Esta semana o Planeta Basket vai dar o devido e merecido destaque a Carlos Humberto Lehmann de Almeida Benholiel Lisboa Santos, mais conhecido por Carlos Lisboa, um homem que marcou uma era no nosso basquetebol. E não só.
Nascido na Praia, Cabo Verde no dia 23 de Julho de 1958, casado e com três filhos, Carlos Lisboa é hoje em dia a única personalidade da modalidade com títulos nacionais como jogador, dirigente e treinador com participação direta nas equipas vencedoras. Tem um palmarés repleto de títulos, nacionais, 44 no total, dos quais se destacam, como jogador, 14 campeonatos nacionais, 6 Taças da Liga, 5 Supertaças e 8 vitórias na Taça de Portugal.
Recentemente foi escolhido com toda a naturalidade como uma das 100 pessoas mais influentes dos primeiros 100 anos da história do basquetebol português aqui no site Planeta Basket.
Carlos Lisboa é tambem o detentor do recorde de triplos convertidos num só jogo da antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus. Em 1995 diante do Partizan, Lisboa converteu 10 em 15 tentativas da linha de 3 pontos, superando o registo do histórico Drazen Petrovic, que em 1986 havia estabelecido o anterior máximo (10/16).
Tudo começou nos campos de minibasquete em Moçambique, onde aos 9 anos de idade o jovem Carlos deu os primeiros passos na modalidade no Sporting de Lourenço Marques.
Em 1974, chegou a Portugal juntamente com os seus pais e irmãs e juntou-se com malta amiga no SL Benfica. Esse primeiro ano no clube lisboeta, como Juvenil, não correu bem e como o próprio afirma "Por não jogar tanto quanto pretendia decidi sair do clube da Luz e cheguei temporariamente a ponderar a minha continuação no basquetebol."
Uns meses depois, entrou em cena o seu ídolo, Mário Albuquerque, outra grande lenda do basquetebol nacional, que em 1975 o motivou a regressar à modalidade vestindo a camisola do Sporting CP, no escalão de Juniores. Consta que o jovem Lisboa assistia aos treinos da equipa sénior com as sapatilhas ao seu lado e preparado para entrar em campo caso fosse necessário.
A sua ligação ao Sporting terminou em 1982, com 3 Campeonatos nacionais e 2 Taças de Portugal conquistados. Em 1982 Carlos Lisboa é obrigado a sair de Alvalade porque o Sporting CP decidiu suspender a actividade da sua equipa principal de basquetebol. Com várias propostas em cima da mesa, optou por assinar pelo Clube Atlético de Queluz, onde jogou durante os dois anos seguintes. E logo na primeira época no clube do concelho da Sintra venceu o seu primeiro grande trofeu, a Taça de Portugal ao derrotar na final o SL Benfica por 86-85. Na época seguinte, 1983/84, o CAQ conquista o seu primeiro campeonato nacional e o seu melhor jogador acaba por sair para um clube que lhe permitirá sonhar ainda mais alto, o SL Benfica.
Em 1984, com 26 anos de idade, Carlos Lisboa regressa à Luz e volta a vestir a camisola do clube que viria a representar até final da sua brilhante carreira enquanto jogador, doze anos mais tarde.
Logo na sua primeira temporada na Luz, Lisboa conquistou o primeiro campeonato com os encarnados, ajudando a colocar um fim a uma seca de títulos que durava já há 10 anos. Este título marcou o início de um dos mais gloriosos períodos do clube na modalidade, com as conquistas de 10 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal, 6 Taças de Liga e 5 Supertaças.
