Dificuldades do jovem treinador

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Gosto muito de reflectir sobre o que vou fazendo e vou escrevendo e a conclusão a que cheguei é que nunca tinha escrito tantos artigos sobre o triângulo, pais –treinadores-jogadores ou sobre o triângulo pais-treinadores-árbitros como este último ano, desde que cheguei à Madeira.

Não deixa de ser curioso, que em ambos os triângulos surgem pais e treinadores. Várias vezes, aqui na Madeira, pensei em publicar exercícios técnicos, cheguei mesmo a falar com o senhor Manuel Henriques, que faz os vídeos para o site e facebook da Associação, para filmar alguns exercícios, que enriqueceriam certamente os artigos que eu queria apresentar. Contudo a falta de tempo e o facto de acontecer sempre qualquer coisa, que me levava a sentir a necessidade de abordar outros temas, levou a que não conseguisse por esse projecto de pé.

São grandes as transformações sociais, desde que há cinquenta anos comecei a treinar. Ao contrário desses tempos, hoje em dia como disse o companheiro Dimas Pinto, na Festa do Minibásquete em Paços de Ferreira, quando perguntamos, a um jovem treinador, quais são as suas maiores dificuldades, um elevado número responde, a relação com os pais. Isto dá muito que pensar, pois para além da sua natural inexperiência, a grande maioria deles é mais jovem, que os encarregados de educação das crianças que eles estão a treinar.

Que fique bem claro, não estou a fazer a apologia dos tempos em que eu comecei a treinar e em que os pais não estavam presentes nem nos treinos, nem nos jogos. Tudo na vida tem vantagens e desvantagens, e já diversas vezes o afirmei que na realidade actual, sem o envolvimento dos pais, não havia minibásquete. Contudo, enquanto jovem treinador foi um problema que nunca senti, pela simples razão, que nunca conheci os encarregados de educação dos jovens em que eu então treinava. O meu foco eram os jovens, que eu queria ensinar, não me tinha que dispersar, com as questões levantadas pelos pais. Só no início dos anos 90, já eu caminhava para os 40 anos de idade, é que, ao treinar uma equipa de Iniciados do Clube Atlético de Queluz, comecei a ter de lidar com os encarregados dos jovens que eu estava a treinar.

Estas transformações sociais dão que pensar, pois nos cursos de treinador de grau 1 pouco preparamos os jovens treinadores, para aquela, que vai ser uma das suas maiores dificuldades. Bem sei que me vão dizer, que esses jovens, não deveriam estar a treinar sem serem enquadrados por um coordenador, que efectivamente os acompanhasse. Mas na nossa realidade, sejamos sinceros, salvo algumas excepções onde é que isso verdadeiramente acontece. Enquanto responsável pelo minibásquete no Belenenses, disse sempre aos jovens treinadores que eu estava a coordenar, que se fossem abordados pelos encarregados de educação por questões técnicas ou de tempo de utilização dos minis, que sobre esses temas não entrassem em diálogo e educadamente os encaminhassem para mim. 

Felizmente não foram muitas as vezes em que em cinco anos no Belenenses tive de dialogar com os pais sobre estes temas e com praticamente todos criei uma excelente relação, que nalguns casos se tornou numa relação de amizade. Cada vez tenho menos dúvida que esse é o maior legado que o basquete me tem dado.

 

 
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