O surto revolucionário de 1974
 
Localização: HOME

O surto revolucionário de 1974

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF
Avaliação: / 5
FracoBom 

O surto revolucionário de 1974Os artigos sobre a história do minibásquete publicados até ao momento centraram-se fundamentalmente nas figuras mais influentes para o surgimento e desenvolvimento do minibásquete em Portugal

e nas principais actividades que se realizaram em torno dessas personalidades, nomeadamente, em Lisboa, no Porto, em Moçambique e em Angola. Por razões óbvias, em Moçambique e em Angola, as actividades destinadas ao minibásquete desapareceram. Mas, como já referimos em artigos anteriores,  com organizações diferenciadas também em Lisboa e no Porto, as actividades do minibásquete que nesses tempos decorriam  principalmente no fim das épocas lectivas/desportivas e esmoreceram com o 25 de Abril.

Em Lisboa o Colégio Militar, a Escola Preparatória Francisco de Arruda e o Pavilhão da Ajuda deixaram de ser os grandes palcos dos “Convívios de Minibásquete” promovidos fundamentalmente pelo Prof. Mário Lemos e o Núcleo Associativo de Minibásquete da ABP perdeu os fulgor de anos anteriores. Contudo tanto quanto sei a AB do Porto, onde o minibásquete teve sempre nesses tempos maior ligação ao desporto federado, continuou quase que ininterruptamente até aos dias de hoje, a organizar o ”Dia do Minibásquete.”

No pós 25 de Abril o minibásquete passou a ser fomentado pela Direção Geral dos Desportos. Aqui temos de falar do Prof. Melo de Carvalho que foi nomeado para Diretor Geral dos Desportos, em substituição do Prof. Noronha Feio, (que em Moçambique também como Presidente do Conselho Provincial de Educação Física de Moçambique, onde, com grande envolvimento do Prof. Mirandela da Costa apoiou o movimento do minibásquete foi muito apoiado, através dos Torneios da Coca-cola e do Milo.

Segundo Manuel Sérgio "Depois do 25 de Abril, o Alfredo Melo de Carvalho fez um verdadeiro “corte” em relação ao desinteresse que grassava, pelo Portugal “estadonovista”. Foi um trabalho aturado e probo que lançou bases sólidas a muito do que se conseguiu, nos anos subsequentes, nesta área. Não me cabe fazer o inventário de factos históricos, pois que é papel que incumbe aos historiadores, mas hoje não tenho receio em escrever que o Alfredo Melo de Carvalho, director-geral dos Desportos, é um dos nomes grandes da história do desporto, no nosso país.”(1)

Num depoimento de 7 de novembro de 2014 José António Avelãs Nunes que foi nomeado Secretário de Estado dos Desportos e Ação Social e Escolar logo após o 25 de abril de 1974 escreveu: “Melo de Carvalho rodeou-se de uma equipa de colaboradores, que penso reunia os nossos melhores especialistas. E cedo começámos a trabalhar em conjunto, até porque foi necessário elaborar o Programa de Governo. E foi com satisfação e alívio que lhe fui ouvindo conceitos e propostas de ação, devidamente elaborados e pensados, que correspondiam àquilo que, como que por instinto, eu pensava como simples cidadão. Que o desporto era uma atividade cultural (o desporto como cultura); que o desporto era um direito de todos.” (2)

O Programa do Governo incluía entre outras modalidades o Plano de Desenvolvimento do Basquetebol, plano fortemente apoiado pela Direção Geral dos Desportos. Na sequência deste plano houve surtos de prática do minibásquete em vários locais do país, em que a participação de entusiastas da modalidade, jogadores e treinadores vindos de Angola e principalmente de Moçambique muito ajudaram à expansão territorial da modalidade pelo país. Antes do 25 de Abril, praticamente, apenas havia basquetebol federado em 6 distritos do país: Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Faro. O pós 25 de Abril foi muito rico em atividade editorial como salienta Henrique Santos: "Desses tempos salientamos a actividade editorial e de divulgação da actividade promovida pela D.G.D. (Jorge Araújo, 1974; Colectivo, 1974) e o Plano de Desenvolvimento do Basquetebol elaborado após a revolução de Abril (Lima, Olímpio, Araújo, Barreto, & Silva, 1974) que incluía também o Minibásquete como alvo de intervenção. É de mencionar também a existência de alguns clubes que se têm caracterizado pela permanente actividade neste segmento etário constituindo assim uma tradição com já várias décadas.”(3)

Nesses anos, o Fundo de Fomento do Desporto apoiou o desenvolvimento da modalidade, nomeadamente, em material, tabelas e bolas para clubes que se iniciavam ou dedicavam à prática do minibásquete. Nesses tempos os formalismos para inscrição dos praticantes eram bem menores, que atualmente, e, a figura do monitor de minibásquete era oficialmente reconhecida e fomentada pela Direcção Geral dos Desportos, que editou um Manual de Monitores de Minibásquete. Os minis, assim como os monitores de minibásquete, não estavam inscritos na federação. Os seus cartões eram passados pela Direcção Geral dos Desportos e pelas suas Delegações Regionais.

Antes do 25 de abril o Professor Jorge Araújo, em plena primavera marcelista, esteve envolvido num projeto, na zona oriental de Lisboa, que após o 25 de Abril deu origem ao Movimento Voluntário Desportivo MVD. Quando se deu o 25 de abril, Jorge Araújo estava em Coimbra e colaborou com a Direção Geral dos Desportos no desenvolvimento do minibásquete. Em recente troca de correspondência narrou-me sucintamente a sua participação nessa época.

Coube-me a responsabilidade de coordenar a partir de Coimbra toda a designada Zona Centro do País. Mas atenção! Como já deves ter percebido, o Minibasquetebol era um meio e não o objetivo central da nossa ação. Servia-nos como meio infantil e juvenil capaz de mobilizar ao redor da sua prática milhares de jovens e adultos, tal como centenas de coletividades de todo o país.

Lamentavelmente, as "habituais" alternâncias político partidárias e correspondentes decisões de "terra queimada" relativamente ao que estava a ser feito até então...a partir de 1977... tudo aquilo foi "desaparecendo"...

Se me perguntares quais as repercussões desse Movimento Voluntário Desportivo. MVD na prática futura do Minibasquetebol não te consigo dar uma resposta objetiva. Mas acredita que foi algo de extremamente mobilizador enquadrar centenas de coletividades populares e seus dirigentes e treinadores através do meio poderoso que então se revelou ser a prática infantil e juvenil do minibasquetebol.

Mas repito, o que nos "mobilizava" era o objetivo de através daquela prática desportiva influenciar socialmente adultos e crianças para atitudes e comportamentos respeitadores das novas regras de relação e convívio humano para que o 25 de Abril nos tinha "aberto as portas".(4)


(1) Sérgio, Manuel - Jornal "A Bola"  05/07/2023
(2) Nunes, José António Avelãs - Depoimento proferido na Universidade de Coimbra em 07/11/2014
(3) Santos, Henrique - Basquetebol: história do ensino do jogo e conceito de nível de jogo Universidade do Porto Setembro de 2010
(4) Araújo, Jorge - Troca de correspondência por email 25/11/2014

 

 


Facebook Fronte Page

Buscas no Planeta Basket

 
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária