Já lá vão 23 anos, quando, nas férias escolares da Páscoa de 2001, organizei em Vila Franca de Xira o primeiro jamboree, após a reativação do CNMB, que ocorreu em março de 2000. Desde essa longínqua Páscoa até ao final das minhas funções como diretor técnico do minibásquete,
em julho de 2016, durante 15 anos foram realizados pelo CNMB vinte e oito jamborees nacionais, e um jamboree europeu na ilha da Madeira, quase uma média de 2 jamborees por ano.
Bem sei que tivemos uma pandemia, mas ao contrário dos outros eventos e atividades destinadas ao minibásquete, penso que desde o trágico surgimento do Covid-19, não se voltaram a realizar jamborees.
Como estou a viver parte do meu tempo de reformado em Melides, acompanho com alguma proximidade o crescimento do Basket Santo André. Este facto tem me levado a cimentar laços de amizade com o André Cruz, que me confidenciou, que a sua passagem pelo jamboree, ainda como mini, realizado na ilha Terceira tinha sido decisivo para a sua fidelização à modalidade. No dia dois de março deste ano fui assistir ao jogo da Proliga entre o Basket Santo André e o Maia Basket, e fui surpreendido pelo facto de em ambas as equipas estarem a jogar dois jovens Diogo Gomes do Maia e o Manuel Prates do Basket Santo André, que tinham estado juntos no jamboree realizado em 2013 em Soutocico em homenagem ao saudoso Mário Brites. Sou sincero se não fosse o Manuel Prates vir ter comigo e relembrar-me desse facto eu não os teria reconhecido. Foram cerca de 2000 minis que passaram pelos 29 jamborees.
Esta agradável surpresa, associada ao facto de em todo o lado do país onde passo, para a convite dos clubes, transmitir um pouco da minha experiência, encontrar sempre alguém que, atualmente, quer como jogador, quer como treinador, como é o caso do André Cruz, estão fidelizados ao basquetebol muito por força dos jamborees, é algo que me deixa muito feliz e me permite compreender a força intangível, que os jamborees tiveram no desenvolvimento do minibásquete em particular e do basquetebol em geral. Muitos são os exemplos de fidelização e crescimento de atividades que eu poderia mencionar. Um exemplo são os numerosos torneios que surgiram fruto do contato e conhecimento entre treinadores que conviveram nos jamborees. Mas hoje vou chamar a atenção para uma curiosidade.
O que há de comum entre o Miguel Freitas e o Apolo Caetano? Ambos são açorianos, embora um seja da Terceira e o outro micaelense, ambos estão a jogar nesta época a base em equipas da liga, um no Lusitânia e o outro no Porto. Um tem mais do dobro da idade do outro. Mas há mais um dado em comum: para além de serem açorianos, ambos passaram por jamborees. O Miguel Freitas esteve em 2001 no 1º Jamboree em Vila Franca de Xira e o Apolo esteve em 2016 no último jamboree que organizei em Melgaço.
Como houve quase dois milhares de jovens que passaram por jamborees não tenho a capacidade de memorizar todos. Contudo recorrendo apenas à minha memória e peço desde já desculpa aqueles de quem não me lembrei, quando vejo na FPBTV jogos das ligas, masculina e feminina são inúmeros os jovens que me vem à memória. Alguns já deixaram de jogar como o Diogo Correia, a Michelle Brandão e as duas irmãs Bernardeco mais velhas, outros estão a jogar no estrangeiro, como o Diogo Brito e a Leonor Serralheiro. Curiosamente nos masculinos são mais os bases, base/extremos, que me vem à memória como o Miguel Freitas, o Diogo Ventura, o Miguel Maria Cardoso, o Gustavo Teixeira e o Apolo Caetano e nos femininos embora também haja bases como por exemplo a Inês Faustino recordo-me mais de jogadoras altas como a Luidiana Livulo, a Emília Ferreira, a Carolina Cruz e a Rita Rodrigues.
Agora que a Festa do Basquetebol em Albufeira terminou, lembro-me que nunca este grandioso evento foi no meu tempo de diretor técnico, impeditivo da realização dos jamborees de minibásquete no período das férias da Páscoa.
Ninguém faz nada sozinho e nos jamborees contei sempre com a colaboração voluntária de muitos treinadores/as e monitores/as. Em homenagem a todo esse envolvimento de tanta gente escrevi aqui para o PB um artigo “Aprender com velhos e novos amigos de 22 de dezembro de 2014” com a lista desses colaboradores/as. A lista não está completa, faltam, como treinadores/as e monitores/as, os participantes nos jamborees de 2015 e 2016. Quando passo a vista pelos nomes encontro para além do nome do diretor técnico do minibásquete, que este ano cessou as suas funções, e da atual vice-presidente do CNMB, muitos treinadores de formação, treinadores a trabalhar fora de Portugal, treinadores de equipas seniores, masculinas e femininas, árbitros, diretores técnicos de associações, comentadores da FPBTV, colaboradores pontuais em eventos da federação, o diretor técnico pelo projecto “NBA Basketeball School in India” e até um presidente duma associação.
O jamboree é um espaço de criação de amizades, um fórum de partilha de conhecimentos, envolvendo pessoas de todo o país. É um evento que une pessoas vindas de todos os cantos do país. É um lugar de partilha das pessoas, que estão ligadas ao minibásquete. É um evento de grande reconhecimento e muito elogiado pelos pais que tiveram filhos nos jamborees.
Não sei se os jamborees estão ou não estão em vias de extinção. O que sei é que acabar com os jamborees é não compreender grande parte da essência do minibásquete. É não perceber a importância que este evento teve no desenvolvimento do minibásquete desde 2001, é não compreender a força intangível deste evento. É a meu ver a incapacidade de ver mais para além dos resultados imediatos é um ato de miopia.
Comentários
Para mim, foi apenas o despertar de uma nova certeza que perdura ate aos dias de hoje.
Viva o minibasket