Kobe Bryant esperou 5 minutos para receber o seu troféu de MVP do All Star Game. Ed Macauley esperou 42 anos.

O ex-jogador dos Celtics foi o MVP do primeiro All Star Game, em 1951, mas o prémio foi-lhe atribuído apenas dois anos depois. O troféu, esse demorou um pouco mais a chegar.

E nos 60 anos que separam estes dois MVP’s, muita coisa mudou.

As estrelas alinham-se

Em 1951, Haskell Cohen, relações públicas da liga, teve a ideia de realizar um evento para promover a ainda recente e não muito famosa liga profissional de basquetebol. A sua ideia era fazer um jogo de exibição entre os melhores jogadores de cada conferência. Mas poucas pessoas acreditavam que a ideia pudesse ser bem sucedida. Entre os donos das equipas e mesmo entre a direcção da NBA a ideia de Cohen não foi muito bem recebida, pois temia-se que fosse um fracasso de assistência e pudesse dar prejuízo. O único dono que acreditou na ideia foi Walter Brown, o dono dos Celtics. Perante o receio generalizado, Brown assumiu o risco pessoalmente e disse que pagaria os prejuízos se o jogo não fosse um sucesso. Então, o comissário Maurice Podoloff, ainda que não totalmente convencido, deu luz verde para avançar. E, assim, o All Star Game, como foi baptizado o evento, ficou marcado para o dia 2 de Março de 1951, no Boston Garden.

A menos duma semana da realização do jogo, os receios ainda continuavam. Maurice Podoloff disse a Cohen que todas as pessoas com quem tinha falado lhe diziam que seria um fiasco. Temendo que poucos fãs aparecessem (a média de assistência da liga era de 3000 espectadores) e querendo evitar o embaraço para a liga, Podoloff queria cancelar o evento. Mas o determinado Brown recusou.

No dia marcado, 10094 espectadores ocuparam os seus lugares no Boston Garden e viram a selecção do Este vencer a sua congénere do Oeste, 111-94. Nessa noite de sexta-feira, não houve nenhum afundanço, mas os fãs aplaudiram de forma entusiástica cada jogada dos 20 melhores jogadores da NBA. Ed Macauley, com 20 pontos, foi o melhor marcador. Mas não foi eleito o Jogador Mais Valioso. Não nessa noite.

O prémio de MVP só foi criado dois anos depois. Em 53, no terceiro All Star Game, a NBA decidiu premiar o melhor jogador e os jornalistas elegeram também os vencedores dos dois anos anteriores. Macauley recebeu as honras do jogo de 51. Mas o troféu ficou esquecido até 1993, quando, numa entrevista, perguntaram ao já idoso Macauley pelo troféu que recebeu. “Troféu? Qual troféu?”, respondeu. Apercebendo-se do erro, a NBA entregou finalmente um troféu de MVP a Ed Macauley.

As estrelas mais brilhantes

Entretanto, o Jogo das Estrelas cresceu para um Fim-de-Semana das Estrelas. Em 84 foi acrescentado um Concurso de Afundanços. Em 86, um Concurso de Triplos. E nos últimos anos, mais concursos foram criados. O All Star tornou-se um evento global, acompanhado por milhões em todo o mundo. Um evento que já faz parte da história da NBA e do desporto mundial.

E o que fica para a história na edição deste ano?

Kobe Bryant e uma das melhores exibições em All Stars na história recente, com 37 pts (a 5 do recorde de Wilt Chamberlain) e 14 res. O base dos Lakers, a jogar em casa, tornou-se o segundo jogador a ganhar quatro prémios de MVP (o outro é Bob Pettit, que jogou na NBA entre 54 e 65).

Lebron James e o segundo triplo-duplo da história do jogo (o outro jogador a consegui-lo foi – quem poderia ser mais? – Michael Jordan). King James, quase sem se dar por isso, terminou com 29 pts, 12 res e 10 ass. Outra das melhores exibições em All Stars dos últimos anos. Não fosse a exibição de Kobe (e a vitória do Oeste) e o MVP era seu.

Blake Griffin a voar por cima (bem, mais ou menos por cima) dum carro para vencer o Concurso de Afundanços.

James Jones a conseguir a primeira vitória da temporada dos Heat sobre os Celtics (sim, o concurso é individual, mas não me digam que os seus colegas de equipa e todos os fãs dos Heat não saborearam tanto como ele a vitória na final sobre dois Celtics).

E, no outro extremo, o que não vai ficar para a história na edição deste ano?

O roubo que fizeram a JaVale McGee no Concurso de Afundanços. Um roubo que, infelizmente, teve a surpreendente colaboração do próprio. Até ao último afundanço de Griffin (o do carro), McGee estava claramente a ganhar. Os seus três primeiros afundanços foram mais originais e mais impressionantes que os de Blake. Depois, do número do carro, inexplicavelmente, pareceu desistir e no último afundanço parecia estar apenas a cumprir uma formalidade ou uma obrigação, fazendo um muito mais fraco que os anteriores.

O Rookie Challenge , o Skills Challenge e os Shooting Stars. No jogo dos rookies e dos sophomores há ainda menos defesa que no All Star Game e só se pareceu minimanente com um jogo de basquetebol nos últimos minutos. Sim, eu sei que é só um jogo de exibição e os fãs querem ver afundanços e jogadas espectaculares, mas um bocadinho de orgulho e vontade de ganhar não lhes ficava mal. Vejam o exemplo dos mais velhos: a brincar, a brincar, mas ninguém quer perder o jogo. Os outros concursos de Sábado (Skills Challenge e Shooting Stars) são eventos feitos em ritmo de brincadeira, para entreter os fãs até começarem aquilo que todos querem ver, os triplos e os afundanços. Divertidos de ver, mas no dia seguinte já ninguém se lembra deles.
 
No final, feito o balanço, o que fica é uma edição muito boa do All Star Weekend, uma das melhores dos últimos anos. Foi um fim de semana repleto de entretenimento, diversão e momentos emocionantes. E, também, com grandes momentos de basquetebol pelo meio. Realizado ao melhor estilo de Hollywood, com direito a passadeira (não vermelha, mas rosa do patrocinador) e cobertura ao nível dos Óscares, Grammys ou qualquer outro grande evento cultural americano e mundial. Como o All Star já nos habitou, foi uma excelente promoção para a NBA e para o basquetebol. Um fim de semana onde as estrelas do basquetebol foram as mais brilhantes do firmamento.