Sugerimos que leia o artigo "Ser voluntário ou ser solidário" e medite sobre o seu significado.
Na semana em que todos ficamos atordoados com a notícia duma senhora que ficou morta em casa durante vários anos e por termos recebido um texto que consideramos de elevado valor humano, pedimos a San Payo Araújo, para que o seu texto que deveria ser publicado como habitualmente na terça feira, fechasse a Semana de homenagem aos pais.
Consideramos que a mensagem que veicula é uma profunda reflexão sobre as relações entre pais e filhos e sobre o sentido da vida. Deste modo não poderíamos terminar de melhor maneira a nossa semana de homenagem aos pais.
Ser voluntário ou ser solidário
Num tempo em que nas redes sociais tanto se fala em voluntariado, a semana de homenagem aos pais, com o subtítulo verdadeiro trabalho de voluntariado e a idade dos meus pais, ambos com 90 anos e a necessitarem da solidariedade dos filhos levaram-me, em circunstâncias que a seguir vou descrever, a estar atento a este bem único que se chama vida. Deu-me para reflectir sobre o seu sentido, nomeadamente na preocupação, que os pais têm com o crescimento e desenvolvimento dos seus filhos e na solidariedade, que estes devem ter para com os pais, quando a vida se aproxima do seu fim.
A situação já está felizmente controlada, mas na quinta-feira passada tive que levar o meu pai às urgências do Hospital de São Francisco e na triagem tive a surpresa de ser reconhecido pelo Hugo Sá, enfermeiro que estava de serviço e irmão do Flávio treinador dos Minis do Celorico Basket de Celorico da Beira. O ambiente de hospital, esta coincidência e a natural espera, pois o meu pai foi sujeito a inúmeros exames no hospital, permitiu-me pensar com tempo e serenamente no sentido da vida e naquilo de bom que o basquetebol me trouxe.
Sei que o nosso dia-a-dia não está fácil, e sei que muitas vezes os pais se queixam, que não tem tempo para os filhos e estes não têm tempo para os pais, quando estes se encontram na fase final das suas vidas. Mas também, sei que quando achamos que vale a pena e acreditamos na importância das coisas conseguimos encontrar sempre um tempinho. Aqui abro um parêntesis para ilustrar o que acabo de afirmar com uma parte da entrevista do Ricardo Ribeiro da Comissão de pais do Beira Mar.
“Certo dia, e depois de ver o carinho que dirigentes e treinadores têm pelos pequenitos, assim como o empenho que colocam para que tudo funcione bem apesar dos parcos recursos disponíveis, disse em casa que, caso algum dia no Beira Mar precisassem de ajuda, tudo faria para colaborar. À laia de comentário, acrescento que com a vida profissional que tenho, é extremamente complicado - mas faço com toda a boa vontade e lá estarei a desdobrar-me sempre que possível. Quero com isto dizer que o facto de eu tentar dar uma mãozinha e colaborar quando posso se prende essencialmente à forma como dirigentes e treinadores cuidam, no sentido mais abrangente da palavra, da modalidade dentro do clube. Não havendo essa dinâmica, dedicação e empenho, não há comissão de pais que se desenvolva.”
Esmagados pelo facto de não conseguirmos mudar o que está mal no mundo, muitas vezes acomodamo-nos, e deixamos de viver. Face às inúmeras dificuldades, muitas vezes me questiono sobre o meu empenho. Para dar sentido ao que faço, há muito que percebi, que quem se dedica à formação não pode ter por objectivo não ter problemas, tem é que, centrar-se na procura das soluções e como disse Andrew Matthews “viver com entusiasmo os problemas que tem.”
O grande mérito da Comissão de pais do Beira-Mar, não é certamente mudar o mundo do basquetebol. O seu grande mérito é trabalharem em equipa e serem voluntários e solidários com os que lhes estão mais próximos. O legado de valores éticos, que os meus pais me deixaram e o facto estarem com os dois com 90 anos são para mim um motivo de orgulho, que implica a enorme responsabilidade de, voluntariamente e não por obrigação, ser solidário com os que me estão mais próximos.
San Payo Araújo
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O Presidente do Comité Nacional do Minibasquete