Ensinar o prazer de jogar e gostar muito de o fazer. Hermínio Barreto é uma figura incontornável do basquetebol português. Marca uma geração enquanto jogador, foi um treinador de relevo do seu tempo, continuou – com a devida distância, continua ainda – ligado à modalidade, servindo sempre a causa mais nobre,
que na relação com o basquetebol alguém pode ter: ensinar o prazer de jogar. Conheci à distância o Professor Hermínio Barreto com o aparecimento da NBA na televisão portuguesa. Iam os anos 80. Aparecia ao nosso alcance um jogo, que para todos os miúdos da minha geração, com ligação à modalidade como praticantes, ficavam emudecidos a ouvir o brilhante comentário. Quem via aquele jogo – em Portugal aparecia na TV pela primeira vez – e ouvia o respetivo comentário, não tinha outra alternativa senão encantar-se mais ainda, com aquilo que já gostava muito de fazer: jogar basquetebol. É nesta ligação entre “ensinar o prazer de jogar” e “gostar muito de o fazer” que encontro o maior legado que registo na amizade e companheirismo que estabeleço com Hermínio Barreto.
A vida tem-me brindado com a possibilidade de privar de perto com Hermínio Barreto. Fico muito grato por isso. Mas independentemente da estima e admiração pessoal, deve ser reforçada a influência que Hermínio Barreto tem exercido em todos aqueles têm tido a oportunidade de com ele lidar. Esta ligação entre “ensinar o prazer de jogar” e “gostar muito de o fazer”, ou por outras palavras, “inspirar pessoas” é uma mensagem transversal a várias gerações de professores de Educação Física e Treinadores, não apenas de basquetebol, que têm passado pelo ambiente do INEF/ISEF/FMH. Hermínio Barreto marca gerações que não esquecem o seu registo, elegância e humanidade.
Homenagear Hermínio Barreto pelo percurso, e também a pessoa, é igualmente lembrar o pensamento expresso por quem tantos anos tem deliciado candidatos a aprender a jogar. É oportuno deixar as três mensagens mais icónicas da sua autoria, cuja atualidade deveria estar inscrita na esfera de reflexão de quem tem por missão o ensino do jogo ao serviço de quem o quer aprender.
“Não ensine muito, espere que eles aprendam bastante”
“Aprender o jogo...jogando”
“Jogar é simples, difícil é jogar bem!”
Transformar estas palavras em consequência pedagógica é o desafio que nos deixa e que nos deve fazer pensar. A lucidez da sua reflexão, a musicalidade do seu discurso e a tranquilidade com que discute o seu tema de eleição (ou qualquer outro), são ainda hoje, já com mais alguns bons anos além da idade jovem, desígnios incomparáveis da pessoa aqui homenageada.
Nesta inexorável passagem que fazemos pelo tempo, onde o encontro e o desencontro com pessoas e acontecimentos nos vai mostrando o caminho a seguir, conhecer e não conhecer o Hermínio Barreto não é evidentemente algo indiferente. Devemo-nos sentir gratos pelo seu contributo e pela palavra amiga que nunca hesitou em deixar para aqueles com quem priva. Sinto a sorte e felicidade de ser um deles.
Obrigado Prof. Hermínio.
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