O significado das palavras
 
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O significado das palavras

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altO significado das palavras que proferimos, só aparece quando situado num determinado contexto e representa uma forma própria de cada um ser quem é. Por exemplo, ao recebermos uma chamada telefónica de alguém que conhecemos bem, não só identificamos de imediato quem se nos está a dirigir como,

principalmente, parece que essa pessoa está presente e entendemos perfeitamente o que nos pretende transmitir. Como se se abandonassem completamente ao tipo de comunicação que acontece e só verdadeiramente tivesse importância o significado das palavras e não propriamente as palavras entretanto utilizadas.

“Enquanto falamos, as palavras e as frases que utilizamos misturam-se com momentos de silêncio e hesitação até que, por fim, decidimos o que dizer. E a nossa linguagem alimenta-se desses silêncios intermédios, num verdadeiro não dito, um fundo de silêncio que enriquece a respetiva capacidade expressiva - como se ao intermediar as palavras fosse tão (ou mais!) importante que as próprias palavras entretanto proferidas.” Toda a linguagem ensina-se a si própria…tal como uma música ou uma pintura que ainda não foram compreendidas, atraem por si mesmas o seu público e quando verdadeiramente dizem alguma coisa criam elas próprias o seu significado.”(1)

Por exemplo, Merleau-Ponty diz-nos acerca desta importante questão alusiva à nossa capacidade expressiva através da fala que, “O orador não pensa antes de falar, nem mesmo enquanto fala. A sua fala é o seu pensamento. Da mesma maneira o ouvinte não concebe a propósito dos sinais. O pensamento do orador é vazio enquanto ele fala e quando lê um texto diante de nós, se for bem sucedida a expressão não temos um pensamento a margem do próprio texto, as palavras ocupam todo o nosso espírito, elas vêm preencher exatamente a nossa perspetiva e sentimos a necessidade do discurso, mas não seríamos capazes de prevê-lo e somos possuídos por ele. O fim do discurso ou do texto será o fim de um encantamento.”(2)

Ao aprendermos em crianças a utilizar a nossa linguagem, não o fazemos juntando significados sintáticos e léxicos, mas sim procurando associar o que pretendemos expressar, aos meios que possuímos nesse momento para nos expressar. Através dos monossílabos que vamos utilizando (bá, pá, etc.), como posterior e gradualmente de algumas palavras (mamã, papá, etc.) e por fim de todo o corpo (movimentos, gestos, etc.), enriquecemos a nossa relação com o mundo que nos rodeia. “É preciso então reconhecer como um facto consumado essa potência aberta e indefinida de significar - quer dizer, ao mesmo tempo de apreender e de comunicar um sentido – como um fato último pelo qual o homem se transcende em direção a um comportamento novo, ou em direção ao outro, ou em direção ao seu próprio pensamento, através do seu corpo e da sua fala.”(3)

O mesmo sucede com a linguagem que se tratará então, para Merleau-Ponty, de remeditar de modo preciso: tratar-se-á de conceber, entre os conteúdos linguísticos, percetivos, motores, e a forma que eles recebem ou a função simbólica que os anima, uma relação que não seja nem a redução da forma ao conteúdo, nem a subsunção do conteúdo a uma forma autónoma – uma relação que seja antes aquela que se desvenda quando, “A fala é a única, entre todas as operações expressivas, capaz de sedimentar-se e de constituir um saber intersubjetivo… a fala instala em nós a ideia da verdade como limite presuntivo do seu esforço.”(4)

Para Merleau-Ponty, as palavras que proferimos exigem que as entendamos como se estivéssemos a cantar o mundo. “Não se pode dizer que a fala é uma operação de inteligência nem que é um fenómeno motor, ela é integralmente motricidade e integralmente inteligência.”(5)

Para este filósofo reside assim no corpo próprio e vivido a “origem” do sentido da linguagem, por via da aproximação das palavras que proferimos ao significado da linguagem gestual entretanto empregue. Já no que respeita à fala dos que connosco comunicam e respetiva interpretação do sentido dos seus gestos, assumimos como nossas as suas palavras e expressões gestuais, conjugando a respetiva fala, corpo, perceção e expressão gestual. Quando comunicamos com alguém através da linguagem, as palavras que proferimos não são, portanto, meras reproduções de pensamentos, têm sempre um sentido e um significado e quer a nossa linguagem verbal como a gestual associam-se e complementam-se.

Os primeiros indícios da linguagem encontram-se desde logo na expressão emocional gestual. Quando comunicamos com alguém, envolvemo-nos mutuamente numa troca de significados que, consoante as culturas a que pertencemos, não podem naturalmente ser interpretados da mesma forma em termos emocionais, mímicos e ao nível da linguagem empregue. O que justifica a razão de, segundo um ponto de vista comunicacional, sentirmos nos outros um reflexo de nós próprios, incorporando o que pretendem comunicar.

