força, muito deve-se ao facto da modalidade cada vez ter menos impacto nas gerações mais novas e a estrutura que a suporta deveria ser mais ativa em destacar aqueles que, no passado, construíram o caminho para que a modalidade pudesse ser apreciada e praticada por milhares de jovens.

As referências são bastante importantes na construção de um jogador e especialmente de um jovem, e eu ainda sou da altura em que estar no mesmo pavilhão vendo jogadores como Carlos Lisboa, Henrique Vieira, Pedro Miguel, Rui Santos, Raul Santos, Steve Rocha, Paulo Pinto, entre outros (para não recuar mais atrás e destacar nomes como Manuel Campos, Mário Mexia, Rui Pinheiro ou Mário Albuquerque), era um acontecimento que marcava um jovem pois poderíamos mais tarde imitar tudo aquilo que víamos.

Nos dia de hoje temos grandes jogadores no nosso basquetebol, Sérgio Ramos, Carlos Andrade, João Santos mas o divórcio entre o público e a modalidade está para ficar, comprovando-se com os números de espetadores que semanalmente visitam os pavilhões, fazendo com que os jovens de hoje em dia não tenham uma referência, ídolos ali bem perto para poder ver ao vivo com regularidade.

É importante refletir sobre o facto que deveríamos enquadrar ex-jogadores de outros tempos, que viveram o basquetebol de uma forma que infelizmente não é vivida hoje em dia, de forma a que dessem um contributo importante nas diversas áreas da modalidade, na parte técnica, organizacional e/ou pedagógica.

Este aspecto é-me particularmente sensível devido ao facto que, nos Campos MVP, decidimos todos os anos ter uma personalidade ligada ao nosso basquetebol junto dos 32 atletas, de modo a que possam partilhar experiências, tanto em termos de basquetebol, como em termos de outras vivências. Neste sentido em 2010 e 2011 foram muito importantes a presença do Professor Mário Barros e de San Payo Araújo respetivamente.

Como diria Bento de Jesus Caraça “ Um povo sem memória, é um povo sem futuro.”

Este texto está redigido segundo o novo acordo ortográfico