Qual é a importância do minibásquete na dinâmica do Grupo Desportivo da Gafanha?
No GDG Basquetebol acreditamos que um sólido projecto desportivo deve estar sustentado no trabalho do minibásquete, sendo neste escalão onde promovemos maior número de iniciativas, no qual investimos mais recursos humanos e no que confiamos o futuro do nosso clube. Pessoalmente, considero o minibásquete como a base do meu trabalho, e acredito cegamente que só através de projectos fundamentados no minibásquete o basquetebol pode evoluir e crescer. Já na minha etapa anterior como Coordenador em Espanha, o meu anterior clube (CB Seis do Nadal-Coia) também sempre baseou o seu macro-projecto no trabalho nas Escolas e no cuidado das equipas de minibásquete, chegando a trabalhar com mais de 500 atletas (dos quais mais da metade eram minis). Hoje em dia, procuro transferir as mesmas ideias ao GD Gafanha, criando um grupo de trabalho sólido no minibásquete, transmitindo as minhas ideias e os meus métodos de trabalho, e tentando mudar o meu entorno para fazer acreditar às pessoas a importância do minibásquete.
Como está estruturado o vosso projecto de minibásquete e qual é a sua ligação à parte escolar?
Nestes momentos, além de Coordenador Geral do GDG, sou o responsável pela orientação do Grupo de Trabalho de Minibásquete, sendo também o treinador principal dos Minis 8 e das Minis 12 Femininas. Contudo, tenho uma treinadora-adjunta comigo nas Minis 12, e tenho outras 3 colaboradoras para orientar os Minis 8 Mistos. O grupo de Minis 10 Mistos tem um treinador principal e mais 2 colaboradores. E o Grupo de Minis 12 Masculinos tem um treinador principal e um treinador-adjunto. Cada equipa treina 3 dias, 1 hora e 30 minutos, e tem à sua disposição sempre 4 tabelas de minis e material diferente, tendo no mínimo 1 bola para cada atleta.
Além disto, o nosso clube conseguiu há 3 anos criar uma ligação importante aos diferentes núcleos escolares, sendo que o GDG Basquetebol é o responsável pela organização do Torneio 3x3 de Escola, quer na Secundária da Gafanha da Nazaré, quer no Ciclo da Gafanha da Nazaré, onde conseguimos captar um número importante de atletas para o nosso clube, sobretudo no 5º e 6º ano. Desde o ano passado, também assinamos um protocolo de colaboração com a Câmara Municipal de Ílhavo, para ter acesso às Escolas Primárias e participar em todas as actividades de promoção desportiva da autarquia.
Estamos conscientes que, enquanto o pessoal do futebol fica à espera de que os rapazes apareçam no relvado e eles aparecem, nós não temos a mesma sorte e temos que ir à procura deles às escolas, temos que cativá-los e depois temos que criar diferentes iniciativas para poder oferecer aquilo que os outros não podem ou não conseguem oferecer.
Quantas equipas e escalões de minibásquete e quantos treinadores e jogadores movimenta o Gafanha?
O nosso clube criou faz agora 4 anos um Grupo de Babybasket (3, 4 e 5 anos), que se mantêm neste momento com mais de 10 atletas e que conta com 4 monitoras. Nos escalões de minibásquete, os Minis 8 Mistos têm mais de 20 atletas e temos 4 treinadores para atender as suas necessidades; os Minis 10 são perto de 30 e contam com 3 técnicos responsáveis; as Minis 12 Femininas já são mais de 20 (com 2 técnicos) e os Minis 12 Masculinos também são mais de 20, orientados por 2 técnicos, se bem que alguns destes atletas já integram os planteis das equipas de Sub-14 Masculinos e Femininos. Além disto, o nosso clube tem 2 equipas de Sub14 Masculinos, 2 equipas de Sub14 Femininas, 2 equipas de Sub16 Masculinos, 1 equipa de Sub16 Femininas, 1 equipa de Sub19 Femininas, 1 equipa de Seniores Masculinos na CNB-2 e 1 equipa de Seniores Femininas na 1ª Divisão. Fazendo a soma de todas as pessoas que trabalham no GDG, o nosso Corpo Técnico conta com um total de 21 treinadores, alguns dos quais estão ligados a diferentes equipas, sendo que nesta época temos em perspectiva ultrapassar os 200 praticantes. Quem tiver interesse em conhecer mais do nosso clube, pode visitar o nosso web-site: www.gdgbasquetebol.com”.
