Conheci o Paulo no início dos anos 80, quando ele foi cumprir o serviço militar obrigatório na Marinha e eu era Chefe do Serviço de Educação Física do Grupo nº 2 de Escolas da Armada.

Já lá vão cerca de 35 anos. No final da época passada num breve discurso, que me pediram para fazer no encerramento do excelente torneio dos Bonjoanenses dei-te publicamente um forte abraço, símbolo da nossa amizade.

Recentemente recebi um email do amigo Paulo. Entre outras e variadas considerações a dar-me conhecimento que se iria afastar do projecto do basquetebol do Bonjoanenses. São ciclos da vida como referiu. 

As suas amáveis palavras levaram-me a três breves reflexões que gostaria de partilhar com quem tem por hábito ler os meus artigos.

1. Quem percebe a dimensão social do fenómeno da formação desportiva deve ter o cuidado de ao “abandonar o navio” saber passar o testemunho. O Paulo teve essa preocupação. Pessoalmente, não gosto de ouvir alguns dirigentes que abandonaram as suas funções, gabarem-se que no “seu tempo” é que tudo era bom. Pior ainda, caso realmente as coisas tenham piorado desde a sua saída, ficarem quase que satisfeitos com esse facto.
2. Quando alguém se envolve e lidera de forma empenhada e benévola, actividades de formação desportiva, como o Paulo e muitas outras pessoas por esse país fora, é normal que surja um conflito entre o tempo que é dedicado ao projecto em detrimento do tempo dedicado à família e até mesmo à actividade profissional. Tirar prazer do projecto e saber dosear as diversas facetas da vida, sem descurar o essencial é um acto de sabedoria.
3. Também é normal que ao terminarmos um ciclo façamos sempre uma reflexão e fique às vezes um pequeno desencanto, como posso ler nas suas palavra pelo peço desculpa de as transcrever sem ter pedido autorização: “Numa sociedade na qual cada vez mais temos um foco na vertente competitiva o qual, infelizmente, por influência dos adultos, vai abrangendo sem apelo nem agravo todas as faixas etárias, num país no qual o desenvolvimento desportivo se realiza sem nenhum tipo de planeamento e interacção entre as diversas estruturas, no qual, apenas se pretende, normalmente, ganhar mais que o “vizinho”…nestes termos não me consigo, de nenhuma forma, rever.”

Caro Paulo,

Parabéns pelo trabalho que desenvolveste. Para além da alegria, que proporcionaste a muitas e muitas crianças, através do projecto que ajudaste a liderar, sugiro que te centres nas coisas boas e lembra-te, que um dos grandes legados que fica para sempre são as amizades. Ninguém passa pela vida de outra pessoa sem deixar uma marca. A nossa principal responsabilidade, é evitarmos deixar marcas negativas e tudo fazermos por deixar marcas positivas. Não tenho dúvidas que deixaste esse legado.