Pensar na formação de jogadores será pensar nos futuros seniores. Estudar a nossa formação desportiva poderá passar por caracterizar, no passado e presente, o percurso dos nossos atletas até ao escalão de seniores.
Bem como as razões que levam a que muitos dos jogadores de formação não atinjam o tão almejado topo da pirâmide.
Não obstante todo esse estudo de acompanhamento do percurso formativo, importa igualmente perceber de que forma, enquanto senior, é possível à maioria dos nossos jogadores terem um projeto de carreira desportiva que os mantenha fidelizados à modalidade.
Muito embora sem dispor de dados precisos e representativos, disponho de alguns exemplos de jogadores que, tendo tido oportunidades para integrar equipas seniores representativas, tiveram de abdicar dos seus percursos académicos para conseguirem acompanhar as suas equipas num ambiente que, em alguns casos, é profissional. As exigências da nossa Liga Portuguesa de Basquetebol obedecem a uma total exclusividade de preparação e treino que, particularmente em jovens que procuram o seu espaço, implica simplesmente optar e não conciliar. Se considerarmos que muitas destas opções levam a que o atleta invista sem que isso lhe traga muitas oportunidades de participação efetiva em jogos, traduzida em muitos minutos, talvez possamos estar diante de um tema merecedor de reflexão.
Noutro passado, do qual apenas pretendo ilustrar e não direcionar a reflexão para um saudosismo do tipo “antigamente é que era”, em muitas equipas da nossa antiga primeira divisão jogadores que treinavam todos os dias, tinham como contrapartidas empregos, que em muitos casos permitiram após o término da carreira desportiva disporem de um futuro profissional. Sabemos que a realidade atual não permite este cenário, mas talvez fosse interessante que os clubes quando acolhem jogadores com potencial para integrarem os seus projetos desportivos, fossem confrontados com algumas contrapartidas que, mais do que uma simples remuneração mensal, pudesse comprometer o atleta com a continuidade dos seus estudos, com o estabelecimento de objetivos académicos compatíveis com a sua preparação e participação desportiva.
Neste momento sabemos que para um jovem universitário que se desloque para os grandes centros académicos, o pagamento de propinas, o alojamento, alimentação e eventuais transportes, são as despesas mais prementes a suportar. Estarão os clubes despertos para esta realidade? Creio que em alguns contextos, clubes suportam algumas destas despesas a atletas que representem os seus clubes. Mas será esta uma prática habitual?
Em modalidades desportivas ditas individuais, a compatibilização treino-escola, sendo exigente é viável, na medida em que a organização do processo de treino pode ser adaptado e conciliado de forma mais ágil. Numa modalidade coletiva de rendimento não temos equipas totalmente constituídas por estudantes. Temos jogadores profissionais, temos treinadores que, em muitos casos compatibilizam a sua profissão com a de treinadores, pelo que estamos a falar de um cenário complexo, difícil de gerir. No entanto, melhorar o nosso basquetebol pode passar por fortalecer a célula fundamental – Os Clubes- de argumentos e legais e regulamentadas que os incentivem a investir na valorização de uma carreira desportiva do jogador português.
Pensar na formação poderá passar por conceber e estimular a que o nosso basquetebol não perca jogadores quando chegam a seniores, porque estes são forçados a tomar decisões que defendam o seu futuro profissional, muitas vezes em detrimento de enveredarem por uma carreira desportiva.
Mas o maior receio que partilho é o de que, sem querermos, criemos um contexto que impossibilite um jovem de sonhar em ser jogador de Basquetebol. Desta forma, estaremos também a contribuir para que os nossos atletas emigrem procurando contextos onde há muito se compatibiliza o presente com as possibilidades de um futuro.