Escrevese eu tão bem como tu, e teríamos aqui um texto qual hino à alegria e esperança de vida. Sim, eu sei que mais de noventa anos já tinham passado, mas sei também que a juventude se mede mais pelo prazer de aqui estarmos e pelos anos que,
na nossa esperança, esperamos permanecer, do que por aqueles que já passaram por nós.
"A minha meta são os cem anos" dizias-me tu ainda há muito pouco. A genética apoiava-te, o bem estar dava-te razão, mas a vida, que tu tão bem tratavas, traiu-te e fez-nos perder-te.
Mas não perdemos a memória da tua profunda amizade, o teu caracter solidário, a tua generosidade, a tua rectidão, a alegria de viver os dias contigo, tantas vezes expressa pela tua brilhante gargalhada.
Eras o melhor ouvinte de anedotas que conheci.
Não resisto: um dia, ao almoço, contei-te uma anedota de que gostaste especialmente. No dia seguinte, ao entrar na Federação, ouvi sonoras gargalhadas vinda do teu gabinete. Impossivel não reconhecer que eras tu quem gargalhava. Mas quem te faria rir de tal modo? Entrei no gabinete; espantoso, estavas sozinho e rias, rias literalmente até às lágrimas.
- De que estás a rir dessa maneira, perguntei.
- Lembrei-me do "coxo é o melro", retorquiste (referência à anedota da véspera) e rias e rias e as lágrimas caiam, caiam sem parar.
Fiquei estupefacto.
Eras assim, de um espírito de humor inacabável e tão presente, que se perpetuava numa singela anedota dias afora.
Deixaram-nos as tuas gargalhadas, mas continuam ecoando nas nossas memórias, convivendo com a saudade tão funda que nos deixaste.
Foste embora, e contigo um dos mais sérios e competentes profissionais que conheci. Alguém que reunia em si a maior das gargalhadas e a mais profunda sereriedade e competência no trabalho.
Tanto que haveria que dizer sobre ti meu querido Vicente, mas o espaço é curto e grande é o respeito que merece a tua privacidade.
Faltarás ao próximo almoço do "team", mas a tua presença estará viva em todos nós, porque todos gostamos muito de ti.
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