São muitas as referências à participação positiva ou menos positiva dos Pais na prática desportiva dos seus educandos. Inclusive, num ano em que o Governo fomentou um Plano Nacional de Ética no Desporto,
foram recentemente divulgados através das Federações Desportivas desdobráveis alusivos aos comportamentos, desejáveis e não desejáveis, dos Pais, numa perspetiva de erradicar a violência no Desporto. Sendo uma iniciativa louvável, não deixa de ser curioso o facto, de na mesma, podermos ver contidos muitos dos conteúdos que foram fomentados numa outra iniciativa que, infelizmente não dispôs de meios para continuar – Um Pódio Para Todos.
Tudo isto significa e reforça a importância que os agentes desportivos atribuem ao papel dos Pais no processo de formação desportivo dos jovens. Poderei até dizer que, se não pode haver desporto em Portugal sem atletas, o mesmo se poderá dizer, actualmente, relativamente aos Pais. Certo é que no contexto de clube a participação dos Pais não é equitativa, isto é, os Pais não participam da mesma maneira. Certo é também, que nem todos os Pais expressam e participam da forma mais desejável, nomeadamente através dos seus comportamentos em competição. Mas é importante afirmar que a grande a maioria dos clubes desportivos têm nos Pais um apoio inexcedível. Desde o pagamento da mensalidade respeitante à prática dos seus filhos, ao apoio nos transportes, ao envolvimento mais formal incorporando os órgãos directivos do clube, é notório que o desporto infanto-juvenil beneficiou imenso com este envolvimento “paternal” e, os próprios pais encontraram, nalguns casos, uma via para conhecerem o fenómeno desportivo, ou, no caso de ex-praticantes, continuarem ligados á modalidade.
Mas será que o Desporto tem dado ao Pai/Mãe um enquadramento adequado para a sua integração no fenómeno desportivo? Eu creio que em muitos contextos têm sido feitas muitas iniciativas positivas nesse sentido. A título de exemplo, recentemente participei, enquanto treinador, no Torneio de Seleções Distritais organizado em Ponte de Lima, correspondendo ao gentil convite da AB de Viana do Castelo. Neste torneio foi possível verificar que uma das duplas de arbitragem era constituída por Pai e Filho. Algo notável! Sem querer ser impreciso no meu relato, é deveras gratificante verificar que o acompanhamento do Pai à prática do seu filho veio a possibilitar que ambos mantivessem o seu vínculo à modalidade. O Pai, sem passado na modalidade, fidelizou-se encontrando na arbitragem uma via nesse sentido; o filho, eventualmente abdicando de ser praticante, continuou ligado à arbitragem. Uma cumplicidade feliz.
O mesmo se passa quanto ao percurso de treinador, havendo certamente Pais que, ou pelo seu passado na modalidade ou decorrente do envolvimento e acompanhamento da prática dos seus filhos, frequentaram cursos de treinadores e ligaram-se à modalidade devidamente creditados e habilitados para exercerem outras funções.
Porém, não parece haver a mesma via habilitadora no que respeita à função de enquadramento humano, seccionista ou dirigente. O nosso sistema desportivo carece de uma via creditada que possibilite uma formação inicial a este nível, apesar de muitas iniciativas de âmbito associativo e de clube para dirigir formação contínua, pontual, aos Pais. Muitas destas iniciativas possibilitaram sensibilizar para comportamentos desejáveis e condutas assentes em princípios de bom espírito desportivo e fair-play.
Apesar de, há uns artigos atrás ter, de certa forma, terminado a abordagem ao conceito de nos Alinharmos, parece evidente e inevitável que, qualquer temática associada ao desenvolvimento do Basquetebol, nos remeta para essa ideia. Também ao nível dos Pais é importante existir um alinhamento positivo. É importante que, de uma forma responsável, pedagógica e mobilizadora possamos transformar ideias feitas relativamente à importância do desporto dos jovens. Se frases como, “Vocês (clube) deveriam é agradecer pelo facto do meu filho vir treinar e jogar neste clube” podem criar algumas angústias, outras como “ agradeço-lhe imenso por tudo aquilo que vocês (Treinadores e clube) fizeram pelo meu filho” podem aumentar a motivação para que muitos outros Pais, Treinadores e Dirigentes sintam que é gratificante participar activamente na prática desportiva onde os seus filhos se inserem.
As mais-valias que muitos Pais trazem ao Desporto Infanto-juvenil justifica mais do que nunca que a sua integração seja cada vez mais organizada, apoiada institucionalmente, creditada com formação contínua e reconhecida em momentos oportunos. O contexto escolar, nomeadamente através de um desporto escolar que possibilite revitalizar o desporto juvenil, poderá ser um dos meios para que a participação dos Pais, associativamente, legitime iniciativas que legitimem, reforcem e reconheçam o seu papel determinante na formação desportiva das crianças e jovens.
O Desporto precisa de uma nova cara, consciencializando a sociedade do seu real valor educativo, da importância da competição através da cooperação e participação. Os Pais serão um forte aliado nesta transformação. Assim saiba o Sistema Desportivo acolher o que de mais positivo nos têm dado os Pais dos nossos atletas. A todos eles um agradecimento especial. Particularmente ao meu Pai um agradecimento especial pois sem a sua colaboração em determinados momentos a nossa equipa nunca teria conseguido jogar ao nível que jogou.
Comentários
A atualidade
Ainda não conseguimos fazer esse levantamento, mas é uma das tarefas que está agendada pelo CNMB. Para compreendermos a realidade dos nossos dias será importante possuirmos dados concretos sobre quem são os nos nossos dias o dirigentes dos clubes. Quanto tempo ficam nas direções dos clubes e quantos tiveram no minibásquete a sua porta de entrada no dirigismo.
Não tenho dados mas a realidade é certamente diferente do final dos anos 70.
Mais uma vez parabéns por mais este excelente artigo que merece dois apontamentos
Apontamento 1
O passado
Comecei a minha atividade como treinador e único responsável por uma equipa na época de 1976/77 com os Iniciados do CIF. Ainda sei de cor o nome de todos os elementos dessa equipa. Os anos em que treinei essa equipa nunca tive um contacto que fosse com os pais desses jovens, Não me lembro de alguma vez ter visto na bancada algum dos encarregados de educação desses jovens,
Os tempos e as realidades sociais são decididamente outras. +