EUA contra o Mundo
 
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EUA contra o Mundo

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EUA contra o MundoÀ partida para o Mundial deste ano e apesar das dificuldades na construção da equipa e das fragilidades reveladas na fase de preparação, a seleção dos EUA partia como clara favorita. Mas não venceu. Porquê?

(Falta de) Talento?

Tal como referi no artigo Reflexões mundiais, a questão da falta de talento foi obviamente fundamental e a mais fácil de apontar. Não que esta seleção não tivesse jogadores talentosos, mas comparativamente com seleções anteriores, esta apresentava um nível individual bastante inferior ao das suas predecessoras. Certo é que apenas daqui por uns anos se poderá aferir verdadeiramente o nível desta seleção, quando se conseguir perceber se nomes como Donovan Mitchell, Jayson Tatum ou Jaylen Brown conseguirão ou não atingir o estrelato. Mas ainda assim, comparar estes nomes com Kobe, LeBron ou Curry é um exercício simplesmente incomparável.

Não ponho em causa a honra de qualquer atleta em representar a seleção de um qualquer país. E há obviamente interesses económicos gigantescos que condicionam a disponibilidade de qualquer jogador, sobretudo se este jogar na NBA em participar num evento FIBA. E não condeno nem julgo qualquer atleta por recusar representar a sua seleção, mas que essas recusas têm impacto, lá isso têm.

Mundiais vs Jogos Olímpicos

A realidade noutros pontos do mundo e até noutras modalidades, como o futebol é precisamente a oposta. O Mundial de futebol é a maior competição de seleções da modalidade, enquanto os Jogos Olímpicos são uma competição menor, disputada maioritariamente por atletas sub-23. Ora, no basquetebol e sobretudo na realidade norte-americana, o paradigma é precisamente o inverso. Diria que este factor é provavelmente consequência do efeito Dream Team. Refiro-me naturalmente ao Dream Team orignial, o de Barcelona 1992, a equipa com maior impacto na história Olímpica da modalidade. Esta predisposição do jogador norte-americana para valorizar mais a presença em Jogos Olímpicos do que em Mundiais levou a que muitos dissessem não à chamada.

Calendário

Outro fator que condicionou e muito a eventual participação de jogadores da NBA foi o facto da FIBA ter avançado com a data da competição para o final do verão, a escassas semanas do início dos training camps para a nova época. Se a isso juntarmos cerca de 6 semanas de preparação para o mundial, estamos a retirar praticamente 2 meses de preparação para a nova temporada. Este ponto é altamente discutível, sendo que na minha opinião muitos jovens jogadores que optam por treinos de técnica individual, beneficiariam e muito com os trabalhos desta seleção liderada por Gregg Popovich.

Diferenças de estilos

Outros fatores apontados para o insucesso americano na prova foram a falta de experiência em competições internacionais e a falta de adaptação ao estilo de jogo mais físico praticado pelas outras seleções. Sintomático deste ponto foi o tweet enviado por Ricky Rubio ao seu ex-companheiro de equipa nos Jazz, Donovan Mitchell "Welcome to FIBA". A verdade é que a falta de experiência neste tipo de competições foi decisiva para os norte-americanos, que no primeiro jogo do mata-mata acabaram por morrer e ficaram desde logo afastados da luta pelas medalhas.

Voltando agora à questão da diferença de estilos, mais precisamente ao colectivismo do jogo internacional que contrasta com o individualismo da NBA. Há que perceber que a NBA é um produto, um espetáculo cujo principal objectivo é obter receitas. E a forma mais fácil de vender o produto é através da individualização desse produto.

A imagem de qualquer estrela da NBA vale muito dinheiro e a própria liga norte-americana promove muito mais a venda dessa imagem do que a da equipa que esse jogador representa, seja ele qual for. Já a perspectiva do jogo internacional, nomeadamente do Europeu, centra-se precisamente na valorização do colectivo e na contribuição de todos os elementos da equipa para a obtenção de um só objectivo: ganhar o jogo.

Pessoalmente sou muito mais adepto da vertente colectiva do jogo, mas admito que certas individualidades são bem capazes de ganhar jogos e campeonatos por si só. Infelizmente para os EUA, neste campeonato não tinham no seu plantel qualquer jogador capaz de o fazer.

Veremos o que sucederá nos Jogos Olímpicos do próximo ano. Que jogadores irão aceitar o desafio? E será que com esses jogadores, os EUA conseguirão voltar ao topo do mundo? É algo que teremos de esperar para saber.

 

 


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