Falar de resultados nos escalões de formação talvez seja um tema inquietante e para o qual frequentemente ouvimos opiniões, no mínimo controversas.

No contacto com um número significativo de treinadores de formação, sem qualquer intenção de recolha de uma amostra e dados possíveis de tratar com rigor, foi-me possível encontrar conceitos de sucesso para os quais eu desafiaria o leitor a reflectir um pouco sobre o seu real significado. Não é intenção minha alimentar qualquer crítica grosseira e leviana sobre qualquer uma das posições tomadas, mas antes encontrar um contexto onde possa situar algumas convicções sobre o significado da palavra sucesso na formação desportiva.

Em determinada altura, em conversa com um treinador de jovens, na modalidade de Basquetebol, questionei-o sobre o porquê em dar tanta importância dada aos resultados desportivos das suas equipas de Iniciados e Cadetes? A resposta foi peremptória e assente na seguinte ideia: agora é ganhar o máximo possível, não pretendo andar a trabalhar e formar jogadores pensando no futuro, se esse futuro passar por irem jogar para outros clubes. Pelo menos que ganhemos uns títulos na formação para alguém nos reconhecer.

Em contraste, um outro treinador expressava que os seus títulos estavam representados nos jogadores que continuavam a jogar e que, eventualmente entravam no alto rendimento, em clubes com melhores recursos.

Como disse não pretendo emitir juízos de valor em favor ou contra estas posições. Contudo parece-me de todo pertinente concluir dois aspectos que enaltecem dois problemas do desporto juvenil do nosso país: o trabalho do treinador de jovens não é realmente reconhecido, conduzindo a que alguns treinadores, na ânsia de reconhecimento procurem o sucesso desportivo, a vitória, a obtenção de troféus como meta principal em detrimento do desenvolvimento do jovem e da convicção de que, efectivamente se prepara o sénior de amanhã e não apenas o Cadete ou Iniciado do presente; por outro lado parece ser possível encontrar alguém que desempenha a função de treinador, em contexto juvenil, que avalia o seu trabalho através dos jogadores que sob a sua alçada nas etapas de formação, atingem a excelência desportiva.

Na realidade desportiva do nosso país não me parece existir uma filosofia própria e consistente que possibilite resolver os problemas anteriormente abordados. Isto é, não existe forma de reconhecer devidamente o treinador que se dedica a um projecto desportivo juvenil e, parece ser igualmente inexistente qualquer medida que afira objectivamente a qualidade de um treinador de jovens ou de um de um clube que com regularidade consegue colocar atletas no patamar do alto rendimento. Enquanto o contexto desportivo juvenil não for alterado, todas as posições e filosofias serão válidas e continuaremos a encontrar nos "títulos", clubes campeões de "Iniciados e Juvenis" indicadores de referência para o sucesso desportivo. Evidentemente que um jovem recordará para sempre o título que ganhou ou o clube que representou, mas caros leitores, pensemos enquanto agentes responsáveis pela formação desportiva destes jovens: estaremos nós cientes de que é este o caminho para formar um adulto vencedor e competitivo, pronto para as exigências da sociedade? Estaremos nós a formar o sénior que o nosso basquetebol precisa, possuidor de "ferramentas" técnico-tácticas que lhe permitam ser útil ao mais alto nível?