Este ano uma das alterações que foi introduzida em Paços de Ferreira foi uma aproximação da linha de 3 pontos relativamente ao cesto. Nunca fui contra as alterações embora umas me agradem e outras, nem tanto.
Tudo na vida tem vantagens e desvantagens. Contudo, sempre que fazemos alterações devemos refletir sobre o impacto que estas têm no jogo.
Escrevi o ano passado no artigo de 23 de julho de 2023 Mini-12 cestos altos ou cestos baixos. “Em Paços de Ferreira fiquei com a sensação, para mim preocupante, mesmo com os cestos mais baixos e em situações em que a melhor decisão era o tiro exterior os praticantes forçavam vezes demais, sem tirarem vantagem, face ao bom posicionamento do defensor, o 1 para com penetração para o cesto.”
Este ano com a aproximação da linha dos três pontos pensei que haveria mais tiro exterior. Como gosto de fundamentar as minhas opiniões em dados e não em sensações, dei-me ao trabalho de fazer o levantamento da relação entre o tiro exterior e os lançamentos interiores das equipas que disputavam o 1º lugar nos masculinos: Porto e Setúbal.
O levantamento deu os seguintes dados:
Quadro de relação entre lançamentos interiores e exteriores
Face ao quadro, parece-me que a alteração introduzida não surtiu grande efeito, a procura de soluções interiores continua a ser dominante. Se queremos ter mais lançadores exteriores, uma sugestão que me parece legítima, temos de incentivar mais os nossos praticantes a lançar mais vezes de fora. Em situação de lançar tem de lançar e não estarem muito preocupados com percentagens. Se estão em situação de lançar, temos de dar espaço ao insucesso da marcação do cesto e centremo-nos sobre a decisão de lançar ao cesto. Como dizia o saudoso prof. Hermínio Barreto. Primeiro há que criar lançadores e posteriormente marcadores.
Finalmente e aqui estou a falar apenas duma sensação, ao aproximarmos a linha de 3 pontos penso que retiramos aquela sensação de satisfação de realizar um cesto mais longo. Dada a proximidade, praticamente não vi, como é habitual num jogo de basquetebol, quer do público quer dos jogadores, a satisfação e celebração dum cesto que vale três pontos. Como costumo dizer faça-se o levantamento de dados e tomem-se decisões fundamentadas e não em opiniões.
Se a ideia de aproximar a linha de 3 pontos era aumentar o número de lançamentos de exteriores de meia distância, penso que a alteração não resultou e retirou o prazer da concretização dum lançamento mais afastado do cesto. Encontrar o equilíbrio certo talvez não seja fácil. No entanto há uma coisa que não tenho muitas dúvidas, cabe aos treinadores, incentivarem e dar mais confiança aos seus praticantes para lançarem do exterior, não os penalizando se a decisão foi correta caso não convertam o lançamento.