Pedagogia da Arbitragem
 
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Pedagogia da Arbitragem

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Vítor PereiraA leitura da entrevista dada pelo presidente do Conselho de Arbitragem da Liga de Clubes de Futebol Profissional, Vítor Pereira, dada ao jornal Record do passado sábado dia 22 de Março

despertou a minha preocupação e reflexão quanto ao tema Arbitragem. Naturalmente orientando as ideias para o contexto do basquetebol, pensar na Arbitragem de um jogo colectivo é pensar numa das suas partes estruturais importantes e sem a qual o conceito de Desporto fica subvertido.

A primeira conclusão tirada ao ler a entrevista de Vítor Pereira é de que o ser humano, passados 2 milénios, parece tender para persistir nos mesmos erros, destruindo de forma erosiva os mecanismos que construiu ao serviço da valorização da sua existência. Assim, se a Antiga Grécia fomentou e valorizou as atividades corporais e os jogos como forma de enaltecer a natureza humana, os nossos antepassados Romanos encarregaram-se de deturpar, corromper e fazer apodrecer esta ideia. Não queremos com isto desenvolver este tema senão o de realçar a raiz subjacente às inquietações de uma das partes integrantes do fenómeno desportivo – A Arbitragem. O profissionalismo da atividade desportiva bem como a sua transformação num negócio rentável, traz consigo o que demais primitivo poderá ainda considerar-se existir na nossa natureza humana.

O propósito desta reflexão não se direcciona para a forma como os “adultos” manipulam e interagem em torno da competição, mas antes para a forma como poderemos transmitir bons exemplos para quem inicia a prática de uma modalidade desportiva, sendo inevitavelmente o Treinador o líder através dos exemplos que fornece aos demais agentes intervenientes. E à semelhança dos mecanismos utilizados no âmbito da prevenção rodoviária, é na base que se deverá semear uma nova consciência na prática desportiva. A liderar este processo deverá estar um treinador experiente, que coordene a actividade de treinadores eventualmente menos experientes, mas desde o início da sua actividade fomentem uma conduta adequada em competição.

Se os Romanos não conseguiram colocar ao seu dispor formas de credibilizar a natureza das actividades corporais que fomentaram durante o seu Império, hoje, o fenómeno desportivo conta com uma ferramenta de consciencialização poderosa – A Pedagogia do Desporto. Concretamente no Basquetebol também a Pedagogia do Basquetebol está presente na formação do treinador de crianças e jovens. Não tem o poder de um forte antibiótico, aniquilando definitivamente toda a actividade viral nociva ao desenvolvimento e formação desportiva da criança, mas parece, paulatinamente despertar consciências e possibilitar aqui e ali boas condutas.

Ao falarmos de Pedagogia do Basquetebol deveremos incluir o papel, também ele pedagógico de quem arbitra. É nesse sentido que deveremos entender a presença dos Juízes como elementos capazes de dar vida a essa mesma pedagogia, mas igualmente entender que o acto de arbitragem é em si um caminho idêntico à aprendizagem do jogo por parte dos jogadores. Nesse mesmo caminho a responsabilidade, a autoridade e a competência para arbitrar um jogo de basquetebol, são atributos que em muitos casos têm o seu próprio ritmo de aprendizagem, com avanços, recuos e constrangimentos bem difíceis de superar.

O primeiro grande conflito para um jovem árbitro principiante prende-se com a procura de equilibrar questões tais como: a aplicação rigorosa das regras; a aplicação rigorosa de uma sinalética de arbitragem, permitindo a identificação do que realmente não está a ser cumprido; conhecer e entender o jogo praticado pelos que também iniciam; lidar com o entusiasmo dos que apoiam e a ignorância dos que pressionam; conseguir comunicar com os jogadores através de uma didática própria.

Perante o que referi, facilmente constatamos que em nada parece ser fácil dirigir um jogo de sub-14 ou até mesmo sub-16. Se juntarmos a estes factos a inexperiência de muitos treinadores de formação, estamos perante um contexto que deverá merecer a maior atenção por parte de todos os agentes desportivos se realmente quisermos transformar a nossa competição desportiva. Não creio que futuros presidentes de Conselhos de Arbitragem venham a sentir necessidade de expor a público preocupações da dimensão das que Vítor Pereira refere na sua entrevista, mas preocupa-me se numa fase em que todos nós sentimos necessidade de reconstruirmos o nosso Basquetebol nacional, não dermos o real valor à “prevenção desportiva”.

Saliente-se que têm sido concretizadas iniciativas de grande valor pedagógico. Recordo a oportunidade de, no âmbito das minhas funções na modalidade ter assistido a uma fase final do então Torneio Nacional de Sub-14 Masculinos, organizado pela Associação de Basquetebol do Porto. Nessa fase final, uma equipa de psicólogos do desporto desenvolveram um trabalho riquíssimo onde, em momentos de pausa dos jogos, eram projectadas para as bancadas imagens de apelo a um bom espírito desportivo. O apelo dos filhos à boa conduta dos Pais, pareceu consistir de uma forma pedagogicamente eficaz de centrar a actividade de quem estava nas bancadas no que realmente é importante – apoiar, enaltecer com entusiasmo a actividade dos que no campo dão o seu máximo. Esta iniciativa possibilitou criar um ambiente mais favorável para que também os árbitros (reveladores de alguma experiência e competência) não fossem julgados como as causas determinantes de momentos menos bons dos atletas e do resultado que não interessava a uma das equipas.