Mas o maior reconhecimento veio da Europa. A equipa de Carlos Lisboa e Mário Palma levou o nome do Benfica e de Portugal além-fronteiras com os encarnados a surpreenderem vários nomes sonantes do basquetebol europeu. Os adeptos portugueses enchiam o antigo pavilhão da Luz para observar in loco o Benfica a competir com grandes potências do basquetebol europeu como o Real Madrid, Barcelona FC, Joventud Badalona (Espanha), Partizan Belgrado (Sérvia), Maccabi Tel Aviv (Israel), Kinder Bologna, Cantu (Itália), Panathinaikos, PAOK e Aris Salónica (Grécia), PAU Orthez (França) e CSKA Moscovo (Rússia), entre outras. Na edição da Euroliga de 1995/96, chamada na altura “Campeonato Europeu de Clubes”, Carlos Lisboa estabeleceu praticamente todos os recordes de jogadores nacionais na prova rainha do basquetebol europeu. Além das suas médias de 18.2 pontos, 3 ressaltos e 1.1 assistências por jogo, Lisboa foi o jogador que mais triplos converteu com uma média de 3.7 por jogo. Num dos jogos mais sonantes da sua carreira, como jogador, marcou 45 pontos contra o Partizan de Belgrado, num jogo que valeu ao Benfica o apuramento à fase seguinte da competição. Nesse mesmo ano marcou 32 pontos ao Panathinaikos, na Luz, a equipa que viria a sagrar-se campeã europeia e que contava entre outros com os incríveis Dominique Wilkins, Fragkiskos Alvertis, Stojan Vrankovic e Panagiotis Giannakis. O PAU Orthez de Fabien Dubos e Antoine Rigaudeau foi outras das vítimas de Lisboa, que anotou 32 pontos diante dos franceses.
Depois de uma carreira recheada de êxitos, o histórico # 7 dos encarnados perdeu o último jogo da sua carreira, ao ver a sua equipa ser derrotada pelo FC Porto na final do Campeonato Nacional. Essa derrota foi considerada por ele próprio como a grande mágoa da sua carreira e a única que gostaria de mudar caso o pudesse fazer (fonte FPB).
Não é fácil falar sobre feitos da uma lenda de basquetebol que ainda se mantem no ativo. E apesar do site Planeta Basket tentar focar esta semana dedicada ao Carlos Lisboa na sua extraordinária carreira enquanto atleta, não podemos deixar de sublinhar alguns dos seus feitos mais recentes.
Em 2005/06, Lisboa foi convidado pela direção presidida por Luís Filipe Vieira para regressar ao Benfica e assumir as funções de Diretor desportivo. Na época de 2006/07, já como dirigente, convidou o seu antigo companheiro de equipa Henrique Vieira para ser treinador principal. Esta dupla construiu as bases para o sucesso da equipa encarnada, que 14 anos depois, foi capaz de trazer os títulos de volta para a Luz, à semelhança do que tinha acontecido em 1984, aquando do regresso de Lisboa à Luz como jogador (em que conquistou 10 campeonatos nacionais dos 12 em disputa). As bases criadas na estrutura encarnada foram de tal forma sólidas que desde que iniciou as suas funções como Diretor-geral das Modalidades, o SL Benfica conquistou – no que ao basquetebol concerne, 11 títulos nacionais nos escalões de formação (tendo, na época de 2011/2012 alcançado um feito único e histórico a nível nacional, com o pleno de títulos, em todos os escalões de formação e sénior), relançando ainda e com bases sólidas o basquetebol feminino no Clube.
A partir de 2011, Carlos Lisboa passa a acumular as funções de treinador principal com as que já desempenhava, de diretor-geral das modalidades do SLB. E, até à presente data, conquistou mais 2 títulos nacionais, 2 Supertaças, 1 Taça de Portugal, 2 Troféus António Pratas e 2 Taças Hugo dos Santos, sendo o único desportista, em Portugal, que alcançou títulos nacionais, quer como jogador (34), quer como treinador (11), quer como dirigente (6).
O Planeta Basket não desiste de dar a conhecer, principalmente aos mais jovens, os grandes jogadores do nosso passado, pois foram eles que escreveram a história do nosso basquetebol. Para os mais jovens, esta será uma fonte de inspiração e incentivo à prática da modalidade e para os mais antigos, será o reabrir do baú das recordações que lhes permitirá relembrar e partilhar emoções e histórias de outros tempos.
O Planeta Basket tem a honra de anunciar a semana dedicada ao antigo jogador e atual treinador e dirigente, Carlos Lisboa. Durante esta semana iremos apresentar uma das maiores lendas do basquetebol português, considerado por muitos como o melhor jogador nacional de todos os tempos. Temos convidados de luxo, textos de grande qualidade e, como sempre, acompanhados por imagens e vídeos raros.
A não perder, aqui no Planeta Basket!