Não nos devemos fixar no passado, devemos olhar para os nossos dias e para o futuro.
Nos anos 70 o pavilhão da Ajuda enchia-se de espectadores para assistir aos jogos dos seniores e estava vazio de público, quando havia os famosos Convívios de Minibásquete do Prof. Mário Lemos. Hoje o mesmo pavilhão tem muitos pais para assistirem aos eventos de minibásquete organizados pela ABL, e estaria certamente vazio para ver um jogo da LPB que ali se realizasse. Nos anos 70 os minis iam sozinhos ou acompanhados pelo seu treinador para os jogos, hoje vão acompanhados pelos seus pais. Temos de compreender que as coisas mudaram.
Tenho seguido atentamente e com muito interesse os artigos publicados pelo António Paulo Ferreira neste site e no site da FPB. Por ter estado recentemente há Bélgica e em contacto com a realidade do Spirou Charleroi, o último artigo do António Paulo chamou-me particularmente à atenção. Concordo em absoluto que é necessário “unir esforços no sentido de que os pavilhões possam ter mais espectadores”, e também considero que este é, mais um dos factores, que contribui para o crescimento do basquetebol, razão pela qual resolvi expor publicamente algumas das minhas ideias sobre este assunto.
Estive recentemente na Bélgica em Charleroi onde pude conhecer mais pormenorizadamente a realidade do Spirou Charleroi. Este clube que é, actualmente, o de maior sucesso naquele país, tem várias estratégias para ter boas assistências, entre as quais gostaria de realçar uma das formas, que contribuem, para que os seus jogos sejam, dos que maior número médio de espectadores tem na Bélgica.
Quem esteve atento à entrevista que conduzi ao Christophe Buchet ficou a saber que o Spirou Charleroi, tinha uma equipa profissional e depois preocupava-se apenas com a formação até aos Sub-14. Este clube não tem os escalões de Sub-20, Sub-18 e Sub-16. Nos escalões dos entre os Sub-14 e os Sub-8 o Spirou Charleroi tem nada menos mais 19 equipas distribuídas do seguinte modo 4 equipas de Sub-8, 4 equipas de Sub-10, 7 equipas de Sub-12 e 4 equipas de Sub-14. Tem apenas basquetebol masculino num total de quase trezentos praticantes. A estes praticantes, (que pagam pelo que vou tendo conhecimento, não mais daquilo que é cobrado em muitos dos nossos clubes pela aprendizagem e prática da modalidade), são dadas condições de treino magníficas conforme foi descrito na entrevista.
Esta capacidade de encontrar soluções e pensar as coisas de outra maneira vem apenas demonstrar que o Spirou Charleroi teve que fazer opções e decidir onde devia investir. Uma das grandes vantagens de ter tantos praticantes jovens é que estes querem ir ver os jogos dos seus ídolos. Nestas idades como os jovens ainda dependem muito dos pais, quando querem ir ver os seus ídolos levam os pais e familiares atrás de si e começam, desde muito cedo a fidelizarem-se, não apenas à modalidade, mas também ao espectáculo. Este é um exemplo de como se podem, nos tempos actuais, mobilizar e fidelizar praticantes e assistentes à modalidade. Há que ser criativo, há que procurar soluções, que vão para além daquelas que são conhecidas. Há que compreender que as soluções da Espanha ou de outros países podem não resultar no nosso país. Para mim uma coisa é clara, as soluções dum país que não tem o gosto generalizado pelo basquetebol, dificilmente poderão ser idênticas às dos países onde existe esse gosto e tradição.
Nos anos de actividade que já levo tenho algumas ideias como envolver e cativar as crianças e os jovens para assistirem a jogos de basquetebol, penso que não soubemos tirar todas as lições daquele Domingo mágico em 1999, quando enchemos literalmente o Pavilhão Atlântico na final do Campeonato do Mundo de Juniores. Não sou sociólogo, mas há coisas que entram pelos olhos a dentro. Há umas décadas atrás era impossível ver um jogo da NBA ou dos NCAA em directo na televisão. O melhor basquete, que o comum dos adeptos poderia almejar ver, era o que se praticava nos campos e pavilhões do nosso país. Hoje a realidade é outra e esse facto, entre muitas outras alterações sociais tem implicações evidentes, na forma como encaramos ir assistir a um jogo de basquetebol.
Há uma coisa que para mim é clara, reconheço o valor de algumas pistas lançadas pelo António Paulo, mas pensar que vamos conseguir encher pavilhões para assistirem a um jogo de basquetebol recorrendo aos argumentos e motivações e há umas décadas atrás, é a mesma coisa que pensarmos que um jovem de hoje vai à procura da informação num jornal, como parte da minha geração o fazia, quando ia comprar ao fim da tarde o Diário de Lisboa, o Diário Popular ou a Capital. Os tempos mudaram, assim como mudaram o que leva ou não as pessoas aos pavilhões.
Comentários
Eu diria mais os treinadores.
Instalou-se na ideia dos nossos treinadores, que os jogos vencem-se a defender. Pois bem, treina-se afincadamente as técnicas de defesa e depois? Chega-se ao ataque e os jogadores são autênticos "pinos", não têm criatividade nem lançamento etc... Em suma, no ataque são uma nulidade.
Eu gosto de vêr cestos, bons cestos, e inteligência.