Na sua recente visita ao Algarve, desta feita a 15ª das já realizadas pelo país, no sentido de se abordarem as linhas de orientação da Direcção Técnica/Equipa Técnica Nacional para o quadriénio 2014/2018,

com o objectivo de se encontrarem as formas mais eficazes de as operacionalizar "no terreno", Mário Gomes, DTN, prometeu duas coisas; apenas duas, porque, disse-o : "vivemos um momento em que, quando muito se promete, pouco se cumpre".

E apenas duas coisas, porque são as que só dependem dele e que as pode controlar, adiantando à partida que "agradece que me apontem se me desviar da linha de rumo":

•  "não deixar cair as coisas em saco roto";
• "fazer o meu trabalho com honestidade intelectual".

Estamos em crer que, face ao desafio lançado pelo DTN : "só encontramos algum caminho com uma base de compromisso", a presença de mais de duas dezenas de treinadores, representando a maioria dos clubes algarvios, diz bem do interesse que a visita despertou, traduzido no colocar de algumas questões relacionadas com algumas dificuldades, nomeadamente face ao desequilíbrio dos quadros competitivos, em nítido prejuízo para as equipas algarvias; da diferença de tratamento no que respeita à utilização de determinados pavilhões, para a realização de provas nacionais; dos dois pesos e duas medidas face à observância da qualificação dos treinadores para orientar determinados escalões etários e do quase inexistente acompanhamento e apoio à arbitragem regional, de que se repercute, como consequência, a qualidade do nível do jogo.

E a arbitragem não pode jamais constituir um mundo à parte, estilo a Federação, e o seu enquadramento humano e técnico, é uma coisa e a arbitragem é outra. Não, a arbitragem faz parte do órgão máximo da modalidade, integra-a em plenitude, porque só assim poderá haver um planeamento responsável, e responsabilizante. Porque não planear ou planear mal, corresponderá inevitavelmente a planear o... fracasso!

Se é bem verdade que as barreiras mentais são as mais difíceis de combater, a circunstância do DTN ter anunciado, como forma de estar, a necessidade de estabelecer uma cultura de trabalho assente na "franqueza" e não num clima de "cortar à faca", constitui como um acenar à importância de todos nos envolvermos e comprometermos para o desenvolvimento do basquetebol que, reconheçamos, atravessa um período particularmente difícil.

Mas, considerando que mais vale pouca coisa bem feita do que muita sem hipótese de concretização, por onde começar ? Aqui, apenas algumas questões concretas : "por exemplo, faz sentido no escalão de iniciados existir mais competição nacional do que regional ? "porquê só se começar a jogar nas competições oficiais ? "a concepção do que deverá ser o papel do director técnico regional" (que realmente não foi tendo estatuto ao longo do tempo). Se o propósito da Direcção Técnica Nacional é o do que não deve situar-se nos gabinetes e estar envolvida em papeis, mas antes interessada e empenhada em chegar ao treino e ao jogo, faz todo o sentido equacionar-se e resolver esta questão.

Reflexões que, de forma humilde - ao alcance de quem é responsável e competente, foram suscitadas nesta proveitosa reunião, tendo anunciado à partida que vinha : "basicamente para vos ouvir" e "à procura de ajuda". Colocadas na mesa as três linhas programáticas para a obtenção de uma intervenção estratégica, faseada no tempo :

•  "Alargar a base da modalidade, a sua massa crítica, o número de praticantes";
•  "Intervir nos factores de sustentabilidade da modalidade";
•  "Melhoria da qualidade do jogo".

Salientou ainda o DTN a imperiosa e urgente necessidade de "cuidarmos do que temos : Jogo - Jogadores- Treinadores".

Analisando a linha programática "melhoria da qualidade do jogo", porque a que mais directamente relacionada com a intervenção dos treinadores, e se considerarmos o importante papel que o treinador desempenha, em cada um dos clubes, em respeito pelo modelo de desenvolvimento do praticante e do consequente avanço da qualidade da prática, convictamente reputamos de indispensável o seu enquadramento por parte de um coordenador técnico, com reconhecida qualificação e competência.

Pela simples razão de que, se o jogador necessita de 9/10 anos para se formar, a quem compete estabelecer, acompanhar e optimizar o desenvolvimento dos conteúdos em cada um dos escalões etários? E quando pelo meio surge a «questão quente» das subidas de escalão, feitas com que critérios e objectivos? Cada treinador a puxar pelos seus interesses? Feitas a pensar na evolução do jogador? Como resolver, estilo «moeda ao ar»?

Vencida esta barreira, que terá as suas compreensíveis dificuldades económicas, no contributo decisivo a dar à evolução do praticante - sempre o elemento fundamental do jogo -, acreditamos que poderemos, então, dar um salto qualitativo na melhoria da qualidade técnica do jogo, evitando-se cavar ainda mais o fosso que nos separa de países com menor potencial que o nosso, particularmente no sector masculino.

Também só acreditamos ser possível, para que a modelização do nosso basquetebol resulte, se a mesma partir de uma consciência colectiva, sobretudo por parte dos treinadores. Razão pela qual, talvez importe nos interrogarmos : não resultará o actual estado de coisas de um certo imobilismo e de alguns privilégios instalados, que em nada e por nada constituiram um contributo para a modalidade?

O tempo urge, realmente. Será tempo para um tempo novo. Com um planeamento exigente e responsável, e responsabilizante, ajustado à nossas capacidades, fazendo o que tem de ser feito, invertendo algumas «rotinas» e algumas «tretas» que, por vezes, até poderão ter originado, por não se ter de prestar contas e em estilo «roda livre», defender-se «zomem» ou actuando com «ponta de lança», vitimando quem deveria acima de tudo ser salvaguardado. O Jogador!

Tempo para termos presente que ganhar e perder relacionam-se apenas com o resultado de uma competição, enquanto sucesso e fracasso não dependem disso.

Tempo ainda, porque a propósito, para recordar um milenar provérbio chinês : "podemos escolher o que semear, mas vamos certamente colher o que plantarmos".

O caminho da formação de treinadores tem vindo a desenvolver-se com grande esforço e capacidade mobilizadora, de forma sistemática, séria e empenhada por parte da ENB, aliado a algumas iniciativas de salientar por parte da renovada ANTB, que deverá ser prosseguido, naturalmente equacionando os fracos recursos disponíveis, responsabilizando, por isso mesmo, em sede própria os infractores ao esforço e bem comum.

Quanto mais não fosse por respeito para com a modalidade, que durante muito tempo foi referência - e que poderá voltar a sê-lo, com a tal consciência colectiva, derrubando as barreiras e todos o queiramos -. E grande referência, porque com grandes referenciados, de que  salientamos os mestres Teotónio Lima - paz à sua alma -, Jorge Araújo, Hermínio Barreto, Olímpio Coelho, Jorge Adelino Soares, só para lembrar os ícones, os "monstros" - porque carinhosamente reconhecidos.

Compreender e ser compreendido constitui a base das relações humanas. A compreensão gera confiança e aproxima as pessoas, facilitando a obtenção dos objectivos a alcançar.

"Um treinador é alguém que pode corrigir sem causar ressentimento", de John Wooden.

Se cada um de nós fizer a sua parte, o "trabalho de casa", o DTN, a representar a Equipa Técnica Nacional, não deixará de cumprir a missão anunciada, porque: Prometeu duas coisas.