A eterna questão de David contra Golias

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Inês VianaStrumica (Macedónia) – Portugal ainda pode garantir uma medalha (de bronze) e a consequente subida à elite europeia (Divisão A)

se vencer a Hungria na partida para atribuição do 3º/4º lugares do Campeonato da Europa deSub-18 Femininos, Divisão B, que termina hoje nesta cidade.

Isto porque na 1ª meia-final Portugal baqueou frente à Inglaterra (71-78), jogando sem cabeça nos últimos 2 minutos, depois de ter liderado o marcador durante quase 31 minutos e a seguir a Hungria não teve melhor sorte ante a Bielorússia, que venceu por 67-63.

A lenda de David e Golias faz parte da História que aprendemos (agora não sei como é…). Antes da meia-final com Inglaterra, que perdemos nos últimos dois minutos (68-68 a 2.42 minutos da buzina), perguntámos às jogadoras no balneário, depois das últimas instruções dadas pela seleccionadora nacional, se conheciam a lenda anteriormente referida. Perante o embaraço da maioria explicámos como o pequeno David tinha vencido o gigante Golias. Com inteligência porque força tinha Golias. Foi isso precisamente que pedimos às nossas jogadoras: inteligência, serenidade, esperteza, em suma jogar pela certa.

Sabíamos quais eram os pontos fortes das inglesas e para as levar de vencida teríamos de jogar com colectivismo, fazendo poucos erros, defendendo com garra e agressividade e atacando o cesto sem receios, para provocar faltas e deste modo obrigar à rotação das jogadoras interiores adversárias. Durante praticamente 38 minutos cumprimos essa estratégia, mas nos derradeiros dois, não fomos capazes de o fazer. Foi pena porque as nossas representantes bateram-se até ao limite, contra uma equipa que baseia todo o seu modelo de jogo nas características atléticas de 3/4 jogadoras, todas de raça africana, muito poderosas fisicamente (Cheridene Green e Shequila Joseph) e explosivas (Jay-Ann Bravo-Harriott e Janice Monakana), provocando muitas faltas (26). Ontem a Inglaterra foi 32 vezes à linha de lance livre, tendo convertido 23 (72%). Foi também por aí que as comandadas de Kostourkova foram perdendo a capacidade anímica e desgastando-se com o acumular de faltas (Maria Kostourkova excluída no minuto 39, Inês Viana e Joana Canastra, ambas com 4 faltas e mais 3 jogadoras com 3).

Inês Viana abriu as hostilidades (3-0) com um triplo logo no 1º ataque da nossa equipa (25 segundos jogados) e até aos 7-7 (à entrada do minuto 6) houve equilíbrio, com alternâncias no marcador. A partir daí Portugal tomou as rédeas do jogo, impondo um parcial de 16-5, para chegar ao final do 1º período na frente (23-12). Uma rápida leitura pela estatística mostrava uma excelente prestação no tiro exterior (75% com 3 triplos em 4 tentativas) a cargo de Inês Viana a abrir, Laura Ferreira a desempatar (10-7) e Joana Soeiro a elevar a vantagem para 8 pontos (19-11), enquanto a luta das tabelas estava equilibrada (10-10 ressaltos), éramos mais colectivos (5-1 assistências), roubávamos mais bolas (4-1) e cometíamos menos erros (5-8 turnovers).

No 2º quarto (14-22) a reacção adversária começou a ganhar forma ao consentirmos um parcial de 1-6, com Shequila Joseph em evidência (4 pontos consecutivos), obrigando a seleccionadora lusa a parar o cronómetro (24-18), à entrada do minuto 13. Portugal ia perdendo gás e clarividência, dando todas as possibilidades ao adversário de consumar a reviravolta, o que aconteceu no minuto 16 (30-31), através de uma bomba de Bravo-Harriott.  Acto contínuo Kostourkova pediu novo desconto de tempo, que deu os seus frutos, pois um tiro curto de Ana Granja , da cabeça do garrafão  e o 2º triplo de Inês Viana permitiram nova arrancada das nossas representantes (35-31), com o treinador britânico Leonard Busch a fazer o mesmo que a sua homóloga, com 1.36 minutos para jogar. No minuto 20 Laura Ferreira ainda aumentou da linha de lance livre (37-31), mas Shequila Joseph (10 pontos na 1ª parte) com um triplo fixou o resultado ao intervalo (37-34).

