No final do mandato
 
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No final do mandato

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Bruno CasinhaBruno Casinha, presidente do CAD de Santarém, chegou ao fim do seu mandato. O Planeta Basket decidiu ir ao seu encontro para uma pequena entrevista.

Que balanço é feito destes 4 anos?
A análise deve ser feita a vários níveis:

  • Os quadros: em 2011/12 o CAD Santarém tinha 5 oficiais de mesa nacionais, hoje tem 1 Comissario, 2 árbitros nacionais e mais um em vias de subir e 9 oficiais de mesa nacional, com mais uma no quadro de acesso! Passar de 5 juízes nacionais para 12 em 4 anos é muita sorte;
  • Organização: passamos a ter tudo mais organizado e controlado, desde a listagem com os contactos dos juízes, pagamentos, revalidações, vistorias, exame médico desportivo, envio automático do recibo de jogo com a nomeação, só para citar alguns exemplos, que vieram “modernizar” a arbitragem regional;
  • Imagem: o CAD trabalhou para conseguir um patrocínio e com isso fornecer uma camisola aos árbitros que tiraram o curso, bem com um polo por 10 Euros aos oficiais de mesa. Com isso conseguimos, por exemplo, ter em todos os jogos os oficiais de mesa com o mesmo equipamento e isso cria uma imagem e identidade própria!
  • Jogos: conseguimos cobrir mais de 95% dos jogos, raramente tivemos jogos nacionais de formação adiados por falta de árbitros ou jogos regionais sem equipas de arbitragem nomeadas! Infelizmente 5% de jogos ficaram sem juízes nomeados…

O que foi preciso fazer para conseguir estas mudanças?
Ao longo destes 4 anos promovemos um investimento forte no recrutamento e na formação contínua, que nos permitiram ter mais gente, melhor formada e com isso conseguir detectar e promover talentos, alguns dos quais chegaram aos patamares nacionais e outros que lá hão-de chegar nos próximos anos. Conseguimos ajudar a “por no mapa” jovens como o Joao Ribeiro, Tiago Agudo, Rui Farinha e o Francisco Silva que serão na próxima época árbitros nacionais de 2ª!
Recorremos muitas vezes à boa vontade de árbitros e observadores que se prestaram a vir colaborar com a nossa formação gratuitamente: José Oliveira, To-Zé Coelho, José Cardoso, Sérgio Silva, Sónia Teixeira, Paulo Alves, Pedro Rodrigues, Ricardo Severino, Carlos Carrapito e tantos outros, que adicionaram mais-valia e conhecimento aos nossos jovens juízes!

Os Clubes costumam ver a arbitragem como uma despesa ou como um inimigo…?
Nada mais errado! Aqui os Clubes cumprem as suas responsabilidades a tempo e horas, nada lhes havendo a apontar! Pagamos sempre aos nossos juízes no mês seguinte, sem falta porque há dinheiro na conta do CAD! Muitos Clubes perceberam que promover a ida de jovens juízes aos cursos é meio caminho andado para diminuir custos com arbitragem, principalmente ao nível das deslocações, sobretudo num distrito em que se fazem 150 km duma ponta à outra.

Quando precisamos de salas e pavilhões para as formações, todos os Clubes se disponibilizaram para nos ajudar gratuitamente, sinal que estão dispostos a colaborar e a contribuírem para uma arbitragem melhor e mais competente!

Mas há queixas…?
Há queixas ao nível dos custos em tempos difíceis, é claro, mas demos a cara no final de cada época, ao apresentar contas na reunião com os Clubes! Depois há Clubes com muitos juízes na localidade e jogos a 40 Euros e outros sem juízes na localidade onde jogam e cujos jogos custam 110 Euros, mas milagres não fazemos!
E claro há queixas de arbitragens menos conseguidas, mas sabemos que todos erram, pois é normal: árbitros, jogadores, treinadores ou dirigentes! Agora as queixas de “campos inclinados” foram desaparecendo, sinal que muita coisa mudou para desgosto de alguns.

Se tanta coisa correu bem porque é que não fica?
Antes de mais é preciso perceber que o CAD é uma equipa de 5 pessoas! A A.B. Santarém já realizou eleições e 3 dos membros do CAD anterior transitam, sinal que haverá alguma continuidade no trabalho e na organização.

Mas não respondeu à questão…
Juntam-se vários factores: a minha profissional requer mais viagens, não quero continuar a roubar tanto tempo à família e o facto de prever que o futuro da arbitragem trará mudanças significativas nos quadros nacionais, que o enquadramento dos oficiais de mesa terá que mudar, que a fusão entre associações e a gestão territorial dos juízes regionais será mais abrangente a nível geográfico. Alem do mais defendo a rotatividade em lugares de liderança e decisão, mas pelos vistos sou o único a colocar isso em prática no final de um mandato!

