Há assuntos que são recorrentes ano após ano, temporada após temporada, sem nunca terem solução. No início de todas as épocas quando surgem resultados muito desequilibrados
lá vem novamente ao de cima este tema, e muitas sugestões para minorar este problema, mas que normalmente não passam disso mesmo: sugestões e desabafos.
Sempre que estes resultados acontecem, com mais ou menos sinceridade e às vezes, com uma pitada de mais ou menos hipocrisia, lá vem um ror de queixas e sugestões e muitas interrogações como:
Partindo do pressuposto, que pelo menos da boca para fora todos afirmam, que os jogos na formação, não tem como finalidade principal a procura dum campeão, mas que fazem parte e são importantes para o processo da aprendizagem dos jovens praticantes:
Será que tem algum proveito fazer jogos tão desequilibrados?
Será que quem ganha por muitos, ou quem perde por muitos, aprende alguma coisa?
Será que os jogos desequilibrados levam ao abandono dos jovens praticantes que perdem por muitos?
Será que existem estudos ou dados sobre essa afirmação, normalmente, proferida, por quem treina jovens que perdem por grandes diferenças?
Será que existem soluções para fazer quadros competitivos mais equilibrados? Se sim quais?
E na ausência da possibilidade de se fazerem quadros competitivos mais equilibrados:
Será que jogos muito desequilibrados em que a vitória duma equipa nunca estará em causa, devem ter a partir de algum momento alterações às regras para que haja proveito de aprendizagem para as duas equipas?
Se sim, em que circunstâncias e em que momento e quais as soluções preconizadas?
Será que as soluções devem ser iguais mediante os diversos escalões e níveis de jogos?
Estas e uma enorme multiplicidade de questões infindáveis poderiam ser enumeradas, mas como costumo dizer o problema na formação, nunca são os jovens praticantes, o problema são os comportamentos de alguns adultos: treinadores, dirigentes e pais.
Então tentemos compreender quais são as necessidades e os interesses das crianças e jovens e como, normalmente, estes sem a interferência dos adultos se organizam e reagem às situações de jogos desequilibrados.
Lembro-me bem, como em criança e jovem nos organizávamos para jogar na rua, ou nos treinos em que o treinador não comparecia ou seja, sem a interferência de adultos. E ao que tenho observado, em situações de crianças que minimamente se conhecem, continuam a organizar-se e a reagir exactamente da mesma maneira. Olho sempre com alguma reserva para a expressão, “no meu tempo”. Há coisas que não mudam assim tanto como alguns apregoam.
Quando as crianças se juntam e começam a organizar-se, o seu primeiro objectivo, é não ficarem de fora, serem escolhidas entre os seus pares para jogar. Resolvida a escolha das equipas, se por acaso esta foi mal conduzida, e o jogo é muito desequilibrado, este deixa de dar gozo, e são as próprias crianças e jovens que param o jogo reorganizam-se e começam a jogar de novo. A conclusão que podemos tirar, é que para as crianças o jogo só dá prazer e tem algum sentido se for equilibrado e se obrigar a um maior esforço de superação para vencer. Esta é a forma como normalmente as crianças e jovens se organizam e que no fundo corresponde aos seus interesses e necessidades naturais.
Quando um jogo, num quadro mais formal já com a presença dos adultos está desequilibrado, em muitas situações, o comportamento que observo em alguns treinadores das equipas mais fortes e para satisfação de alguns dirigentes e pais, é completamente o oposto à reacção natural das crianças.
O jogo deixa de ser jogo e torna-se numa correria, para bater recordes, tentar chegar aos cem ou inclusivamente aos 200 pontos de diferença. Conheço muitos dos argumentos dos treinadores das equipas mais fortes, quando questionados sobre a correria ridícula em que transformaram o jogo, muitas vezes, nem dando mais tempo de jogo, aos seus jogadores menos utilizados, mas, já com alguns anos destas andanças, em muitos casos permito-me a duvidar da sinceridade das suas respostas.
Talvez seja uma conclusão precipitada, mas pelos vistos, as crianças e jovens sabem arranjar soluções, que os adultos por aquilo que se vai vendo, não conseguem encontrar.
Comentários
Obrigado pelo teu comentário. Não temos dúvidas que a melhoria dos praticantes não pode estar centrada em resultados desequilibrados , tanto ao gosto de alguns treinadores, sendo para mim ainda mais grave quando não se tratam de jovens treinadores, mas como tu dizes e muito bem no desenvolvimento técnico do atleta. Essa é a verdadeira chave da melhoria do praticante e consequentement e da modalidade. Não devemos nem podemos cansar-nos de alertar para esse facto.
Um abraço