O Sport Algés e Dafundo é na história do basquetebol uma das grandes escolas de formação da modalidade. Não há grandes escolas sem grandes treinadores. Os treinadores passam pela vida dos jogadores
e de uma forma ou de outra deixam uma marca. A principal responsabilidade de um treinador, é que essa marca seja positiva. Falar da formação em Algés e não falar, no Prof. Carlos Teigas, uma das suas principais referências e alguém que deixou marcas positivas em inúmeros jovens e gerações é algo que não é possível, razão mais do que suficiente para irmos ouvi-lo.
Quando começou a tua paixão pelo basquetebol?
Tudo começou em Santarém, terra onde nasci. E recordo bem a situação que esteve na origem da minha ligação ao Basquetebol. Estava numa aula de Educação Física e experimentávamos o Basquete. Recebo a bola e lanço ao cesto. A bola entrou. Logo a seguir a bola chega de novo às minhas mãos e…nova tentativa. A bola volta a entrar no cesto.
Perante esta sequência de factos, a conclusão a que cheguei foi a de que o Basquetebol teria de ser a minha modalidade, aquela onde poderia ter sucesso.
Em que momento da tua vida percebeste o teu gosto pelo treino e ensino do jogo?
Há quem diga que a necessidade aguça o engenho. Estávamos no intervalo de um jogo da 3ª Divisão, jogando eu na Académica de Santarém. O treinador, Olímpio Coelho, desagradado com a forma como nós, jogadores, nos estávamos a comportar e criticando o facto de, segundo ele, parecer querermos mostrar que já sabemos tudo, decide deixar de nos treinar.
Tínhamos de pensar numa solução e os jogadores começaram todos a olhar para mim e decidiram. Foi assim que fui escolhido para ser treinador.
Quanto ao gosto pelo treino ele foi nascendo treino após treino, época após época. Mas tudo começou ainda em Santarém, já estudante de Educação Física, ao querer desempenhar bem a função de treinador para a qual tinha sido “empurrado”. Se era treinador teria de fazer tudo para ser bom treinador. Tinha de aprender a ensinar bem e a saber aquilo que é preciso fazer para ser bom treinador.
Sabemos que também treinaste seniores, mas a tua principal actividade foi exercida nos escalões de formação. O que te motivou a esta opção?
Treinar seniores foi apenas uma passagem na minha carreira. Fui experimentar e não gostei. Senti uma grande dificuldade em conseguir motivar os jogadores seniores e não fui capaz de aumentar a sua vontade para se superarem e de os ajudar a criar os sonhos e a ilusão para quererem ser cada dia melhores.
Ora nos jovens eu sentia, em cada instante, estas componentes. A superação. O prazer de treinar e de jogar. E eram tão intensas estas características que conseguiam motivar o próprio treinador. Com os jovens jogadores era possível fazer com cada exercício fosse um momento de superação, de manifestação de vontade de querer fazer melhor, de ir um pouco mais além.
O que representa para ti o Algés clube ao qual tanto do teu tempo como treinador dedicaste?
O Algés era tudo para mim, enquanto treinador. Olho para o Algés não apenas como um clube desportivo, onde se praticam várias modalidades, mas um local de vida.
Quando questionados pelos pais ou familiares sobre para onde iam os seus filhos, jogadores do Algés, era frequente ouvirmos dizer que “vou para o Algés”. Mesmo que não fosse dia de treino.
Os jovens atletas (rapazes e raparigas) passavam grande parte do seu tempo nas instalações do clube, pois era lá que encontravam muitos dos seus amigos e onde se sentiam bem.
Na tua carreira houve treinadores que te tivessem influenciado ou marcado?
Começarei por referir o professor Prista Caetano, que em Santarém, na escola, me apresentou o basquetebol e a forma como se deveria jogar. Foi ele que me ensinou as primeiras coisas para poder jogar.
Mais tarde, reconhecendo que os seus jogadores já o tinham ultrapassado nos conhecimentos sobre o jogo e ao sentir que já não era capaz de nos dar mais, “passou a bola” a um dos jogadores (Eliseu Beja), para que fosse ele a continuar a sua tarefa. Este facto está representado numa foto, em que, perante o grupo, se vê o professor Prista Caetano a entregar a bola ao Eliseu.
Para além deste treinador, que não posso esquecer, refiro mais 3 nomes de outros treinadores que me marcaram na minha carreira de treinador: Eliseu Beja, Jorge Adelino e Manuel Campos.
Sabemos que é uma pergunta sensível, mas queres-nos falar sobre os jogadores que treinaste que mais te marcaram?
Sempre encarei o basquetebol como uma modalidade colectiva, pelo que irei responder referindo duas equipas. Ambas de juniores masculinos. Ambas presentes numa fase final do campeonato nacional. Uma venceu outra não conseguiu tal feito.
A equipa de juniores de 91/92 é a finalista vencedora e primava por um conjunto de jogadores muito talentosos
A outra equipa, juniores de 80/81, conseguiu chegar a uma fase final mas não a conseguiu vencer. Para mim primaram pela capacidade de trabalho e pela dedicação que punham na sua presença na modalidade e no clube.
Que alegrias e tristezas te trouxe o basquetebol?
Lidava muito mal com as derrotas pelo que cada jogo que não ganhávamos era sempre um momento de grande tristeza. Por outro lado, falando de alegrias, direi que as maiores que senti verificaram-se sempre que havia, da parte dos jogadores, momentos de superação no treino, ou quando eles obtinham sucesso no seu desempenho, e isso contribuía para a melhoria da equipa.
Que mensagem gostarias de passar?
Aos jovens que gostam de jogar basquete - Saibam a hora em que se realiza o próximo treino e não faltem;
Aos jovens que querem ser treinadores - Mesmo sabendo que vão encontrar dificuldades, obstáculos, tristezas, decepções e contrariedades, não deixem de experimentar. Ser treinador vale mesmo a pena.