Não obstante o exemplo acima partilhado convosco, parece ser importante, à semelhança do que se faz na formação inicial dos treinadores, acompanhar quem na arbitragem se inicia. Assim procuram os diferentes Conselhos Distritais de Arbitragem fazê-lo, nas suas associações, dentro das suas possibilidades.

Em complemento, considero igualmente importante que os árbitros possam, na sua formação de formadores e formação inicial conhecerem aquilo que é o jogo dos sub-14, desde as equipas mais evoluídas até às que ainda revelam um jogo pouco intencional e carente de ser enriquecido com os resultados de um correto ensino do jogo e desenvolvimento das capacidades dos jogadores que nele intervêm.

Quando no nosso país nos consciencializarmos de quais são as verdadeiras necessidades e prioridades na iniciação e formação desportiva de uma criança e jovem, seja praticando seja arbitrando, vamos finalmente entender que a arbitragem no desporto juvenil é uma parte integrante da formação desportiva e não algo que deva estar distanciado e protegido à semelhança do que na alta competição é feito. Se uma prevenção e consciencialização for, passo a passo, fomentada no Basquetebol, provavelmente poderemos, num futuro próximo voltar a constituir referência para outras modalidades, à semelhança do que foi feito quanto à figura social do Treinador.

 

Comentários 

 
-1 #6 Sérgio Silva 27-03-2014 15:33
Caro João,
Não posso estar mais de acordo com o seu ultimo comentário (#4). Esse é o caminho...
Formar árbitros para servirem a modalidade e não a modalidade os servir a eles.
Tal como escreveu o Humberto Gomes, admito e concordo que (infelizmente) ainda há um longo caminho a percorrer, mas é para isso que cá estamos e é nesta linha que devemos dirigir a nossa/minha intervenção fora do campo.
Um bem-haja a todos.
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+1 #5 Humberto Gomes 27-03-2014 11:32
Meu caro João Ribeiro,

Dizes e bem que não é teu hábito comentares o que escreves - e é realmente verdade !-.
Face à tão grande importância da questão, e à visão e contributo oferecidos, apenas duas palavras : comentaste, está comentado !
Queira Deus que esse cérebro continue a ser bem irrigado e que o pensamento e as palavras a expressá-lo permanençam entre nós por muitos e bons anos ! Haja quem, em condição de tomar decisões, possa "alinhar" com esses teus brilhantes contributos.
. Estou na "onda", deixa-me só dizer-te isto: expressas como muito poucos a diferença entre o "vão por ali" e "SIGAM-ME". Vou continuar a seguir-te.
É um previlégio ter-te com companheiro e amigo.
Aquele abraço.
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+1 #4 João Ribeiro 27-03-2014 09:22
E no propósito do comentário anterior, permitam-me o atrevimento, mas ao nível da iniciação à arbitragem e ambicionando, tal como o treinador de jovens, que possamos ter bons futuros seniores (neste caso árbitros) é importante o formador de juízes / responsável pelos CAD fomentar um acompanhamento semelhante ao treinador de jovens fomentando comportamentos e atitudes tais como: o compromisso, a competência, a lealdade, a pontualidade, investimento pessoal, noção de hierarquia, trabalho por objectivos, elogio, façam parte da filosofia de trabalho. Creio que são exemplos desta natureza que fidelizam jogadores (associados ao gosto pelo jogo), acredito que poderão constituir grandes argumentos para fomentar igualmente o gosto, sem medos, pelo acto de arbitragem. Obrigado pelos importantes contributos contidos nos comentários apresentados. Creio valorizarem o artigo.
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0 #3 João Ribeiro 27-03-2014 09:22
Companheiros. Não é meu hábito comentar o que escrevo, pois o conteúdo do mesmo pretende mais ser um contributo do que outra coisa que pense.
No entanto, tenho de expressar o meu agrado pelo facto de neste momento existirem comentários de árbitros e treinadores.
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0 #2 Humberto Gomes 26-03-2014 19:03
Mais uma, meu caro João Ribeiro. Mais uma atenta e serena reflexão sobre um tema e, mais do que isso,sobre uma determinada forma de estar nestas "coisas" da iniciação do basquetebol, em termos dos primeiros passos face à competição.
Muito realmente já se caminhou no que aos treinadores diz respeito. Pedagógicamente os conteúdos transmitidos, quer na parte curricular dos cursos, quer no decorrer do estágio, constituem hoje um forte contributo para a formação dos treinadores de crianças e jovens.
Interessante o comentário do Sérgio Silva, que, para além da muita qualidade técnica que evidencia no uso do apito, sabemos que dedica muita atenção à formação dos àrbitros. Só que nesta àrea há ainda um relativamente longo caminho a percorrer. O nível dos cursos, regra geral, decaíu - veja-se a redução da carga horária dos mesmos - e o acompanhamento a nível regional é manifestamente insuficiente.
Aquele abraço, João.
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+1 #1 Sérgio Silva 26-03-2014 17:13
Os meus parabéns por esta óptima leitura sobre a tarefa arbitrar. Efetivamente cada vez mais nos dias que correm, existe uma enorme procupação dos Conselhos de Arbitragem Distrital em dirigir as suas formações para a Arbitragem nos escalões de formação, sendo que Roma e Pavia não se fizeram num dia...
Por diversas vezes me refiro ao conceito de árbitro iniciado para um jogo de iniciados, mas infelizmente todos desejamos árbitros seniores em todas as categorias e escalões.
A pirâmide de formação/recrutamento continua invertida, mas cabe-nos a nós todos os agentes da modalidade em geral e da arbitragem em particular, continuar a trabalhar para a inverter.
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