San Payo Araújo, actual responsável do minibásquete no CF Os Belenenses e presidente de AG do AB Lisboa, esteve recentemente em Porto Santo, onde pelo quarto ano consecutivo dirigiu o Jamboree de Minibásquete da Associação de Basquetebol da Madeira.
É de lá que vem para muitos uma grande surpresa para o universo de basquetebol: San Payo foi convidado para ser director técnico da AB da Madeira. Com 64 anos de idade, o San Payo tem uma vasta experiencia em direcções técnicas, pois para além de ter sido director técnico da Associação de Basquetebol de Lisboa coordenou durante 16 anos o minibásquete nacional. Razões não faltam para falar com o nosso colaborador mais antigo, uma entrevista em exclusivo a não perder.
Olá San Payo. E agora? Vais para Madeira?
O convite, feito pela Sandra Reynolds actual Presidente da Associação de Basquetebol da Madeira e as condições da minha ida estão acordadas. No entanto a concretização, deste novo ciclo da minha vida está dependente das eleições, que em breve se realizarão na Associação.
Quando e como surgiu a ideia de ires para a Madeira?
O convite surgiu em Junho do ano passado, quando a Sandra Reynolds tomou conhecimento, que o então director técnico da AB Madeira iria deixar o cargo, contudo nessa altura por compromissos que já tinha assumido, e compromissos são compromissos, não pude aceitar o desafio.
O que mais te motiva nesta grande alteração da tua vida?
Costumo dizer que a minha ampulheta já tem muito mais areia em baixo do que areia na parte de cima. Nunca vivi fora de Lisboa e tinha o sonho de ter essa experiência numa idade em que ainda tenho capacidades de trabalhar no que gosto, mas também de trabalhar com quem tenho empatia. Conheço a Sandra há mais de 20 anos e reconheço a sua dedicação e o seu grande empenho. É pública a minha sensibilidade para o minibásquete e este foi outro dos motivos determinantes para ter aceite o convite, pois como profundo conhecedor do minibásquete nacional, sei que a Associação de Basquetebol da Madeira é aquela que mais investe neste sector da modalidade.
Por além das motivações mencionadas, sentes-te capaz de dirigir os aspectos técnicos globais duma Associação?
A realidade da modalidade é um todo, pelo que como é evidente não estarei apenas preocupado com o minibásquete.
Desculpa a insistência, todos sabemos da tua sensibilidade para o minibásquete, mas um director técnico tem responsabilidades para todo o basquetebol. Quais são as tuas propostas e ideias que queres apresentar?
É evidente que com a minha larga experiência nacional e internacional tenho muitas ideias e sugestões, nomeadamente, na forma de fomentarmos a captação, na forma de detecção de jogadores mais talentosos, na expansão do basquetebol pela região, etc. Contudo nada será realizado sem ouvir os diversos intervenientes da modalidade, desde a base ao topo, pois nada se consegue sem o envolvimento do principal factor de desenvolvimento de qualquer actividade as pessoas. Sugerir as minhas ideias, ouvir todos, e tomar decisões esta será a linha orientadora da minha conduta.
Qual é o teu conhecimento do basquetebol madeirense?
Enquanto director técnico do minibásquete, nunca fui uma pessoa de ficar sentada na secretária a recolher dados e números, sem perceber a que realidade isso correspondia, sempre fui um homem de falar com as pessoas no terreno. Desde 2000 quando assumi o cargo de director técnico na Federação inúmeras foram as vezes que vim à Madeira. Desde ter vindo com uma delegação com crianças de várias Associações do Continente ao Minicesto, onde a título de mera curiosidade estava o Tomás Barroso, jogador internacional sénior a jogar actualmente no Benfica, a ter estado indicado pela FIBA como director adjunto do Jamboree Europeu de Minibásquete realizado no Funchal, até à direcção de vários jamborees da ABM e principalmente pelas múltiplas acções de formação que realizei na Madeira, posso dizer que conheço bem a realidade do basquetebol madeirense.
Na tua opinião qual são os principais problemas do basquetebol madeirense e como podes ajudar a resolvê-los?
Não é de agora que eu menciono qual é na minha opinião o principal problema do basquetebol madeirense. Há muito que eu como director técnico do minibásquete, reconhecia o excelente trabalho realizado no minibásquete, contudo esse trabalho é estrangulado pelo número de clubes e equipas de Sub-14. Resolver este problema não é fácil, mas o caminho passa pela criação de condições para que mais clubes queiram apostar na continuidade de forma a surgirem mais equipas de Sub-14 e posteriormente de Sub-16.
Uma ida para Madeira significa que deixas para longe a família, nomeadamente os teus filhos e netos como também o trabalho realizado no Belenenses, a Oeiras International School e a AB Lisboa. Como te sentes com tudo isto?
A vida é feita de ciclos e de sonhos. Embora tenha sofrido pressões para continuar, quanto ao Belenenses, Oeiras International School e AB Lisboa, desde Setembro do ano passado que eu transmiti que muito dificilmente continuaria a trabalhar ou colaborar, pois tinha o sonho de ir viver fora de Lisboa, de preferência para uma ilha. Os meus filhos também preferiam que eu continuasse em Lisboa, mas compreendem e aceitam os meus sonhos, já os netos é que é mais complicado, mas hoje em dia há muitas formas de comunicação e diz-me a experiência, pois a minha filha mais velha estando na carreira diplomática esteve até bem recentemente em Bélgica e não foi por isso que não existe enorme cumplicidade entre mim e os meus netos, que nasceram em Bruxelas.
Tu és um dos casos raros. quem vez de gozares a tua reforma de oficial da Marinha voltaste a trabalhar no terreno no minibásquete. Consegues viver sem o basquetebol?
O basquetebol deu-me duas coisas que são um privilégio: Amizades e a possibilidade de fazer uma coisa que eu gosto muito ensinar crianças. Tenho amigo de infância, também praticante de basquetebol, que diz com muita graça, que nós vivemos enquanto houver pessoas em vida que se lembrem de nós e conclui é por isso que eu me dou bem com crianças. Eu pelo meu lado digo ninguém passa pela vida duma criança sem deixar uma marca e nossa principal responsabilidade é que essa seja uma marca positiva.
Por último vais continuar a colaborar com o PB?
Uma coisa que eu aprendi com a pessoa que muito me influenciou o Prof. Mário Lemos foi ter a capacidade de reflectir sobre o que vou fazendo, ser um prático-reflexivo. Enquanto eu tiver esta capacidade o Planetabasket será o meu espaço de eleição para publicar as minhas reflexões.
Comentários
Coloquem um jovem no ensino preparatório sem passar pela primária e vejam o resultado.
Esta discussão existiu nos anos 70 com o Prof Mário Lemos, Tio do San Payo.
Não pereceberam que o grande Boom do basquetebol Moçambicano se deveu aos ensinamentos de minibasquete desse grande mestre, reconhecido internacionalme nte, mas ignorado no Portugal Continental.
António San Payo desejo que consigas adaptar-te rapidamente a tua nova realidade e coloques em prática toda a tua sabedoria.
Um abraço.
Álvaro Saraiva
Como mãe de 2 ex mini do Belenenses fico feliz mas também menos feliz.
Contudo a vida é assim, feita de ciclos.
O que desejamos é a MAIOR sorte/saúde, no novo projecto e que felizardos vão ser os novos atletas e famílias que consigo vão cruzar.
Muito além das qualidades técnicas, sobressaio as qualidades HUMANAS.
Foi um prazer e sorte tê-lo na nossa vida enquanto pais e atletas.
BEM HAJA