A semana trouxe o início da época para a equipa do Liceu de Trinity e para mim trouxe o início de um ciclo infernal de 3 treinos por dia, o que me fez reflectir sobre as diferenças que encontro aqui em relação às que encontro em Portugal.
O pavilhão estava com muitas pessoas para assistir, ao que os americanos chamam a “Midnight Madness” (loucura da meia noite), que é uma tradição muito antiga e marca o início oficial da época desportiva. Sentado no banco vendo a apresentação dos jogadores um a um, dei por mim a pensar no basquetebol de formação norte-americano e no português e conclui o seguinte: não é pela falta de dinheiro que a modalidade no meu pais está quase em coma.
Os americanos são muito orgulhosos, muito patriotas (por vezes até demais) mas têm algo que me orgulho de fazer parte, tudo é feito para proteger e dar as melhores condições aos seus atletas e, a par disso, enquadrar o sistema desportivo e as escolas (igual a clubes) de modo a que todos possam ter as condições para que desenvolvam as actividades com rigor, igualdade e competitividade. Começam por eliminar campeonatos nacionais de sub-14, sub-16 e sub-18 porque, no entender deles, querem que TODAS as equipas joguem o mesmo o número de jogos, sendo que cada escola terá que realizar um número mínimo de 30 jogos, dividindo este numero entre jogos realizados obrigatoriamente com as equipas da sua divisão (que nunca são mais 18 jogos, num sistema de casa e fora) e os restantes jogos até completar os 30, com equipas que a escola escolher, em qualquer zona do pais, ou seja, com isto permite eliminar a obrigação de ter que jogar campeonatos nacionais (que põem frente a frente equipas de zonas distintas) não achando importante definir o melhor dos melhores, e por outro (e penso que é o mais importante) a igualdade de TODAS as equipas realizarem o mesmo número de jogos e ao contrário do que acontece em Portugal, quem não participa em taças ou campeonatos nacionais fica um número absurdo de meses sem competir até chegar o inicio da próxima época, afastando os atletas da modalidade, pois todos sabemos que os jovens podem gostar muito de treinar, mas gostam ainda mais de jogar.
E assim passou a “Midnight Madness” e começou uma semana onde dei entre 6 a 8 horas de treinos por dia, e apercebi-me de duas coisas, não existem exercícios milagrosos por terras do Tio Sam, o que existe são treinadores bem preparados, que conhecem e estudam o jogo, e atletas que tem uma ambição e vontade enorme em tornarem-se cada vez melhores. Juntamos a isto um sistema desportivo que dá condições para que cada jovem que tenha qualidade possa progredir em termos desportivos, educativos e financeiros.
Desta semana concluo que devemos dar as mesmas oportunidades a todas as equipas, sem excepção, e as mais fortes naturalmente irão vencer, agora o que não podemos é continuar a ter constantemente equipas a fazerem 20 jogos e outras (quase sempre as mesmas) a realizarem o dobro. A época vai ser longa, mas basquetebol é basquetebol em qualquer parte do mundo, a bola tem o mesmo peso e tamanho, o cesto está à mesma altura e o campo tem as mesmas dimensões, os atletas terão sempre em si os sonhos de quem deseja conquistar o mundo e tornar-se o próximo grande jogador, nós adultos, temos a obrigação de deixá-los caminhar, sem queimar etapas e, acima de tudo, criar as condições para que todos tenham a oportunidade de competir com as mesmas regras e não termos regras diferentes para as mesmas situações. Se o desporto é uma escola de valores (nos dias de hoje este chavão devia ser congelado) então comecemos por criar igualdade para todos, um dos valores basilares da estrutura de um jovem.
Eu Vejo-te...
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Comentários
No 15 Jamboree em Santa Maria houve num dia, um momento para perguntas e respostas dos jovens a que pomposamente intitulámos a Assembleia do Jamboree.
Lembro-me como se fosse hoje a questão levantada por um mini do Clube Camões da AB da Guarda quando perguntou á Directora Técnica da AB de Santa Maria; havendo apenas dois clubes na ilha quantos jogos é que se faziam por época?
O jovem ficou muito admirado quando lhe disseram que apesar de serem apenas dois clubes conseguiam fazer cerca de 20 jogos por ano.
Nesse momento o jovem sentiu que quem vivia numa ilha era ele, pois para sua tristeza, apenas fazia 4 a 5 jogos por época.
Obrigado pelas tuas reflexões
Mais uma bela reflexão, mais um belo artigo
.
Aproveito para dar algumas achegas até porque muito do que aqui está em causa prende-se com questões que já levantei como por exemplo:
1) A reformulação da divisão administrativa do basquetebol que tem de abandonar o conceito completamente ultrapassado de distrito.
2) A evolução da modalidade passa pelo aumento de praticantes e pelo volume de prática treinos e jogos.
3) O facto de se perceber que o que prende um praticante à modalidade é o prazer de jogar.
Posso afirmar que conheço, como poucos, muito bem a realidade do terreno em muitos cantos do país. Para finalizar vou contar uma pequena história que pode ajudar ilustrar a tua reflexão.
Concordo com o que disse 100%, existem associações que se juntam a outras vizinhas para continuarem a competir caso não vão a taças ou campeonatos nacionais, mas como disse o Nuno Fonte no comentário em baixo, nem todas as associações são assim. O meu ponto é que não podemos ter associações a fazer de uma maneira e outras a fazer de outra, sei que isto mexe com outros factores como o numero de equipas de cada associação entre outros, mas será que não devemos começar primeiro por ter um sentido de igualdade de regras (o mais possível) para o pais todo e não andando a fazer navegação às vista conforme apare uma onda...Posso estar completamente errado e (como já me chamaram e muito bem) ser um romântico mas não consigo ver outro modelo que não dê as mesmas oportunidades para todos.
Relativamente aos distritais com poucas equipas há soluções, umas mais dispendiosas outras menos convencionais:
- integrar o campeonato do mesmo escalão numa associação vizinha, como fez o André Resende em Sub19 este ano (mais caro provavelmente pois assemelha-se em termos de deslocações a uma prova nacional);
- integrar as provas masculinas da mesma associação, eventualmente no escalão abaixo, aproximando o nível da equipas existentes (tenho ideia que o Alentejo costunma fazer isto também).