Fruto das nossas conversas sabemos que tem ideias muito definidas sobre as prioridades, os investimentos e as apostas que devem ser feitas no basquetebol. Quer nos dar a sua opinião?
Na minha opinião, deveriam mudar muitos aspectos. Sou apologista da crítica construtiva, e espero que as minhas palavras assim sejam interpretadas, mas nunca fui pessoa de ficar calada. Na Federação Portuguesa de Basquetebol é preciso incorporar pessoas com ideias novas, com novas iniciativas e menos acomodadas. Com certeza que, pelo menos, começamos a questionar muitas das coisas que fazemos, e a melhora-las. Além disso, a FPB tem, ao meu ver, algumas prioridades trocadas, pois subsidiam com ajudas as arbitragens das equipas de Seniores nos Campeonatos Nacionais… quando o que deveriam fazer era subsidiar às equipas de formação nas diferentes Associações, para reduzir os custos e promover o aparecimento de mais clubes e mais equipas de formação.
Mas as Associações e os Clubes também têm culpa, pois são eles os que devem fazer propostas à FPB. Contudo, penso que no geral nem as Associações nem os Clubes estão muito vocacionados para o minibásquete, pelo que a base da pirâmide do crescimento fica com pés de barro, não tem uma estrutura forte que garanta a continuidade do trabalho, e deste modo são poucos os casos de projectos a longo prazo que encontramos em Portugal… não há paciência, e nisto a culpa é das direcções dos clubes… quer-se tudo de um dia para outro.
É evidente que a minha opinião é que se deve apostar por projectos a longo prazo, com estruturas desportivas sólidas e com uma importante base assente no minibásquete. A isto somaria uma clara aposta na formação de treinadores, investindo maiores recursos em formações contínuas (e não apenas nos cursos oficiais – que muitas vezes nem respondem às necessidades dos técnicos) e num maior acompanhamento por parte dos seus coordenadores.
Normalmente a festa de encerramento da época ao nível do minibásquete na região de Aveiro é feita na Gafanha, qual é a importância desse evento para o vosso clube?
O GD Gafanha é um dos clubes mais activos da AB Aveiro na promoção do minibásquete, com diferentes iniciativas internas, com a organização de diferentes encontros e actividades para diferentes clubes, com torneios que promovem o intercâmbio de equipas de diferentes Associações e também com equipas de Espanha, ao tempo que participamos em muitas actividades doutros clubes vizinhos, em torneios promovidos por clubes doutras Associações e em diferentes iniciativas vindas de Espanha. Além disto, durante 2 anos consecutivos organizamos a Festa de Encerramento da AB Aveiro, com mais de 500 atletas envolvidos, que era um ponto importante no nosso planeamento enquanto desafio para a organização e para nos mostrarmos aos restantes clubes da ABA. Nos últimos tempos, devido a algumas divergências com a Direcção da ABA, o nosso clube não se tem envolvido muito nas iniciativas associativas e não nos disponibilizámos para a organização deste evento, mobilizando os nossos recursos para a promoção do minibásquete através de actividades organizadas exclusivamente pelo nosso clube.
Uma pergunta difícil, que poderia ser feito para melhorar o minibásquete na região de Aveiro e no país?
O mais importante seria conseguir mudar as mentalidades dos directores dos clubes, para fazer-lhes ver não só a importância do minibásquete, mas também a relevância de um bom trabalho no minibásquete para garantir o futuro do clube. Conseguido isso, tudo seria mais fácil. Os clubes investiriam mais em bons treinadores para o minibásquete, o minibasquete não seria encarado como um ATL (como é nalguns clubes) e passaria a ser um espaço importante dentro do clube.
A isto temos que somar também que seria importante por parte das Associações rever os modelos competitivos do minibásquete, adaptando estas competições às necessidades das crianças e não às dos adultos. Na minha opinião, nem é benéfico ter um modelo rígido de competição ‘pré-basquetebol’, nem um modelo de ‘jogo-brincadeira’ sem piada nenhuma e sem objectivos, que podem provocar desmotivação nos participantes. É importante que as crianças aprenderem a lidar com a vitória e a derrota… de facto, o problema radica nos adultos. São estes que não sabem lidar com a vitória e a derrota, quer treinadores, quer seccionistas, quer pais e mães, que só querem ganhar por todos os meios e que sobrevalorizam o resultado dos jogos nas camadas jovens.
