A continuação da reportagem de “A Bola”, para além de revelar alguns aspectos sócio culturais do início dos primórdios do minibásquete, levanta a mesma preocupante dicotomia
do desporto federado/desporto escolar, que passados 50 anos, com claro prejuízo das crianças e jovens ninguém conseguiu ainda resolver.
Mil crianças jogam na Escola Francisco de Arruda e utilizam, também, as instalações do Pavilhão Gimno-desportivo da Ajuda e, ainda, as do Colégio Militar, que isto de por um milhar de crianças a saltar e a correr ao mesmo tempo não é fácil.
- A nossa escola é contrária a todos os tipos de descriminação – elucidou o Professor Calvet de Magalhães. – Por isso os nossos rapazes defrontam, aqui, equipas não só de outras escolas mas representativas de casas comerciais, ou equipas de rapazes e raparigas que estão a trabalhar em sítios diversos e que se agrupam formando equipas com os mais variados títulos. Esta forma de anti-segregacionismo é uma posição doutrinária da escola, que luta pela ideia da escola aberta, escola comunitária, que funciona como centro cultural de determinada zona. Não queremos uma escola isolada. A escola prepara os jovens para a vida envolvendo-os na própria vida. Porquê separá-los do contacto e do convívio com outros que por falta de sorte ou falta de outra coisa qualquer, de que, nem sequer são culpados, se, mais tarde, quando entrarem na vida terrivelmente competitiva que os espera, têm de viver com eles e lutar com eles – ou lutar por eles?...
E o professor Calvet Magalhães explica a posição doutrinária que fez com que este ano, pela primeira vez, os chamados “meninos da rua” jogassem com os “meninos da escola”. Quando o actual presidente da Federação de Atletismo, na altura ainda presidente da Associação me veio propor que os rapazes da minha escola viessem jogar com os rapazes dos clubes, disse logo que sim. Claro que diversas entidades, que superintendem a diversos níveis não gostaram, mas a verdade é que a partir daí, alteraram-se certas mentalidades e, hoje, os que não queriam que competíssemos com os clubes, são os que nos mandam ir a esses campeonatos. Por isso, achámos que a nossa posição foi útil, por isso achamos que a nossa posição foi útil, por isso achamos que devemos continuar com esta forma de contestação porque mais tarde ou mais cedo, acabam por nos dar razão, quanto às reformas que vamos ingtroduzindo.
Calvet Magalhães, um homem de cinquenta e tal anos que veste os calções ao entrar na escola e sabe raciocinar como os seus alunos.
- Como disse, sou contra todos os tipos de segregação, seja por diferenças de classe, de sexo, etc, etc … Sou um lutador incansável pela coeducação, que defendo a todo o transe. A minha escola foi a primeira do país a autorizar que as professoras vestissem calças e mini-saias. A abolir as gravatas. A permitir os cabelos compridos ou curtos nos rapazes. A autorizar calças e calções nas alunas. Só quero pessoas limpas, nas ideias e no corpo. O resto não me interessa. Corro o risco de muitas sanções, mas continuo a pensar com a minha cabeça, numa posição pública frente aos jovens.
Comentários
Pode ser perfeitamente extrapolada para a nossa realidade enquanto povo e país.
Contínua a ser preciso estimular a diferença e a ousades, e acima de tudo a liberdade de cada um.
Partir o cérebro, persiste um desafio a ultrapassar constantemente por estes lados.
Por tudo isto, Parabéns Professor Calvet de Magalhães.