Os primeiros indícios da linguagem encontram-se desde logo na expressão emocional gestual. Quando o treinador comunica com alguém ambos se envolvem mutuamente numa troca de significados que, consoante as culturas a que pertencem, não podem naturalmente ser interpretados da mesma forma em termos emocionais,
mímicos e ao nível da linguagem empregue. O que justifica a razão de, segundo um ponto de vista comunicacional, sentirmos nos outros um reflexo de nós próprios, incorporando o que pretendem comunicar.
- A expressão emocional e gestual
Mais do que um mero fenómeno de articular sons, ou de exclusiva dimensão física ou fisiológica, ao falarmos, atribuímos sempre um sentido e um significado às palavras utilizadas. E falar também não significa a expressão de um pensamento prévio, mas sim o consumar desse pensamento. Claro que quem ouve essa expressão verbal recebe como estímulo o conteúdo desse pensamento. Mas, tal como numa peça musical, literária, ou uma pintura, a palavra dita segrega afinal um determinado significado que, uma vez expresso, irá ser compreendido. O significado do que dizemos sobrepõe-se aos vocábulos utilizados e as palavras proferidas apresentam-se como qualquer gesto . As emoções, os sentimentos e as palavras que vamos proferindo não são naturais e comuns a todos nós, mas sim instituídas. E o sentido das nossas palavras e gestos não se limita a um fenómeno físico ou fisiológico, pois o sentido dos vocábulos que utilizamos não são meros sons porque têm em si mesmos um profundo significado existencial.
As palavras que utilizamos são assim motricidade e inteligência, (tal como os gestos! ), numa inerência com o corpo vivido e como meios e manifestação reveladora do que nos une ao mundo e aos que nos rodeiam.
O filósofo Merleau-Ponty ao entender a linguagem como movimento expressivo e não um mero ato mecânico regido por leis fisiológicas ou químicas, reforçou a importância de uma comunicação expressa através do corpo todo, prolongando a nossa abertura aos outros e ao mundo exterior. Igualmente reforçou e complementou que também por via das palavras que proferimos, expressamos e revelamos o corpo próprio, tal como que o respetivo sentido dessas palavras é muito influenciado e relacionado com o meio cultural em que estamos inseridos. A expressão corporal e facial que utilizamos, bem como o respetivo tom de voz, não só correspondem à intenção significativa que pretendemos dar às palavras que utilizamos, como também repercutem nos outros de modo consonante.
Comunicar é, afinal e antes de tudo o mais, um comportamento, uma relação, uma experiência, que se revestem de uma importância decisiva para qualquer treinador.
1 - Para que cada um de nós perceba o que nos pretendem comunicar, precisamos conhecer o vocabulário e a sintaxe utilizados, interpretando as palavras que nos dirigem como o fazemos através dos gestos e da mímica daqueles que comunicam connosco. O conhecimento prévio do outro clarifica o conhecimento daquilo que nos pretende comunicar, compreendendo gestos, postura corporal, mímica facial e visual, etc. Como se a intenção e o significado do que nos pretendem comunicar habitasse em nós e nos permitisse compreender os outros através do nosso corpo e da consonância corporal que estabelecemos com eles. Comunicamos numa reciprocidade de gestos e intenções, como se estas habitassem os nossos corpos através de uma consonância de experiências percetivas. Onde o sentido emocional do que dizemos e a influência cultural do meio em que vivemos tem uma importância decisiva no impacto que temos naqueles com quem comunicamos.
2 - Ao comunicarmos através da linguagem, revelamos o que estamos a pensar e a sentir através do nosso tom de voz, dos nossos gestos, da nossa cara, etc. O nosso corpo apresenta-se portanto como um verdadeiro meio de comunicação, cujo conjunto de significações viventes nos permite compreender os outros e perceber as coisas.
Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores