Hermínio Barreto. Só o nome desta lenda de basquetebol, deve chamar a atenção dos nossos leitores. Aqui no Planeta Basket temos de agradecer a disponibilidade do Prof. Hermínio Barreto por ter aceite escrever um artigo que para publicação no nosso site.
No seu estilo inconfundível, o prof. Hermínio Barreto retrata de forma brilhante e maravilhosa Hélder Silva, a outra face do mais famoso casal basquetebolístico nacional.
Na construção da equipa, é preocupação de qualquer treinador, conquistar os jogadores para que eles se integrem no projecto que a todos deve unir (sucesso desportivo da equipa), promovendo a adesão a uma concepção de jogo que recolha o interesse e entusiasmo de todos.
Na consecução desta preocupação, o treinador tem de conseguir assegurar que as potencialidades de cada um se ajustem, harmonizando as iniciativas individuais com os superiores interesses do colectivo.
Se alguém no basquetebol português, quiçá fora dele, foi um expoente de elevada potência na exploração da iniciativa individual, esse foi seguramente, o Carlos Lisboa. Treinei-o, que bela oportunidade e privilégio, quando ainda foi do Sporting, então bem jovem, cheirava a Júnior, portanto na pujança da sua impar rebeldia nos confrontos que atrevidamente procurava, quantas vezes em situações de um contra todos.
Estão todos a imaginar como seria compatibilizar esta potencialidade com os superiores interesses do colectivo. E tudo mais se agravava dado o facto de fazer parte deste colectivo, o Hélder Silva, para quem jogar foi sempre assumido como um vínculo que se deve cumprir em conjunto, sendo motor desse conjunto, a capacidade que resulta da cooperação entre todos.
Para o Hélder, porém, este compromisso deveria estar sempre em harmonia com o que tacticamente se combinava. Por ele, as coisas (movimentações) devem ter um começo, cumprir um percurso e alcançar um termo, o que, obviamente, contrastava com a postura do Carlos Lisboa.
Para este, o acto táctico teve sempre um momento só seu. O tempo veio comprovar que ele tinha razão. Os “fora de série” convidam e obrigam que qualquer treinador se adeqúe a essa característica.
Quantas vezes, reclamava o Hélder:
- Oh, Prof., “isto assim também é demais. Quase nem há tempo para começar nada”.
Com a pedagogia possível, lá ia dizendo ao Carlos:
- “Vê lá se de vez em quando deixas que o ataque rode, pelo menos para o Hélder saborear a chegada ao fim”.
É neste ambiente, por vezes gerando conflito, mas sempre bem perfumado (civilizado), que conheci o Hélder.
Já então me atraiu a sua disponibilidade para tolerar, a permanente procura de maneiras correctas de estar, o exemplar sentido de respeito, o gosto de perseguir a qualidade.
A sua postura altiva, sustentada pelo olhar de longo alcance, trouxe e traz-me sempre à lembrança igual altivez e olhar do pai, também Hélder Silva, um guarda-redes que intimidava pelo sorriso, um basquetebolista de contaminante entusiasmo.
O tempo foi-se passando, mas não tardou muito para que os caminhos voltassem ao nosso encontro. Habilitou-se ao lugar de Monitor na Faculdade (ISEF). Em boa hora o Gabinete de Basquetebol o acolheu.
Confirmei tudo o que dele podia esperar. Do relacionamento como docentes, conservo recordações únicas.
É desse tempo a aproximação da Teresa, que também passou pelo Gabinete de Basquetebol.
Acompanhei o namoro à distância. Mas uma distância bem curta.
Quando faço voltar o meu olhar para trás, lembro-me do convite que me fez para ser padrinho de casamento.
Já tinha conquistado um amigo, e um amigo de primeira grandeza, dessa feita ganhei um afilhado, uma boa recordação que perdura.
Desafiei-os apontando para novas estradas. A Universidade de Trás os Montes e Alto Douro foi o atractivo, e Vila Real acolheu-os. Creio que preencheram um pedaço bom do vosso projecto de vida. De muita coisa boa que seguramente aconteceu, a melhor foi por certo a vinda da Mariana.
Seguiu-se Oliveira de Azeméis, depois e agora Rio Maior.
Sobra-me um estranho sabor pela estranha distância que contamina a nossa aproximação. São os estranhos sabores da vida.
Apesar de tudo, retenho e recordo sempre que ocasiões ou circunstâncias reclamem lembranças dos tempos passados.
Mesmo que a vida nos distancie, creio que os nossos corações estarão sempre próximos.
O mais que desejo é que bons caminhos preencham a estrada da vossa vida, com tão bons projectos quanto os vossos sonhos, por certo de boas ambições,
Herminio Barreto
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