No 3º período (19-20) o equilíbrio foi a nota dominante, com diversas alternâncias no marcador e o jogo exterior da Inglaterra a melhorar em flecha (4 triplos em 5 tentados), com a atiradora Ashleigh Munns a mostrar os seus créditos (2/2), ao reduzir para 39-37 no minuto 22 e à entrada do minuto 26 a colocar a sua equipa na frente (41-44). Depois da resposta a cargo de Laura Ferreira (triplo a devolver o comando aos 47-44), ainda no minuto 26, foi a vez de uma bomba de Megan Lewis (46-47) iniciar um parcial de 0-7, favorável às inglesas, em menos de minuto e meio (46-51). Mais um desconto de tempo pedido por Kostourkova, com 2,39 minutos para jogar e nova reacção lusa, com o 2º triplo de Joana Soeiro a abrir um parcial de 10-3.  Novo triplo de Shequila Joseph empatava a partida (54-54), no minuto 30, mas mais um duplo da nossa melhor anotadora, a capitã Laura (18 pontos), ainda deu a liderança a Portugal no final do 3º período (56-54).

O jogo mantinha-se em aberto e no derradeiro quarto (15-24) isso foi uma constante até ao minuto 38 (68-68), com várias alternâncias de comando, mas Portugal a deter maiores vantagens (64-58, no minuto 33 e 68-65, à entrada do minuto 37). Inês Viana era o espelho do querer das portuguesas, com duas entradas com a mão esquerda, fotocópia uma da outra, a aumentar para 66-65 e 68-65, após o penúltimo desconto da nossa treinadora, no minuto 36. Mas a 4ª falta de Inês Viana e de Joana Canastra, ambas no minuto 37, levou Janice Monakana para a linha de lance livre reduzindo para 68-67 e já no minuto 38 foi a vez de Maria Kostourkova imitar as suas companheiras fazendo também a sua 4ª falta sobre a sua marcadora directa Cheridene Green. Esta empatou, ao converter o 2º lance livre (68-68) e Monakana com uma entrada decidida fez 68-70. Kostourkova parou de imediato o cronómetro, com 1,40 minutos para jogar. As nossas representantes estavam completamente perdidas, sem força anímica para esboçar qualquer tipo de reacção. A exclusão de Maria Kostourkova, logo a seguir (com 1 minuto e 24 segundos ainda para jogar) foi o canto do cisne das jogadoras lusas. A Inglaterra sentia que tinha o jogo na mão e disparou para um parcial de 0-7, provocando mais 3 faltas a elevar a contagem para 70-77 e garantiu deste modo, numa demonstração de força, autêntico rolo compressor, a presença na final para discutir o título europeu e a subida à Divisão A. Mesmo assim Inês Viana ainda teve arte engenho para mostrar a sua raça, triplando pela 3ª vez (70-78) a escassos 6,2 segundos do termo, com Shequila Joseph a fixar o resultado final, novamente da linha de lance livre (7 faltas provocadas, com 8/10 nos lances livres).

Resultado final: Portugal 71-78 Inglaterra

Registámos no final da partida a opinião de Mariyana Kostourkova: «Perdemos o jogo n na defesa porque nunca conseguimos parar as nossas adversárias. Na ponta final quando era preciso atacar o cesto e provocar faltas, optámos pelo lançamento exterior, sem sucesso.».

Nas vencedoras grande destaque para a MVP do encontro (29,0 de valorização), a poste Cheridene Green que fez mais um duplo-duplo (18 pontos, 18 ressaltos sendo 5 ofensivos, uma assistência, 1 roubo, 1 desarme de lançamento e 6 faltas provocadas, com 6/10 da linha de lance livre). Mas a base Bravo-Harriott (12 pontos, 5 ressaltos sendo 2 ofensivos, 5 assistências, 1 roubo, 1 desarme de lançamento e 7 faltas provocadas), Shequila Joseph (18 pontos, 2/3 nos triplos, 4 ressaltos, uma assistência e 7 faltas provocadas, com 8/10 nos lances livres), Janice Monakana (10 pontos, 3 ressaltos defensivos, duas assistências, 1 roubo e 3 faltas provocadas, com 6/6 da linha de lance livre), estiveram também em evidência, sem esquecer o contributo da sniper Ashleigh Munns (3/3 nos triplos em 16 minutos de utilização).

