Ambição não nos vai faltar
 
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Ambição não nos vai faltar

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Mariyana KostourkovaMariyana Kostourkova é selecionadora nacional das sub-18 femininas e responsável pelo CAR Jamor. É também a única mulher em Portugal com títulos nacionais no principal escalão feminino

enquanto jogadora (5) e treinadora (1). Recentemente foi escolhida entre as 100 pessoas mais influentes dos primeiros 100 anos de história do basquetebol português e este verão conseguiu a melhor classificação de sempre do basquetebol feminino nacional, ao conduzir a seleção de sub-18 ao Nono lugar da Divisão A no campeonato europeu que se disputou na Croácia. Ela é a nossa próxima convidada.


Mariyana, antes de mais, obrigado por teres aceite o nosso convite para responder às nossas questões.

Entre a subida do ano passado à divisão A e a permanência deste ano com a melhor classificação de sempre do basquetebol feminino, qual destes dois momentos tem ou teve mais importância para ti?
Os dois feitos foram importantes, mas o mais difícil e o mais valioso foi o nono lugar e a consequente permanência na Divisão A.

Por outro lado, este nono lugar não seria possível sem a medalha de bronze conquistada no verão passado. Para além da subida em si, foi também muito importante a aposta em algumas atletas mais jovens. Aposta essa que este ano deu os seus frutos. Foi uma aposta feita com base da evolução destas tanto nos clubes como no CAR.

Quais foram as principais dificuldades que encontraram durante a preparação para o Campeonato da Croácia?
O principal problema foi a falta de jogos de preparação contra equipas fortes. Na nossa preparação tivemos jogos com as nossas Sub-16, com a Estónia da Divisão B e a Inglaterra que no ano passado também subiu para a divisão A.

Alem disso, fomos obrigados a construir a equipa em movimento: a Laura Ferreira juntou-se à equipa 10 dias depois das companheiras (porque esteve com as Sub-20) e a Maria Kostourkova e a Chelsea Guimarães apenas se juntaram ao grupo na véspera da partida para a Croácia (depois de terminar o campeonato de Sub-16).

A prova não começou bem. Três jogos, três derrotas (Suécia, Servia e Grécia). O que não correu bem nesta primeira fase da competição à sua equipa? Quais foram os maiores problemas que a sua equipa teve de enfrentar?
O campeonato não começou nada bem por falta de bom ritmo de jogo, que se ganha nos jogos mais competitivos, por alguma falta da experiência e também pela falta de poder físico, nomeadamente nos jogos diante da Suécia e da Sérvia.

Nos três jogos seguintes diante de Reino Unido, Bielorrússia e Eslováquia, a sua equipa conseguiu dar a volta, vencendo os três. Qual foi para ti o jogo mais importante e porquê?
Cada jogo desta fase foi muito importante, pois precisávamos de cada vitória para acreditarmos no nosso valor, para ganharmos confiança enquanto equipa e para darmos um passo em frente e colocarmos os nossos adversários em sentido. Entrámos em cada jogo com grande determinação e o ponto alto desta segunda fase foi o jogo contra a Eslováquia (ganho após prolongamento) e onde a equipa mostrou grande caráter e vontade de vencer.

Seguiu-se o jogo com as croatas que poderia decidir logo ali a permanência na divisão A. Mesmo jogando contra a equipa da casa, a nossa seleção saiu vitoriosa e garantiu a permanência no escalão máximo. Qual foi a chave do sucesso?
A chave do sucesso neste jogo foi a garra que a equipa mostrou durante todo o desafio. Mesmo estando a perder por 7 pontos a 1 minuto e 57 segundos do fim a equipa não desistiu, deu tudo o que tinha, empatou o jogo e acabou por vencê-lo no prolongamento. Neste jogo mostramos que o jogo coletivo era a nossa maior arma e a prova disso é não só o resultado deste jogo, mas todo o sucesso alcançado ao longo do campeonato. Fomos sempre uma equipa forte e dominadora em todas as fases do jogo, com cada atleta a contribuir e a dar o seu máximo pelo conjunto.

A série gloriosa da sua equipa continuou com mais duas vitórias, que elevaram o pecúlio para seis triunfos consecutivos. As últimas vítimas foram a Republica Checa e a Grécia. O seu comentário?
Pessoalmente sempre acreditei que iríamos ganhar os últimos dois jogos. A minha experiência enquanto jogadora diz-me que em jogos como estes, nesta fase da competição, uma equipa pode fazer jogos espetaculares mas também pode fazer maus jogos (caso entre em campo sem vontade e demasiado descontraída). Ao longo da prova, as nossas atletas mostraram uma grande ambição para ir muito mais além do que a permanência na divisão A.

