Na continuidade do primeiro artigo, proponho-me a listar alguns exercícios que fazem parte de uma rotina inicial para aprendizagem do lançamento com salto. Defendendo a ideia de que o lançamento se constrói a partir dos apoios,
na procura de estabilidade/equilíbrio, continuidade e coordenação entre a acção dos membros inferiores e superiores, partilharei alguns exercícios básicos (e certamente do conhecimento de todos os treinadores mais sensíveis com a questão do lançamento).
A sua sistematização resultou da partilha de exercícios utilizados por companheiros meus treinadores. A implementação do hábito de realização de uma rotina de lançamento após entrar no recinto de treino antes do início da sessão, possibilitou, em todos os contextos onde exerci a função de treinador obter resultados significativos, tais como:
- Estimular em todos os atletas o gosto pelo lançamento;
- Aumentar o número de atletas que tomam a iniciativa de lançar oportunamente no jogo;
- Resolução de problemas de natureza mecânica e coordenativa em momentos de aperfeiçoamento do lançamento.
As questões associadas ao aumento das percentagens de lançamentos surgirão, naturalmente, na sequência do aumento do compromisso do atleta com a prática regular e persistente do lançamento. De pouco vale o treinador incluir exercícios de lançamento em todas as sessões de treino se o atleta não investir individualmente. E a esse nível consideramos dois tipos de investimento: individual (pegar na bola e praticar todos os dias na tabela mais próxima) ou através de sessões individuais de prática, propostas pelo treinador e de aceitação do atleta.
Para que fosse possível toda esta compilação de ideias transformadas em rotinas, importa igualmente agradecer e reconhecer os contributos de treinadores com quem trabalhei ou tive a oportunidade de obter conhecimento em formação. Todos eles viabilizaram a sistematização de muitos dos exercícios propostos.
Nomeadamente ao José Miranda, Xavier Silva, Dário Mourato, Teresa Barata, Raul Antunes e David Hopla o meu obrigado.
ROTINA DE LANÇAMENTO 1
Condições de realização:
- Antes do se iniciar o treino;
- À parede numa primeira fase, à tabela e ao cesto em fases posteriores (quando o cesto facilmente é alcançável);
- Realizar os mesmos exercícios para a mão dominante e não dominante (trabalho de coordenação);
- Realizar 8 repetições para cada exercício.
Posição Inicial (assumir sempre posição inicial):
- Partindo da posição de pés junto;
- Recuo pé do lado da mão de apoio (até ponta da sapatilha alinhar com início dos atacadores da sapatilha do pé do lado da mão dominante);
- Afasto pés à largura dos ombros;
- Pernas ligeiramente flectidas (posição baixa);
- Ligeira inclinação do tronco à frente.
Exercício 1 – Só mão que lança
- Bola em posição de bandeja, com braço lançador estendido à frente do corpo;
- Trazer a bola para a posição de lançamento (mão debaixo da bola, cotovelo debaixo da mão;
- Extensão do braço e flexão da mão.
Exercício 2 – Mãos e pernas
- Idêntico ao exercício anterior, mas com flexão e extensão dos membros inferiores.
Exercício 3 – Com mão de apoio sem tocar
- A mão de apoio coloca-se ao lado da bola (respeitando o T entre polegares) mas sem contacto com a bola;
- Realizar a acção de lançamento com a mão de apoio a acompanhar;
- O exercício contém acção de flexão e extensão dos membros inferiores.
Exercício 4 – Com mão de apoio
- Idêntico ao exercício anterior mas com a mão de apoio em contacto com a bola.
Exercício 5 – 3 Jump Shot
- Colocando a bola na posição de lançamento, realizar 3 saltos curtos com membros inferiores em extensão;
- O 4º salto é precedido de flexão dos membros inferiores.
Dica Importante: importante manter a bola na posição de lançamento até ao momento do lançamento propriamento dito.
Se pensarmos que cada atleta poderá realizar esta rotina todos os dias, em 15 minutos que disponha para a realizar ou chegando antes ao treino, estaremos a falar de 40 repetições com a mão dominante e 40 com a mão não dominante. Por 80 vezes estará a realizar trabalho de lançamento.
Numa perspetiva de progressão, concebermos esta rotina realizada ao cesto, poderemos estimular o atleta a contabilizar quantas vezes a bola entra no cesto sem tocar no aro (situação que, ao verificar-se, revelou, muito provavelmente, um grau elevado de correção na execução).
Se às duas sugestões anteriores associarmos a existência de um caderno do atleta, onde este regista o seu desempenho, poderemos pensar que aumentam as probabilidades deste atleta aquira, através do treino, condições para passar a um patamar acima, realizando outro tipo de rotinas. A esta sequência de exercícios poderemos chamar rotina dos 80 primeiros, pois tudo começa com estes exercícios mais simples e analíticos.
Não queríamos deixar de estimular os treinadores para realizarem periódica esta rotina. Não só possibilitará melhorar a qualidade das demonstrações, como também exercitar e sentir as tarefas propostas aos atletas.
Se a tudo isto existirem boas e oportunas observações, correções individualizadas e registo filmado das execuções (associadas a novas correções) estará iniciada uma cumplicidade treinador-atleta-lançamento, facilitadora da melhoria deste gesto técnico.
Bons lançamentos!