Em Setembro de 2006 fui ao Brasil para uma reunião de família dos descendentes de Philipe Peter Hees que chegou em 1848 com quatro anos ao Brasil.
A emigração europeia e não apenas a portuguesa é um fenómeno muito antigo. Nesse ano a “estrela” dos descendentes Hees era o Bernardo Hees, pois tinha sido considerado nesse ano o gestor do ano no Brasil e era como tal capa de revistas e era chamado para dar muitas palestras entrevistas e conferências. Quando cheguei ao Brasil o Bruno Hees tinha acabado de dar uma conferência na Universidade Católica do Rio de Janeiro e era um dos temas de conversa entre os familiares. A sua conferência assentava em três ideias do que possibilitavam, em sua opinião, uma boa gestão.
Saber ouvir as bases, reconhecimento do mérito e ética. Estes três conceitos eram ilustrados com a seguinte vivência pessoal. Quando o Bernardo Hees passou a gestor das linhas férreas de longo percurso, que no Brasil apenas transportam mercadorias, resolveu viajar nos comboios e falar com toda a gente envolvida e ouvir, o que quem estava no terreno, pensava. Uma das suas perguntas era questionar as pessoas sobre o que estas achavam que poderia ser feito para melhorar a empresa. Das muitas respostas que ouviu houve uma que chamou a sua atenção. Durante um percurso que fez ao lado de um maquinista colocou-lhe a questão de sugestões para melhorar a empresa. Esse maquinista já trabalhava há mais de vinte anos na companhia respondeu-lhe que na sua opinião as novas locomotivas adquiridas, mesmo levando em consideração o estado das linhas, aguentavam seguramente mais duas carruagens carregadas. Ouvida esta opinião consultou os engenheiros, que lhe confirmaram a viabilidade da sugestão do maquinista e a medida com evidentes aumentos de produtividade foi implementada.
Em função desta informação o Bernardo Hees propôs que o maquinista fosse aumentado e recebesse como reconhecimento da sua informação um carro novo em folha. Os administradores da empresa puseram inicialmente esta sugestão em causa, dizendo que o maquinista não sabia os lucros que esta medida representava. A resposta do Bruno Hees foi que o maquinista poderia não saber, mas ele como gestor sabia e por uma questão ética teria de reconhecer tão preciosa informação. É importante saber ouvir opiniões, mas saber ouvir o pulsar da modalidade, não é limitarmo-nos a ouvir “opinion-makers”. É saber ouvir o jovem praticante Tiago Mendes Dias de Gouveia, é saber ouvir o Tiago Silva, jovem que ainda não tirou o curso de treinador, mas que tem feito o excelente trabalho nos Estrelas Brigantinas, é ouvir os pais das crianças, que muitas vezes são os dirigentes dos clubes, é ouvir muita gente anónima e saber filtrar e seleccionar as suas sugestões e opiniões, é reconhecimento e sobretudo, ética.
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Um abraço do
Armando Simões