Agora que ando muito menos por pavilhões, exceto quando sou convidado, como na semana passada, em que estive a convite do amigo João Lima, a dar treinos aos Mini-8, Mini-10 e Mini-12 do Ginásio Clube Olhanense, e quando estou em Melides,
e com todo o gosto vou colaborar no minibásquete do BSA, uma das minhas fontes de inspiração e reflexão para escrever artigos para o Planeta Basket, são as entrevistas do Podcast Serminibásquete, que em boa hora o companheiro Luís Abreu resolveu editar.
Desde o primeiro dia, em que assisti em Queluz à intervenção do António Carrillo é sempre um gosto ouvir o que ele tem para nos dizer. Contudo, para mim, quando se pretende ser inovador ou mesmo polémico, há sempre um grande risco de comunicação, que por diversas vezes já senti na pele. Uma coisa é o que nós dizemos e muitas vezes a outra é o que quem está a ouvir entende. A discrepância pode conduzir a situações absurdas.
Vem esta introdução a propósito do conceito da defesa e do roubo da bola como um fator importante no ensino do jogo, defendido pelo António Carrillo, no último PodCast do Serminibasquete. Este conceito, como no final da sua entrevista fica para mim claro, tem de levar em consideração o contexto competitivo em que é posto em prática.
Na minha opinião a aplicação deste conceito só tem sentido, se formos capazes de criar, como refere Carrillo no final da sua entrevista competições com grupos reduzidos com nível de talento (físico, técnico, tático, força e altura) aproximados e que os praticantes joguem num nível apropriado com regras adequadas a cada nível.
E quando isso não acontece? E assistimos a jogos, que deixam de ser jogo, como já presenciei, em que uma das equipas nem consegue uma única vez repor a bola em campo a seguir a cesto, sem que a equipa adversária de imediato lhe roube a bola. Como devemos proceder?
Salvo melhor opinião, a resposta vem do próprio Carrillo, que há pergunta, qual a técnica mais difícil de ensinar responde, que é o passe e defende, na sua aprendizagem, limitações ao roubo da bola.
Quase no final da sua entrevista Carrillo propõe para a aprendizagem do passe a seguinte progressão: Primeiro a criança tem de saber dominar o corpo e a bola, depois compreender que o sucesso do passe depende de quem passa e de quem a recebe, depois introduzir um defesa com limitações ao roubo da bola. Ao introduzir este “handicap”, expressão utilizada pelo Carillo, está-nos a dizer, que há circunstâncias em que devemos dificultar o roubo da bola.
Esta progressão de aprendizagem não entra em contradição com o roubo a bola a todo o custo? Pode não entrar se salvaguardamos o contexto e o momento em que esta é aplicada. Os conceitos como as metodologias também estão sujeitos a modas. Todos os que andamos há muitos anos nisto se lembrarão certamente do tempo em que nos Sub-14 era proibitivo colocar um jovem a jogar no ataque de costas para o cesto.
Os conceitos encarados com verdades absolutas, independentemente do contexto, podem conduzir a situações absurdas em que todos os participantes no jogo aprendem muito pouco ou nada. A proteção ao portador da bola, conceito que aprendi com um dos maiores mestres do ensino do jogo, o professor Hermínio Barreto, se encarado com um valor absoluto é tão errado como o roubo da bola a qualquer custo, sem levar em consideração o contexto.
Para a semana voltarei a este tema, tecendo mais algumas reflexões com base numa das muitas situações absurdas que que já presenciei.