Mais do que um mero fenómeno de articular sons, ou de exclusiva dimensão física ou fisiológica, ao falarmos, atribuímos sempre um sentido e um significado às palavras utilizadas. E falar também não significa a expressão de um pensamento prévio, mas sim o consumar desse pensamento. Claro que quem ouve essa expressão verbal recebe como estímulo o conteúdo desse pensamento. Mas, tal como numa peça musical, literária, ou uma pintura, a palavra dita segrega afinal um determinado significado que, uma vez expresso, irá ser compreendido. O significado do que dizemos sobrepõe-se aos vocábulos utilizados e as palavras proferidas apresentam-se como qualquer gesto (6). As emoções, os sentimentos e as palavras que vamos proferindo não são naturais e comuns a todos nós, mas sim instituídas. E o sentido das nossas palavras e gestos não se limita a um fenómeno físico ou fisiológico, pois o sentido dos vocábulos que utilizamos não são meros sons porque têm em si mesmos um profundo significado existencial. “É preciso que aqui o sentido das palavras seja, finalmente, induzido pelas próprias palavras ou, mais exatamente, que o seu significado concetual se forme pela cobrança de um significado gestual que é imanente à palavra. Num país estrangeiro começamos a compreender o sentido das palavras pelo lugar que ocupam num contexto de ação e de participação na vida comum.”(7)

As palavras que utilizamos são assim motricidade e inteligência, (tal como os gestos!(8)), numa inerência com o corpo vivido e como meios e manifestação reveladora do que nos une ao mundo e aos que nos rodeiam.

Entendida a linguagem como movimento expressivo e não um mero ato mecânico regido por leis fisiológicas ou químicas, reforçamos obviamente a importância de uma comunicação expressa através do corpo todo, prolongando a nossa abertura aos outros e ao mundo exterior. Igualmente reforçamos e complementamos que também por via das palavras que proferimos, expressamos e revelamos o corpo próprio, tal como que o respetivo sentido dessas palavras é muito influenciado e relacionado com o meio cultural em que estamos inseridos.

A expressão corporal e facial que utilizamos, bem como o respetivo tom de voz, não só correspondem à intenção significativa que pretendemos dar às palavras que utilizamos, como também repercutem nos outros de modo consonante. “O gesto linguístico, como todos os outros, desenha o seu próprio sentido. Ainda que esta ideia surpreenda, se queremos compreender a linguagem somos obrigados a aceitá-la se queremos compreender a origem da linguagem.“(9)


1 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 219
2 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 219, 220
3 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 236
4 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 231
5 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 236. Seria interessante desenvolver, a partir daqui uma perspetiva hermenêutica, (que aqui não conseguiremos). Recordemo-nos de Paul Ricoeur quando defendeu que “falar significa sempre dizer alguma coisa” ou, ainda, que “a comunicação é, deste modo, a superação da radical não comunicabilidade da experiência vivida enquanto vivida.” Acrescenta ainda o seguinte: “a linguagem não é um mundo próprio. Nem sequer é um mundo. Mas porque estamos no mundo, porque somos afetados por situações e porque nos orientamos mediante a compreensão de tais situações, temos algo a dizer, temos a experiência para trazer à linguagem.”
6 - Para que cada um de nós perceba o que nos pretendem comunicar, precisamos conhecer o vocabulário e a sintaxe utilizados, interpretando as palavras que nos dirigem como o fazemos através dos gestos e da mímica daqueles que comunicam connosco. O conhecimento prévio do outro clarifica o conhecimento daquilo que nos pretende comunicar, compreendendo gestos, postura corporal, mímica facial e visual, etc. Como se a intenção e o significado do que nos pretendem comunicar habitasse em nós e nos permitisse compreender os outros através do nosso corpo e da consonância corporal que estabelecemos com eles. Comunicamos numa reciprocidade de gestos e intenções, como se estas habitassem os nossos corpos através de uma consonância de experiências percetivas. Onde o sentido emocional do que dizemos e a influência cultural do meio em que vivemos tem uma importância decisiva no impacto que temos naqueles com quem comunicamos.
7 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 218, 219.
8 - Ao comunicarmos através da linguagem, revelamos o que estamos a pensar e a sentir através do nosso tom de voz, dos nossos gestos, da nossa cara, etc. O nosso corpo apresenta-se portanto como um verdadeiro meio de comunicação, cujo conjunto de significações viventes nos permite compreender os outros e perceber as coisas.
9 - Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception, 226, 227


Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores

 

 


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