Na selecção portuguesa Inês Viana liderou a resistência lusa, comandando bem as suas companheiras com a sua raça e fibra do primeiro ao último minuto. Foi a mais valiosa (15,5 de valorização), a par da capitã Laura, mas quanto a nós a mais certa em termos de prestação. Terminou com 17 pontos, 7/12 nos lançamentos de campo repartidos por 4/7 nos duplos e por 3/5 nos triplos, 4 ressaltos sendo metade ofensivos, 3 assistências e 3 faltas provocadas. Foi bem secundada por Laura Ferreira (18 pontos, 2/7 nos triplos, 5 ressaltos sendo 2 ofensivos, 3 assistências, 2 roubos e 7 faltas provocadas, com 4/6 nos lances livres) e Inês Veiga, a nossa melhor ressaltadora (2 pontos, 8 ressaltos sendo 3 ofensivos, uma assistência e 1 roubo).

A vitória da Inglaterra acabou por ser merecida porque aproveitou bem e no momento certo as debilidades lusas. Foi através da maior eficácia nos lançamentos de campo (41%-46%), repartidos pelos duplos (41%-43%) e pelos triplos (42%-58%), da supremacia nas tabelas (32-40 ressaltos), com realce para a tabela defensiva (20-27) já que nos ressaltos ofensivos a luta foi equilibrada (12-13) e fundamentalmente por ter provocado mais faltas (18-26), com reflexos no maior número de lances livres tentados de que dispôs (18-32) e na melhor percentagem de conversão (61%-72%), ao converter 23 lançamentos contra menos de metade (11) do adversário.

Portugal bateu-se bem, comandou o marcador durante quase 31 minutos, mas o jogo tem 40 (no mínimo) e ganha quem estiver na frente quando soa a buzina. Não se percebe como é que Cheridene Green faz a 3ª falta no minuto 31, no início do 4º período e consegue aguentar-se em campo até final, tendo entretanto feito a 4ª falta. Fomos mais colectivos (16-14 assistências), cometemos menos erros (15-21 turnovers) e fizemos mais um roubo que as inglesas (7-6). Falhou-se na defesa porque consentimos 78 pontos quando Portugal era até ontem a 4ª equipa com menos pontos sofridos (51,2 de média).

Ficha de jogo
Gym Park

Portugal (71) – Inês Viana (17), Laura Ferreira (18), Nádia Fernandes (2), Josephine Filipe (4) e Inês Veiga (2); Jessica Costa (2), Joana Canastra (5), Maria Kostourkova (6), Joana Soeiro (8), Simone Costa (5) e Ana Granja (2)

Inglaterra (78) – Jay-Ann Bravo-Harriott (12), Ashleigh Munns (9), Kaitlyn Lewis, Shequila Joseph (18) e Cheridene Green (18); Janice Monakana  (10), Harriett Ottewill-Soulsby (2), Megan Lewis (3), Michelle Turner,  BillieLucas (8), Mollie Campbell e Lauren Milligan

Por períodos: 23-12, 14-22, 19-20, 15-24
Árbitros: Sinisa Herceg (Croácia), Vladimir Tsekov (Bulgária) e Laszlo Bucuresti (Roménia)

Na outra meia -final a Bielorússia venceu a Hungria (67-63), garantindo também a presença na final, esta noite, a partir das 21H00.

Outros resultados

5º/8º lugares
Bulgária 82-66 Lituânia
Alemanha 71-78 Dinamarca

15º/16º lugares
Noruega 62-72 Macedónia

17º/18º lugares
Suiça 53-46 Escócia

Hoje jogam Bulgária-Dinamarca (5º/6º lugares) e Lituânia-Alemanha (7ª/8ª posições), a partir das 16H30 e 14H15 respectivamente.

 

Comentários 

 
+2 #1 San Payo Araújo 05-08-2012 12:46
Parabéns a toda a delegação, Acompanhei a fase final do jogo na internet e há um dado que me surpreendeu no 4º período 10 faltas para Portugal e 2 faltas para Inglaterra. Gostaria de ter estado lá para perceber estes números.
Parabéns à Maryana pelas suas declarações e não ir à procura de desculpa fáceis e força para o último jogo desta prova, pois são estes jogos que dão verdadeiramente gozo jogar e fazem crescer as praticantes
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