Desconto de tempo com Luís Silveira
 
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Desconto de tempo com Luís Silveira

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altNão perca a entrevista exclusiva a Luís Silveira, um dos mais carismáticos treinadores nacionais das últimas décadas e que recentemente decidiu colocar um ponto final na sua carreira de treinador profissional, passando a dedicar o seu tempo aos escalões mais jovens no seu clube do coração. Terá lugar esta noite no Seixal uma homenagem ao veterano técnico, durante a apresentação das equipas do Seixal FC para a próxima época. 

É treinador há já 43 anos. Quais os clubes onde trabalhou? E o que conseguiu atingir na sua carreira?

Treinei formação durante 23 anos, sempre no Seixal. Comecei com o minibasket, na altura em que funcionavam os jogos juvenis no Barreiro (grande organização que tinha à frente um grande dirigente que nunca esquecerei - Augusto Valegas). Com os atletas que estiveram comigo no minibasket, conseguimos ser campeões regionais durante dois anos e fomos vice-campeões nacionais também por duas vezes.

Após este trabalho peguei nos miúdos que saíam do mini, e orientei jovens dos 12 aos 14 anos, durante 9 anos. Aqui, conseguimos alguns títulos regionais em iniciados, juvenis e juniores, com um excelente trabalho do saudoso Vítor Mamede que pegava nos grupos que eu deixava dos iniciados. Quero aproveitar aqui para prestar homenagem ao melhor treinador, o homem que trabalhou comigo ao longo dos meus 43 anos de treinador.

A filosofia que tentei impor no Seixal foi de fazer pelos outros o que fizeram por mim enquanto atleta do Seixal. Aliás, isto ainda hoje se mantém no clube, já que existem muitos atletas do clube a trabalhar na formação, daí que eu pense que o Seixal está a fazer um grande trabalho nos mini, que se vai reflectir no futuro, desde que haja um grande acompanhamento destes atletas com dedicação, competência e paciência.

Após este trabalho na formação, senti necessidade de pegar nos seniores, com alguns atletas que tinham estado comigo nos iniciados. Passámos da 3ª divisão à 1ª divisão com um título da 3ª divisão nacional.

Quando me reformei em 1998, decidi então tornar-me treinador Profissional. Comecei pelo Montijo onde conseguimos passar da 2ª divisão à Liga Profissional, isto em três anos. Depois fui para o Belenenses onde conseguimos também subir à Liga Profissional. Estive também no Gaia, onde conseguimos não descer de divisão e fomos apurados para a final four da taça de Portugal.

Após este trabalho regressei ao meu clube do coração onde estive 3 anos e meio: fui convidado pelo Dr. Leonardo Carvalho, presidente que deu grande desenvolvimento às modalidades (basket e hóquei em patins), com excelentes resultados e grande entusiasmo dos adeptos do Seixal.

Deixei o Seixal por motivos de saúde, mas o bichinho não me deixou estar parado mais que três meses. O Atlético que estava a atravessar um mau período na 2ª Divisão convidou-me e pôs-me o objectivo de não descer de divisão. Após dois meses conseguimos atingir o objectivo pretendido. Depois fui convidado pelo Ginásio Figueirense, com quem cheguei a ter tudo acertado, contudo, por motivos familiares decidi não aceitar (as minhas desculpas ao Ginásio Figueirense e ao Eng. Tomé).

Foi então que apareceu o CF Os Belenenses a convidar-me novamente. Estive lá nos 3 últimos anos com muito orgulho por servir este grande clube, onde obtivemos classificações prestigiantes para o CF Os Belenenses.

Com toda a sua experiência, gostaria certamente de ter sido seleccionador nacional? Quer comentar?

Sem dúvida que gostaria, mas também gostaria de referir que o meu amor ao basquetebol não dá para estar tanto tempo parado, treinar 2 meses por ano não é para mim. Mas a direcção da FPB tem optado por treinadores estrangeiros (apesar de considerar que o Valentin já não era estrangeiro pois tinha muitos valores do nosso basket). Sem tirar valor ao Moncho, pois tem de ter, já que foi seleccionador de Espanha durante 2 anos e foi vice-campeão Europeu, acho que treinadores como Jorge Araújo, Alberto Babo, Orlando Simões, Mário Silva ou Carlos Barroca poderão perfeitamente fazer o lugar de seleccionador. Veja-se o brilharete que o Carlos Portugal está a fazer com a selecção feminina.

