No princípio deste mês de fevereiro apareceu na página do facebook do Andri Melnichiuk um comentário que poderia ser interpretado que o seu pai, o meu amigo Valentin Melnichiuk, teria falecido.

Felizmente terá sido um hacker e não era verdade. Contudo este episódio levou-me ao seguinte pensamento. Se fosse verdade eu teria seguramente escrito umas palavras sobre a fraterna relação de amizade que ao longo dos anos construí com o Valentin. Porque razão, não escrever, essas palavras em vida. Que absurdo é que nos leva apenas a decidir escrever sobre as pessoas quando elas já não estão entre nós.

Para contrariar esse absurdo resolvi escrever sobre o meu amigo Valentin e a importância que ele teve na minha vida e na minha passagem pela Federação, como responsável pelo minibásquete.

O Valentin chegou a Portugal pela mão do CAB na época de 93/94. No ano seguinte foi treinador dos seniores do Queluz. Foi na época 94/95 que conheci pessoalmente o Valetin Melnichiuk quando ele foi treinar os seniores do Queluz e eu coordenava o minibásquete do clube e era treinador dos Sub-14. Pela sua simplicidade e frontalidade logo surgiu entre ambos uma forte empatia. 

Ele assistia frequentemente aos meus treinos e eu de volta e meia pedia-lhe que ele me demonstrasse, como ensinava os fundamentos. Ainda hoje, no ensino no lançamento em suspensão uso muito do que aprendi com o Valentin. Com a humildade que caracteriza quem gosta de aprender, também ele mais tarde, quando estávamos os dois na Federação, me confessou que também tinha tirado ideias a partir da observação dos meus treinos.

Contratado para ir para o Sporting na época de 95/96 trabalhou apenas um mês, pois o então presidente do clube, Pedro Santana Lopes decidiu acabar com a secção de basquetebol, e regressou ao CAB. Em 96/97 foi para Ponte-Sor onde ainda hoje vive com o seu filho Andry e a sua nora Marina e onde todos ajudaram no desenvolvimento do basquetebol do Elétrico de Ponte-Sor.

Em 98/99 e 99/2000, nova passagem pela Liga, desta vez no Seixal. Em 2000 entramos os dois na Federação, ele como selecionador nacional e eu como diretor técnico do minibásquete, onde a nossa amizade se vai fortalecer. Ele passou a tratar-me por Almirante e eu tratava-o por General. O Valentin tinha sido Major na antiga União Soviética.

Pessoalmente tenho uma dívida enorme para com o amigo Valentin. Em 2007 um ano dourado para o basquetebol português estávamos os dois na federação e o Valentin passou pela minha secretária e deixou-me uma informação da Fiba-Europa sobre a realização do 3º Fiba Europe U-14 and Minibasketball - Get Together, que ia decorre em Milão, dizendo: “Tu é que devias ir a uma reunião destas.” Ele que tinha acesso à informação internacional teve logo o cuidado de me dar conhecimento deste importante evento.

Peguei então no documento e fui logo falar com o Manuel Fernandes, que era na ocasião o diretor técnico nacional e foi assim que a Federação começou a participar nestes encontros e inclusivamente organizar em Braga uma edição desse evento. Foi este pequeno gesto do Valentin que abriu portas ao contacto com o minibasquete europeu e mundial, que felizmente se mantém até aos dias de hoje.

Se o minibásquete tem esta dívida para com o Valentin, o basquetebol tem uma dívida de gratidão muito maior. O Valentin, foi o grande “General” que chefiou o basquetebol a uma das suas páginas mais brilhantes, o apuramento para a fase final do Europeu onde obteve um espetacular 9º lugar.

Ainda está bem fresca na minha memória a alegria que percorreu o pavilhão de Paredes, quando Portugal ao vencer Israel, com um jogo memorável de Elvis Évora, conseguiu no dia 16 de Setembro de 2006 o apuramento para a fase final do Europeu de 2007 realizada em Espanha. Foram momentos memoráveis.

Agora que a memória do amigo Valentin dá sinais de algum esquecimento, a memória dessa jornada épica há de perdurar por muitos anos. Caro Valentin, o universo do basquetebol nacional agradece-te tudo o que fizeste para o engrandecer.  Obrigado por seres meu amigo e obrigado por tudo o que fizeste pelo basquetebol nacional, inclusivamente pelo minibásquete.