Pensar o papel dos pais no percurso formativo e desportivo de um jovem. Escrever sobre este assunto é melindroso, por diversas razões.
A primeira das quais tem que ver com o fantástico papel exercido por inúmeros adultos que dispensam o seu tempo para colaborar, enquanto agentes desportivos, na formação dos jovens desportistas. Todos esses pais já leram, pensaram, analisaram e discutiram esta temática, sendo que as ideias que trago para esta crónica ameacem ser repetitivas. A segunda razão, está intimamente ligada à primeira. Com tantos bons exemplos e ferramentas ao dispor da actual geração de pais, porque continuamos a assistir a espectáculos “tristes” todas as semanas em vários pavilhões do país?
Não quero tentar perceber o que leva um pai a desautorizar um árbitro ou um treinador, durante um jogo, para fazer a “defesa”(?) do seu filho. Muito menos fazer um esforço para compreender pais que se insultam mutuamente, que reivindicam favores de equipas de arbitragem ou que fazem uma cobrança exagerada e irrealista em relação à performance dos seus filhos. Não quero, mesmo, entrar por aí.
Mas preocupa-me que, perante situações de carências em diversas equipas para ter elementos de apoio nas suas formações, existam pais que não dão esse passo. Para tal, compreenda-se, será necessário que os clubes e associações promovam esse tipo de comportamento. Mas seria importante que, para além do treinador e do seccionista, se encontrasse entre os pais quem pudesse assegurar a presença de um responsável pela saúde dos jovens (um curso de emergência médica básico tem uma duração de 30 horas), quem pudesse servir a equipa como assistentes técnicos (participando nos treinos ou na recolha estatística das partidas) ou quem ajudasse registando os jogos em vídeo.
Obviamente, restariam ainda bastantes pais disponíveis para aquele papel que considero de maior responsabilidade: quem vai assistir um jogo disputado entre jovens deve ter um comportamento consonante com o evento a que está a assistir. Da mesma forma que não se apupam crianças nos espectáculos das festas de natal, nem se pede a um adolescente que resolva a crise económica do país, um jogo entre equipas de jovens com menos de 18 anos é um momento especial na vida desses jovens e tem impacto na sua vida futura. Por isso, o papel dos pais deve ser valorizar o acontecimento e todos os actores presentes no mesmo.
Percebendo que, para resultados de valor, medidas drásticas devem ser tomadas, gostava de propor uma medida radical para implementar junto dos pais dos jovens jogadores. Responsabilizá-los como elementos das equipas. Assim, um comportamento desviante de um pai deveria penalizar uma equipa, como uma falta técnica assinalada ao banco. Sei que muitos se rirão desta proposta, olhando-a como descabida. Mas penso que só assim se faria perceber aos elementos mais exaltados o seu verdadeiro papel dentro do jogo. Sendo pais, são parte da equipa. E a equipa, das bancadas, precisa de apoio, reforço positivo, atitude de respeito para com todos os elementos do jogo.
Porque um ou outro jovem poderão vir a ser bons desportistas no futuro. Mas todos terão que ser muito melhores pessoas. E é para isso que devemos trabalhar.
Comentários
É bom reflectirmos e abordarmos este tema, mas considero que não devemos generalizar pois felizmente também existem muitos pais que são educados e sabem estar. O problema é que às vezes poucos conseguem indispor muitos e criar uma atmosfera negativa.
Sou dos que acredito que quanto menor forem os comportamentos desviantes, maior será a possibilidade do basquetebol formativo singrar. Se conseguirmos oferecer modelos, diferentes de outras modalidades, teremos certamente o nosso espaço próprio.
Acredito que, para nos impormos e termos sucesso, devemos marcar a diferença, respeitando a génese da nossa modalidade. Parabéns pelo artigo.
E... sem medo das repetições quando ajudam à fixação dos comportamentos correctos. Obrigado pelo artigo e pela contribuição para a melhoria do nosso desporto.