Há ideias que não me canso de repetir e há uma coisa que tenho a certeza como já o afirmei aqui nos meus textos, as mesmas soluções dificilmente conduzirão a resultados diferentes.
1 - Lutemos por mais minibásquete
Em tempo de crise não é o momento de baixar braços, e mais do que nunca, é em minha opinião um momento importante para se investir de facto e seriamente no futuro, ou seja investir no minibásquete.
Por diversas vezes alertei, e hei-de continuar a chamar a atenção, que a pirâmide do basquetebol tem de estar assente nos escalões de Sub-10 e Sub-12 como acontece em Espanha e não nos escalões de Sub-14 e Sub-16 como acontece em Portugal. É ai que reside a força do basquetebol espanhol e esse é o factor que lhes permite estruturar o método FEB.
“Deixem-se de sonhar em resultados internacionais, enquanto não tiverem 45.000 praticantes de minibásquete” é a frase de Josep Bordas que ficou a ressoar na minha cabeça e que só veio reforçar e de que maneira as minhas convicções.
Rui Costa escreveu num comentário ao meu último artigo,”a melhor maneira de tornares os teus sonhos realidade é acordar”. Amigo Rui podes ter a certeza que há muito tempo que me esforço para alertar consciências e muito me tenho empenhado e empenharei para defender as minhas convicções em função de termos mais e melhor basquetebol. Não me canso de dizer que os edifícios sólidos não se fazem do aproveitamento de acasos e oportunidades, constroem-se a partir dos alicerces e fundamentos.
2 - A angústia dos resultados
A angústia de nos aproximarmos da Europa, o desejo de resultados imediatos e a incapacidade de analisarmos e reflectirmos sobre boas práticas que vamos tendo no país e daí tirarmos conclusões é um dos motivos que nos leva a fazer sempre as mesmas análises e apreciações superficiais da realidade e sermos recorrentes nas propostas de eventuais soluções. Estamos sempre à procura de atalhos para chegarmos mais perto dos outros em vez de nos esforçarmos por resolver as questões de base e termos paciência, até que os resultados surjam de forma consistente e não fruto de ocasiões e trabalhos pontuais ou meras situações conjunturais favoráveis.
3 - Praticantes e prática
Quando falamos em 45.000 jovens no mini estamos a falar de 45.000 jovens com prática regular e que acima de tudo joguem, joguem muito e muitas vezes. Não interessa ter apenas os jovens, interessa tê-los, e pô-los a fazer aquilo que mais gostam jogar. Jogar muito e muitas vezes. Decididamente não é a mesma coisa ter 200 a 400 jovens inscritos no minibásquete, que fazem dois ou três jogos por ano ou ter os mesmos 200 ou 400 jovens e conseguir que estes façam 30 ou 40 jogos, formais ou informais por época. É a conjugação da quantidade de praticantes jovens e o número de vezes que os mesmos jogam durante uma época, que potencia a possibilidade de surgirem praticantes com talento e acima de tudo com gosto pela modalidade. Para aqueles que estamos acima dos 50 anos, nenhum de nós tem dúvidas em afirmar, que a expressão que o basquetebol teve em Moçambique no final dos anos 60 e princípio dos anos 70, residiu em grande parte na força que o movimento do minibásquete tinha naquela região? Quantos treinadores e entusiastas do basquetebol ainda existem em Portugal nascidos nesse movimento?
Que diferença existe em termos entre 200 a 400 minis numa Associação em que as crianças façam muitos jogos ou poucos jogos? Aqui sim teremos de olhar para o que se passa no país, avaliar boas práticas, reflectir e tirar conclusões. Existem cerca de uma dúzia de Associações no país que tem tido nos últimos anos entre 200 e 400 minis. Desse grupo de Associações, creio não estar a cometer nenhuma injustiça, se disser que Viana do Castelo é a que mais jovens oriundos na sua região têm surgido nas selecções nacionais não ocasionalmente mas ao longo dos anos.
4 - Viana do Castelo merece reflexão
Viana do Castelo não tem nenhum clube na Liga, nem na Proliga, nem na Liga feminina, mas tem um conjunto de clubes e treinadores, de entre os quais, alguns com muita experiência, e muitos anos dedicados às etapas iniciais da formação. Num breve levantamento, onde surgiram para o basquetebol praticantes, que este ano fizeram parte das selecções, Viana do Castelo é a Associação, entre aquelas que tem entre 200 e 400 minis, a que mais atletas têm debitado para as selecções nacionais jovens. Para além do João Mesquita (Barca Basket Clube), Edgar Ribeiro (Basket Clube de Coura), Rui Martins (ED Viana), Pedro Fonseca (BC Valença), Ana Margarida Pimenta (ED Liminana) e Ana Marta Barros (ED Viana), que acabaram por não ficar seleccionados, mas estiveram envolvidos nos trabalhos das selecções; excepto a selecção de Sub-16 feminina, todas as outras selecções tiveram um representante que surgiu para o basquetebol não, apenas em clubes referência da região, mas também noutros que certamente muita gente do basquetebol nunca ouviu falar, como podem verificar: SUB-20M Miguel Cardoso ED Limiana; SUB-18M José Pedro Miranda BC Valença; SUB-16M Carlos Diogo Fontes CP Lanheses, SUB-20F Michelle Brandão CP Freixo, SUB-18F Vânia Sousa ED Limiana
Este facto não resulta de um mero acaso. Esta realidade resulta para além do trabalho dos seus treinadores de um conjunto de factores que passo a citar:
- Viana do Castelo é a região do país em que o rácio de praticantes por número de habitantes é o maior do país.
- A sua tourné distrital promove muita prática entre os jovens.
- O circuito “Ticha Penicheiro” criado pela AB Viana permite aos femininos muitos contactos com clubes de outras Associações.
- Os seus clubes mais representativos ED Limiana, ED Viana, BC Valença, BC Monção realizam frequentemente eventos de minibásquete que envolvem clubes espanhóis e de outras Associações.
- Preocupada com a transição do minibásquete para o basquetebol, Viana foi das Associações pioneiras na introdução do torneio associativo para o escalão de Sub-13.
5 - Dá para pensar
Se queremos procurar jovens com gosto na prática e com talento, será bom reflectirmos sobre o investimento e a atenção, que Viana do Castelo deu nos últimos anos ao minibásquete e tirarmos conclusões. O que eu vos posso afirmar, depois do que vi em Collell, é que se a nossa Federação funcionasse, como uma das federações autonómicas de Espanha, Portugal só tinha um praticante nascido em 1999 com potencial e perfil para estar em Collel. Seria uma rapariga. Dá para pensar…
Comentários
E se no futebol a base da piramide é bem capaz de ser 10-12 anos, e vai continuar haver no futebol muita gente a praticá-lo, o basket corre o risco se não existir um investimento e uma aposta clara na educação dos dirigentes de que o minibasket é o futuro perder-mos o pouco que já conseguimos.
E gostaria de salientar que muitos dos praticantes que temos no minibasket estão nesta modalidade não pela paixão do basket, mas porque tem de praticar uma modalidade e nós temos que conseguir agarrá-los e mostrar que o basket é uma Paixão.
Viana do Castelo, Valença, Paredes de Coura, Cerveira, Ponte da Barca e Ponte de Lima.
Este ano está previsto a realização em Monção.