 
Como avalia os resultados recentes da nossa selecção?

Acompanhei ao vivo os jogos da Selecção no Europeu de Sevilha e achei brilhante o comportamento da equipa e a orientação do Valentin. Mais uma vez, parabéns amigo, o país e o basquetebol nunca mais te esquecerão.

Quanto a esta fase sobre a orientação do Moncho, há uma situação que é completamente diferente do Europeu de Sevilha: não podemos esquecer que três dos melhores jogadores não estão presentes (Filipe Silva, Minhava e Jordão) e ainda se poderá dizer que em dois meses não se consegue pôr uma equipa a jogar (apesar de treinar ter o seu valor).

Mas não quero uma vez mais de referir que o Diogo Carreira seria fundamental nesta equipa. Ofensivamente é o melhor base Português e não nos podemos esquecer que foi o MVP Português na época 2007/08.

Concorda com os centros de treino para a formação?

Acho muito importante o trabalho que tem sido desenvolvido e aqui dou os meus parabéns ao Mário Saldanha e ao Manuel Fernandes, dois homens do basket, que sabem com certeza o melhor para a modalidade.

O grande problema é o não aproveitamento destes jovens nos seus clubes que continuam a recrutar estrangeiros de baixa qualidade. Posso dar o exemplo do Barreirense e do Benfica que recrutam atletas jovens a outros clubes com o objectivo de serem campeões nos escalões de formação, mas quando chegam a seniores não jogam e apanham grandes secas de banco, acabando por morrer como atletas.

Que boas recordações trás consigo dos vários clubes por onde passou?

Por aquilo que já afirmei, é intuitivo que o meu clube do coração é o Seixal FC, foi o que mais boas recordações me deixou. É óbvio que os títulos conquistados são sempre boas recordações e que ficam na história dos clubes, mas para mim, o basket sem dirigentes não existe e as amizades que consegui angariar ao longo dos anos e principalmente pela dedicação, competência e humildade, não posso deixar de distinguir, nos vários clubes onde passei os seguintes dirigentes que nunca esquecerei (obrigado amigos)

Seixal – António Roque (na época de formação) e Fernando Coisinha (na época Profissional)

Montijo – José Rafael

Belenenses – João Barbosa (1999/2001) e Barata Marques (2005/2008)

Gaia – Cunha

Atlético – Mário Sousa

É conhecido como um treinador que utiliza muitas defesas zona. Porquê?

Sei que estou referenciado como um treinador que utiliza muito defesas zona.

Mas gostava de referir que grande parte dos treinadores nacionais acham desprestigiante a defesa zona. A esses gostaria de relembrar que a Espanha, actual campeão do Mundo, defende zona durante grande parte dos seus jogos e com grande eficácia e objectivos conseguidos.

Sempre gostei de usar zonas, mas com alternâncias, H x H, zona e mistas. Assim:

 
1 – Alternância H x H com zona 2 : 3, de dois modos: após sofrer cesto, no ataque seguinte do adversário montava a zona, ou então quando concretizávamos cesto, defendíamos pressionante ¾ campo (2:2:1 ou 1:2:2) e montávamos zona 2 : 3 em meio-campo.

 
2 – Alternância H x H com defesas mistas, assim:

2.1 – H x H, mas após cesto sofrido pelo base adversário, defendíamos 1 H (ao base) e 4 em quadrado.

2.2 – H x H, mas após cesto sofrido pelo extremo, defendíamos 1 H (ao extremo) e 4 em losango.

2.3 – H x H, mas após cesto sofrido, defesa H x H aos dois extremos e 3 em triângulo.

É óbvio que estas defesas não são fáceis e é importante que tenhamos jogadores inteligentes e que estas defesas sejam muito treinadas. Também posso referir que houve épocas em que não pudemos utilizar o que pretendíamos porque estas defesas são ainda mais colectivas que a defesa individual H x H, mas necessitam de jogadores que as interpretem bem. As defesas com alternâncias são as mais eficazes, principalmente para as equipas muito bem organizadas ofensivamente.

 

 


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