O que ficou por fazer?
Ficou por fazer um curso de novos árbitros por falta de candidatos, ficaram dezenas de jogos por filmar ou observar para dar outro feedback aos jovens, ficou uma plataforma online de testes e vídeos por fazer por falta de verba, ficaram mais formações por fazer por falta de tempo. Enfim, o balanço dos 4 anos foi positivo mas não foi brilhante, com muita pena minha… Mas agora sai de cena o “chefe dos árbitros antipático” e virá alguém com um feitio melhor e menos resmungão! (risos)

Quando fala em mudanças significativas ao nível da arbitragem nacional ao que se refere concretamente?
Vou ganhar mais uns “amigos” depois desta resposta! (risos)

Os últimos anos têm vindo a trazer algumas mudanças que defendo há alguns anos, mas creio que muito poderá e terá que ser feito no curto/médio prazo para ajustar a arbitragem às necessidades competitivas e à realidade económica do País. Não se podem continuar a gerir quadros nacionais com cerca de 100 árbitros repartidos entre a 1ª e a 2ª categoria e ainda cerca de 130 oficiais de mesa nacionais, muitos dos quais terminam a época sem serem observados!

Os quadros de árbitros devem ser reduzidos, tem que haver uma gestão de proximidade, a exigência tem que aumentar mas, ao mesmo tempo, os juízes devem ter ferramentas de trabalho (portal com vídeos, com os seus jogos, com testes, etc..) e uma regularidade de jogos que se coadune com essa maior exigência. Não podemos ter árbitros que só arbitram CN1 nos dias de observação! No caso dos OM’s não poderemos ser o único País da Europa que continua com um sistema de avaliação quantitativo tão pesado e desajustado da realidade competitiva! Se o futuro passa por quotas por regiões, por um sistema de convite na LFB e na LPB (como era na LCB), por uma mera avaliação qualitativa ou pelo fim do quadro nacional, não sei, mas o paradigma tem que mudar.

Ao nível da formação contínua tem que haver um plano nacional, com temas e formações obrigatórias que os CAD’s têm que cumprir, sob pena de termos regiões com 10 formações por época e outras sem nenhuma, mas no momento de dar vagas para promover juízes às categorias nacionais não se tem isso em conta! Se queremos ter bons juízes em todas as regiões, se queremos uniformidade, devemos dar ferramentas a todos para poderem trabalhar em pé de igualdade.

Depois temos as tabelas que deveriam ter prémios de jogo mais uniformizados entre regiões, que deveriam incentivar o aparecimento de árbitros, que deveriam possibilitar a gestão de proximidade entre regiões! Que sentido faz ter um jogo sem árbitros em Lisboa quando estão 2 árbitros em Almada sem jogos, em que 10 euros de deslocação resolvem o problema e não oneram as finanças dos Clubes? As linhas limites de distrito não podem continuar a ser uma fronteira entre CAD’s vizinhos no que diz respeito às sinergias nas nomeações e à formação conjunta! Haja vontade de quem dirige o CA e os CAD’s em olhar para o bem comum que é a arbitragem e trabalhar para a melhoria da mesma e não se limitarem a defender o “quintal” de cada um!

Para terminar, o futuro do Bruno Casinha na arbitragem fica-se enquanto comissário / observador ou há ambições de continuar ligado a um CAD ou de pertencer ao CA?
Futuro nao adivinho, isso é para o Professor Xibanga e os búzios dele! (risos)... Neste momento sou mais um observador, tentarei cumprir o meu papel o melhor possível. Ha 10 anos, se me dissessem que viria a ser dirigente da arbitragem diria que seria impossível e afinal... Veremos o que o futuro me reserva, mas não há planos nenhuns, nem ambições a lugares em nenhum CAD ou no CA da FPB, nem mesmo para a ANJB. Há pessoas eleitas legalmente a cumprirem mandatos e a darem o seu melhor, há que respeitar isso!

Bruno, obrigado pelas suas palavras. Boa sorte para o futuro!

 

Comentários 

 
+2 #3 Bruno Casinha 07-06-2017 20:41
Citando J. Araujo:
Excelente artigo, a mostrar visão estratégica e capacidade de gestão.
Enquanto os mesmos dirigentes dos últimos 20 anos continuam a lutar por visibilidade ou por uma maneira de ganharem mais dinheiro, outros fazem um trabalho sério e honesto, sem qualquer beneficio financeiro.
Será que ninguém na FPB reparou nisto? Ou interessa manter o mesmo status quo?
Parabéns ao Bruno pelo excelente trabalho, os resultados dizem tudo!
J.A.

Obrigado pelas palavras!
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+1 #2 J. Araujo 23-02-2017 09:23
Excelente artigo, a mostrar visão estratégica e capacidade de gestão.
Enquanto os mesmos dirigentes dos últimos 20 anos continuam a lutar por visibilidade ou por uma maneira de ganharem mais dinheiro, outros fazem um trabalho sério e honesto, sem qualquer beneficio financeiro.
Será que ninguém na FPB reparou nisto? Ou interessa manter o mesmo status quo?
Parabéns ao Bruno pelo excelente trabalho, os resultados dizem tudo!
J.A.
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+4 #1 Humberto Gomes 09-05-2016 12:14
Caro Bruno Casinha,
Procurei no explanar da entrevista alguns pontos fortes para sublinhar, mas não encontrei um só, porque...são todos !
Pois é, é a visão de quem está no terreno, que sabe do que fala e vivencia e ama a nobre causa da arbitragem.
Constitui de há muito lugar comum dizer-se que : "sem bons jogos não há bons árbitros e também que sem boa arbitragem se põe em causa o nível do jogo"
Como o que está em causa é a modalidade,conv irá, como neste caso, levar em linha de conta que haverá que fazer o que tem de ser feito !
Felicitá-lo, pelo conhecimento e sensibilidade evidenciadas.
Um abraço.
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