Contra a Republica Checa jogamos sem a nossa capitã Laura Ferreira e no último jogo contra a Grécia, sem a Laura e sem a Joana Soeiro (ambas lesionadas), e mesmo nestes dois jogos as miúdas mostraram a força do coletivismo e da sua ambição.

Depois de teres participado na prova máxima do escalão de sub-18 feminino deste ano, quais são na tua opinião, as principais tendências do basquetebol feminino actual?
O ritmo de jogo, a intensidade, o elevadíssimo conhecimento do jogo e a capacidade de tomar as decisões certas… São estas as tendências do basket feminino nesta idade e acredito também que são as mesmas ao nível sénior. É pena que não tenhamos mais contacto e mais jogos com equipas de Espanha, que domina a Europa em todos os escalões e onde se joga um basket muitas vezes tão simples, mas com um ritmo elevadíssimo e uma agressividade impressionantes, França, Holanda, Sérvia, Rússia e Itália. Foi um privilégio e um prazer poder observar todas estas equipas. Não há dúvidas que são estes países que mostram as novas tendência no basquetebol.

Como selecionadora nacional de sub-18 e responsável do CAR Jamor acha que Portugal tem raparigas com talento e porquê?
Sim, sempre disse que existem em Portugal várias atletas com muito potencial e talento. A prova disso é que nos últimos anos temos tido sucesso ao nível da formação. Foram essas mesmas miúdas que confirmaram o seu potencial e demonstraram que um país pequeno como Portugal se pode bater de igual para igual com os grandes!

O talento é suficiente para conseguir resultados no futuro ou existem outros fatores, na tua opinião?
É óbvio que o talento por si não é suficiente e infelizmente temos muitas provas disso. A partir da agora começa o trabalho mais difícil e mais importante para esta geração.

Ter talento poderá não ser suficiente para chegar a jogar numa equipa sénior de bom nível. Há que ter ambição para atingir patamares mais altos.

Alem disso, estas jovens têm ainda um longo caminho a percorrer, a começar pela continuidade de um trabalho específico, até aos 21-22 anos altura em que terminam a sua fase de formação. Devem ter também muita dedicação ao trabalho, vontade da aprender com as mais velhas e experientes, muito empenho e muita humildade.

Estes são os fatores que dependem apenas de cada uma delas. Existem outros que não podem controlar, como por exemplo a competividade na Liga Feminina, que ano após ano fica mais fraca. Se as nossas atletas forem inseridas numa prova nacional de alto nível, será fantástico para a sua evolução e para a evolução do próprio basquetebol português.

Paul Nilsen, colunista do site da FIBA para o basquetebol feminino, elegeu-te como a "sua" treinadora do torneio disputado na Croácia. Qual é para ti o significado desta "distinção"?
Significa simplesmente que o basquetebol português, através da sua representante, a equipa de Sub-18, deixou a sua marca em terras croatas, que mereceram esse comentário.

O que podemos esperar para o próximo verão da seleção nacional feminina de sub-18?
Espero que possamos ter uma preparação mais adequada para chegar ao campeonato mais bem preparadas. Vamos tentar fazer outro bom campeonato, ver a evolução e o crescimento das nossas atletas e garanto-vos que ambição não nos vai faltar.

 

Comentários 

 
+4 #2 Humberto Gomes 09-10-2013 21:53
Cara companheira Mariyana,
Em dado momento, face a um resultado menos feliz das tuas meninas, teci um comentário nada abonatório
- estava comigo o nosso comum companheiro e amigo Jorge Fernandes (director da ENB) -. Fui precipitado e injusto na análise, até porque não dispunha de dados objectivos. É meu dever apresentar-te desculpas públicas.
Pelo 9º lugar conquistado, pela ascenção ao grupo das mais fortes, pela atitude consistente e "guerreira" da equipa, como muito bem refere o San Payo, quero muito felicitar-te e desejar-te todo o sucesso nas batalhas vindouras.
Com amizade e admiração, parabéns envolvido num terno beijinho.
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+5 #1 San Payo 09-10-2013 17:40
A escolha para os cem nomes foi premonitória. A confirmação da inteira justiça desta escolha está à vista.

Não vi os jogos, mas virar num jogo decisivo 7 pontos a 1 min e 57 seg do fim só é possível com uma atitude consistente e "guerreira".

Sou dos que acreditam que uma equipa é um pouco a imagem do seu treinador, neste caso treinadora, e tenho a certeza que para o ano que vem teremos novamente uma equipa consistente e "guerreira"

Um beijinho de parabéns para ti Mariyana.
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