Três ângulos de visão

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Rui Pedro NazárioTrês ângulos de visão para perspectivar o minibásquete: pai, atleta e treinador. Falar de minibasquete é um desafio enorme, especialmente pela abrangência de idades que se instituiu como “Mini”.

O número de anos que uma criança pode estar enquadrada nesta “categoria”, pode ser o equivalente a 6 épocas desportivas. No limite, se quisermos, pode corresponder a uma extensão temporal que vai dos Sub14 aos S20 (agora seniores). Todo o cuidado é pouco, portanto.

Pedi ajuda ao meu filho mais novo há uns anos atrás para perceber um pouco da motivação dos “miúdos” para o jogo de basket. Perguntei-lhe directamente – “porque é que jogas basket?” (eles não sabem que jogam minibasquete, jogam basket e pronto…). Respondeu-me repentinamente e sem grandes hesitações – “porque tu gostas, pai.” Sinceramente não gostei daquela resposta. Toda a minha vida fui jogador e ele cresceu a ver-me jogar é um facto, mas não gostei da resposta.

Mais tarde depois de alguma reflexão e com base na experiência que temos tido no SC Beira-Mar comecei a achar que talvez ele tivesse razão. Sem dúvida alguma que os miúdos jogam minibasquete também porque os Pais (“p” maiúsculo”) gostam da modalidade. Na verdade não gostam da modalidade só por si, gostam da abordagem desta modalidade, gostam da sensibilidade e bom senso dos treinadores, gostam do modelo de competição (chamemos-lhe assim), gostam da igualdade de oportunidades que a esmagadora maioria dos projectos de minibasquete lhes proporciona, enfim gostam dos valores e práticas generalizadas que caracterizam o minibasquete do país. No fundo os Pais o que querem é proporcionar a melhor educação aos seus filhos e o minibasquete pode ajudá-los nessa tarefa. Valores como perseverança, espírito de grupo, responsabilidade, tolerância entre outros podem ser desenvolvidos na prática desportiva. Mas voltemos ao meu filho.

Ontem voltei a perguntar-lhe porque razão (ainda) jogava basket sendo agora ele primeiro ano iniciado. De imediato me respondeu “porque adoro”. Para confirmar fiz a mesma pergunta ao primogénito (agora atleta S16) e aí fiquei sem dúvidas “pai, estou apaixonado pelo basket; tu às vezes fazes cada pergunta”. Desde sempre que teve uma formação desportiva multifacetada com várias modalidades e agora diz que adora o basket. Pronto, alguma coisa estamos a fazer bem no Minibasquete.

Como nos mostrou o San Payo Araújo o escalão S14 é o que regista maior captação de atletas. Poderemos contudo afirmar que os escalões do minibasquete são os que potencialmente apresentam melhores condições para proporcionar um clima de “fidelização” e desenvolvimento do gosto pela modalidade. Aproveitemos então esse terreno fértil utilizando as ferramentas com sensibilidade e bom senso. Meio a sério meio a brincar disse à minha esposa que queria que ele fosse uma época para outra modalidade e não é que ela não deixa. Enfim, parece que as Mães também ficam fidelizadas.

Mas também importa dar o meu testemunho enquanto ex-praticante de basket. Ex-praticante de minibasquete se preferirem, mesmo que na maioria do tempo tenha sido praticado na rua, nos vários campos existentes na Figueira da Foz (um deles no meu bairro) e no pátio da casa em Lourenço Marques. O prazer que sentia a jogar era enorme e começava a sentir uma adrenalina especial assim que se aproximava a hora de ir jogar. Reparem bem, eu ia jogar, não ia treinar. Sim porque isto de treinar é para mais tarde. Talvez um jogo de palavras ou de alguma abordagem filosófica mas gostaria que todos os treinadores de minibasquete sentissem o que os miúdos apaixonados pelo minibasquete sentem: prazer pelo jogo. Não querem ir fazer passes de peito de uma forma estática ou exercícios de defesa ou sentados numa cadeira a fazer técnica de lançamento. QUEREM JOGAR. Podemos jogar sem ser em situação de 3x3 ou 4x4? Sim podemos. Podemos ensinar os fundamentos do basket ou desenvolver as capacidades coordenativas através do jogo? Sim, podemos. Jogar não é necessariamente uma equipa contra outra 5x5. O que os miúdos e miúdas querem é divertir-se, criar amizades e sentimentos de partilha, desafiar e medir as suas capacidades, orgulharem-se dos seus progressos, enfim querem JOGAR.

Se existe alguém que acredita no treino no sentido estrito do termo sou eu, como ex-atleta e agora como treinador, mas isso, repito, é para mais tarde, não no minibasquete. Admito que o prazer e a motivação intrínseca na prática desportiva esteja muito relacionada com o sucesso que se vai tendo, com o potencial e com as capacidades individuais, mas especialmente no minibasquete cabe ao treinador proporcionar essas condições de sucesso. Não acredito que o “trabalho” seja condição suficiente para se ser atleta de eleição, como também não acredito que todos possam ser matemáticos ou físicos. Há características próprias no ser humano que o limitam ou promovem. Mas não podemos cair na tentação de pensar que o Minibasquete serve para criar atletas seniores e definitivamente não queremos dispensar os menos aptos do momento. Nos últimos seis anos como treinador de minibasquete tive de estudar, de experimentar, ouvir e ver para que a minha intervenção pudesse corresponder às necessidades e expectativas dos “mini-atletas”.

Parece simples ser treinador de minibasquete, mas não é. Quase tudo passa por esta figura neste escalão e dá muito trabalho. O melhor é gostar-se mesmo, estar apaixonado pela modalidade e querer contribuir para uma sociedade melhor.

 

Comentários 

 
0 #7 Humberto Gomes 20-12-2014 07:27
Caro Rui Nazário,
É realmente reconfortante quando o nosso "plano de jogo" se manifesta assertivo, verdade?
"Plano de jogo" que, na circunstância, tem a ver com a ideia - excelente ! .expressa no texto "Três ângulos de visão". Razão pela qual os comentários se sucederam. Tive a oportunidade de o comentar, a quando do escrito - pertinente e coragoso ! - do San Payo, sobre "Elogio à capacidade de elogiar".
"Elogio à capacidade de elogiar", de que a modalidade, e em particular essa "causa nobre" que o minibasquete representa, tanto necessita.
A tal ponto, e a sugestão é minha, que se daria um valente empurrão nalguma letargia e (im) com petência por aí instalada se ,de norte a sul com esse "plano de jogo", pudéssemos partilhar de forma séria e honesta !
Parabéns, Rui Nazário.
Continuação dessa excelente visão !
Feliz Natal e um bom 2015.
Aquele abraço.
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+2 #6 Rui Resende 19-12-2014 15:04
Boa reflexão!
Continuação do excelente trabalho realizado.
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+2 #5 joao reis 19-12-2014 14:44
Excelente, parabéns.
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+2 #4 Pedro Sardo 19-12-2014 11:14
"estou apaixonado pelo basket" ....o nosso basket precisa de mais CRIANÇAS apaixonadas pela nossa modalidade, grande texto....
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+2 #3 Augusto Costa 19-12-2014 09:09
Excelente Pedro!

Abraço, Tino
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+2 #2 João Medeiros 18-12-2014 15:43
Grande texto, Rui Pedro !

Abraço do João Medeiros, de Coimbra...lembras-te !?!?!
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+6 #1 Jorge Duarte 15-12-2014 20:00
Parabens, pelo excelente texto.
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