A minha longa e continuada vivência com o Jorge Adelino, que conheci pessoalmente nos longínquos anos 60 do século passado, quando se realizaram em Lisboa os Jogos da FISEC, sendo ele um dos elementos da selecção de Basquetebol representativa de Portugal,

permite-me salientar, desde já, uma das suas principais características e que muito valorizo: a sua coerência, sendo das pessoas em que, a meu ver, mais se aproxima a convergência entre o pensamento, o pensamento expresso (discurso escrito e falado) e a prática. Dele sabemos o que podemos esperar, elemento fundamental do fomento da confiança e da confiabilidade, potenciadas pela sua noção de compromisso, com as tarefas, com os valores, com os seus pares, com os seus atletas.

Destaco-lhe, também, o seu lado humano consubstanciado na generosa disponibilidade e atenção para com os outros: sempre preocupado e pronto a ajudar.

Tendo destacado a pessoa, saliento, também, o profissional: organizado, valorizando o detalhe e a fundamentação das suas ideias e opiniões, aspectos bem expressos nos documentos por si elaborados, nas prelecções que proferiu e nas iniciativas e projectos em que se envolveu. Sempre com um raciocínio e um discurso inteligíveis porque simples e objectivos, mas sem que tal correspondesse a uma perda de conteúdo.

Com uma visão marcadamente ética, de valorização social e humana das actividades físicas e desportivas e dos seus intervenientes, projectou o seu pensamento e acção para além do basquetebol, no processo de desenvolvimento desportivo, assim como no processo de formação dos treinadores, a que atribui particular importância, e para o qual deu inestimáveis contributos.

Jorge Adelino, num sentido mais circunscrito, empenhou-se particularmente na vertente infanto-juvenil do desporto e do basquetebol evidenciando, na teoria, pelos seus escritos, e na prática, como treinador, o gosto e a paixão de ensinar e de contribuir para o desenvolvimento dos jovens praticantes sendo, assim, de forma genuína, um formador de e por excelência.

Os inúmeros textos de análise e reflexão sobre o fenómeno desportivo, uns, e de metodologia e didáctica, outros, que elaborou, evidenciam um conteúdo que considero intemporal, e que, por isso, merece ser revisitado, em particular a sua obra icónica “As coisas simples do basquetebol”.

E é de toda a oportunidade salientar um importante projecto desenvolvido no desporto nacional, durante vários anos, por ele idealizado e de que foi o respectivo mentor “Treino de Jovens – Um Pódio para Todos”.

Em resumo, Jorge Adelino é uma das personagens relevantes da nossa cultura desportiva que, discreto, outro dos seus traços caracterizadores, não tem tido o merecido destaque e reconhecimento.

Bem hajam o Amigo San Payo Araújo e o Planeta Basket por esta iniciativa.