Movimentar tantas equipas, ter tantos treinadores, tem custos elevados, quais são as fontes de financiamento do Gafanha?
Realmente, movimentar este número de atletas e de técnicos implica custos elevados. A nossa sorte é garantirmos a continuidade de muitas das empresas que nos apoiam, pois as fontes de financiamento principais do nosso clube são os patrocínios de pequenos patrocinadores para cada equipa, as quotas mensais dos atletas, o apoio camarário e as receitas internas criadas com diferentes iniciativas, actividades e torneios. Estamos conscientes que o apoio regular de pequenas empresas é o sustento básico do clube, e para garantirmos a sua continuidade temos que cuidar e mimar aquelas empresas que confiam em nós. Temos que ajudá-las da mesma maneira que elas nos ajudam a nós. Não podemos pensar que é suficiente aparecer para ir à procura do cheque e não regressar até ao ano seguinte.
Há quanto tempo existe este projecto e na tua opinião quantos anos vai demorar até que se sintam reflexos significativos deste trabalho nos escalões de formação mais velhos?
A Secção de Basquetebol do Grupo Desportivo da Gafanha existe há 20 anos atrás, e nestes anos todos houve diferentes projectos orientados por diferentes pessoas, sendo que alguns deles alcançaram grandes sucessos, como foi o título de Campeão Nacional de Cadetes Femininas em 2004. A minha chegada ao GD Gafanha foi no início da época 2004/2005, e a partir desse momento implementei um novo modelo de trabalho, baseado especialmente no trabalho contínuo nas nossas equipas de minibásquete e num trabalho intensivo e de qualidade nas equipas de formação. Os resultados deste trabalho demoram evidentemente sempre a aparecer, mas penso que já começamos a ver alguns reflexos interessantes em todas as nossas equipas de minibásquete, e a prova disto são os muitos elogios de técnicos doutros clubes que destacam os nossos atletas e o jogo das nossas equipas de minis. Este efeito ainda vai demorar algum tempo a ter reflexos nos escalões mais velhos… mas, como sabemos, “Roma e Pavia não se construíram num dia”. Contudo, na área feminina (que não se descuidou antes da minha incorporação), penso que não vai demorar muito em produzir-se uma transição lógica de atletas da formação para a 1ª equipa”.
Qual a importância da divulgação do vosso trabalho num site como o Planeta Basket?
É evidente que qualquer projecto precisa de ser divulgado em diferentes espaços e formatos. Para um clube como o nosso, que habitualmente participa em actividades noutras Associações, a divulgação do nosso projecto para o minibásquete num site como Planetabasket, seguido por amantes do basquetebol de todo o País, é muito importante, não só para nos apresentarmos ‘urbi et orbe’, mas sim também para partilhar as nossas ideias e poder ajudar outros clubes que se possam encontrar numa situação similar à nossa. Esta partilha de ideias é o que sinto que mais falta no basquetebol português, e ao meu ver é o que mais pode ajudar a evoluir o nosso desporto. Web-sites como Planetabasket são importantes, não só como meios de informação e difusão desportiva, mas também como espaços de partilha de ideias e de debate que podem ajudar a melhorar o nosso desporto”.
Para terminar que pergunta gostaria que te fizessem e que resposta darias?
A pergunta seria: "Já é público em todos os meios de comunicação que para o ano vai treinar uma equipa na Euroleague… mas pode dizer qual é essa equipa?" A resposta seria: “Já está tudo assinado e será público no momento próprio, mas agora estou centrado em conquistar o título com a minha equipa no Gafanha’. Ehehe...
Para terminar quero agradecer a todo o pessoal de Planeta Basket a oportunidade de utilizar o vosso espaço para partilhar as minhas ideias. Espero que as minhas palavras, se não ajudarem a outras pessoas com as mesmas inquietudes, possam pelo menos semear dúvidas e colocar questões no ar. Sempre que nos questionarmos nas nossas decisões, estamos a crescer como pessoas e a ajudar a melhorar o nosso entorno.
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