A convite do amigo Bruno Pires, que treinei nos seniores do Atlético na longínqua época de 97/98 fui dar alguns treinos ao minibásquete do Belenenses. Na época 2006/07.
O Bruno estava a coordenar o minibásquete e pediu-me para eu transmitir um pouco da minha experiência aos jovens treinadores, que ele estava a coordenar.
Foi aí que eu conheci a Maria. As condições do treino dadas ao jovem treinador da equipa da Maria não eram, como acontece em muitos clubes, as melhores. Eram treinos ao fim da tarde, ao ar livre, no polidesportivo coberto existente ao lado do pavilhão Acácio Rosa, com má luminosidade e dificuldade de a nossa voz se fazer ouvir, por debaixo do mesmo espaço, estarem a decorrer treinos de outra modalidade.
Rapidamente compreendi, que a maior dificuldade do jovem treinador era o facto de a maioria das crianças não saberem estar no treino. Contudo havia entre todos, uma menina um pouco tímida, que mais do que pela sua altura se destacava pela atenção que dava às indicações e aos exercícios, muito calada mas extremamente atenta. Logo fiquei a saber, que aquela menina, que despertou a minha atenção, era a filha da Maryana e do Ivan.
Ao longo dos anos aqui e ali fui acompanhando e observando a sua evolução, como por exemplo naquela final dramática entre o Juventude de Vila Real de Santo António e a Simecq na época de 2009/10 do qual resultou o primeiro, de muitos títulos nacionais, alcançados pela Maria.
Depois vieram as internacionalizações, após uma difícil decisão para uma adolescente nascida em Sófia, filha de pais búlgaros, por que seleção iria jogar? Felizmente para o basquetebol nacional a sua opção foi Portugal. As suas atuações, pelas seleções jovens foram de tal maneira marcantes, que em 2014 a Maria foi uma das finalistas nomeadas pela CDP para a categoria de “Jovem Promessa”.
Nesse tempo já a minha grande amizade com o Ivan se tinha cimentado e os nossos almoços e convívios eram como hoje de grande frequência, pelo que foi sem surpresa que eu soube que a Maria, jovem reveladora de grande maturidade, partia para os Estados Unidos para representar o Washington State University. Em conversas que ia tendo com os seus pais e com a Maria percebi que tinha enorme capacidade de interpretar as qualidades e fraquezas dos seus treinadores com delicadeza, humildade, simplicidade e objetividade.
Terminada a aventura americana, nesta fase da sua vida, a Maria optou por ser profissional de basquetebol tendo passado, pelo Celje da Eslovénia, pelo Tenerife, Casademont Zaragoza e Clube La Seu Sedis de Espanha, pelo Saarlouis na Alemanha e na presente época estava a jogar, até se lesionar, pelo Sosnowiec da Polónia.
Lesionada adiou a operação, porque o sonho de estar, como a mãe esteve pela seleção da Bulgária no maior palco do basquetebol feminino europeu, na fase final do campeonato da Europa, falou mais alto. Com um espírito de sacrifício enorme, num jogo em que como há muito não vivia um jogo, ajudou, e de que maneira, a alcançar o sonho que Portugal, que uma geração de talentosas jogadoras, perseguia há alguns anos.
Maria é um nome que vem do hebraico de Myriam e tem entre outros significados o de senhora soberana. No jogo contra e Sérvia a menina tímida que eu tinha conhecido em 2006 foi soberana naquelas tabelas, nos ressaltos que conquistou, nos pontos que marcou, nas lindas assistências que proporcionaram pontos decisivos.
Não quero terminar este texto sem mencionar o Quinta dos Lombos, clube que a ajudou a crescer antes de partir para os Estados Unidos e sem referir as 142 internacionalizações já alcançadas. Que o número de internacionalizações continue a crescer, que tenhas uma rápida recuperação de modo a poderes dar o melhor de ti, que depois do exemplo que deste, todos sabemos que é incomensurável, que possas estar no Europeu, no teu melhor, que continues a ser orgulho maior dos teus pais e acima de tudo que continues a ser quem és uma pessoa muito especial e um exemplo para muitos são os meus sinceros votos. Parabéns e muito obrigado Maria.
PS: Em anexo poderão ler o excelente artigo do Francisco Martins publicado no Expresso.